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Em Pauta

Modernidade do futebol precisa começar no tratamento aos gramados

Mário Sérgio Lorenzetto | 22/09/2013 09:35
Modernidade do futebol precisa começar no tratamento aos gramados

Polêmica em campo...

Paul Britner, um dos mais importantes jogadores da Alemanha, além de polêmico nos campos, levou sua personalidade forte para fora dos gramados. Declaradamente socialista, era tido como maoísta (seguidor dos pensamentos de Mao-Tse-Tung). Após a aposentadoria, Breitner virou comentarista e propagandista de seu clube o Bayern Munique. Seus ensinamentos sobre como a Alemanha conseguira modernizar o futebol, ultrapassando a Inglaterra, Espanha e Itália, deveriam ser aprendidos pelos cartolas (péssimos) brasileiros.

Diz Britner que a modernidade deve começar pelos gramados. Ter a grama correta, com escoamento de água de chuva com canalização de ponta e manutenção constante e adequada é o ponta pé para um país pensar em futebol competitivo. Nada mais correto.

Modernidade do futebol precisa começar no tratamento aos gramados

Lá funciona...

O futebol deixou, há décadas, de admitir amadorismo e corrupção. No Brasil, a quase totalidade dos times está defasada e vive nos tempos áureos do compadrismo. Uma potência como o Palmeiras poderia estar novamente na segunda divisão? Por mais que me alegre como Corinthiano, isto é um descalabro inaceitável!

As dívidas dos clubes são monstruosas, impagáveis. Como a maior parcela dessas dívidas é para os cofres da União, ninguém viu e ninguém quer saber. Qual o presidente da República terá coragem de fechar as portas de um Flamengo, o clube que mais deve R$ 741 milhões?

Quê?

Os 24 maiores clubes apresentaram receita de R$ 3 bilhões em 2012, ante R$ 2,3 bilhões no ano anterior. As dívidas saltaram de R$ 4 bilhões em 2011, para R$ 4,7 bilhões em 2012. Ou seja, a dívida é maior que o faturamento. Como explicar tamanho desatino? Como pode o Corinthians ter mais de 120 lojas para comercializar centenas de produtos para nós fanáticos Corinthianos e o Flamengo ter pouco mais de dez? Administração eficiente contra amadorismo e corrupção é a principal resposta para a quase totalidade dos males que aflige o futebol brasileiro que ainda se sustenta com a venda de seus craques. Futebol de ponta compra craques e não os vende. Comparem as tabelas e perceberão quem tem administração compatível com a atualidade e quem está no lado do amadorismo.

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Trincheiras da globalização...

Ano de 1999. Cidade de Seattle (EUA). O evento era para ser tranquilo. Nada prenunciava a batalha campal que ocorreria. Polícia lançando centenas de tubos de gás lacrimogênio de um lado, do outro, uma grande quantidade de tijolos arremessados. A OMC (Organização Mundial do Comércio) esperava debates acalorados entre os integrantes: qual país compra mais, as proteções governamentais para ampliar as exportações e... repentinamente, viram tijolos voando sobre as cabeças. Essa foi a primeira grande batalha contra a globalização, termo pouco conhecido até aquele evento.

Mudança de armas e estratégia...

Após a conflagração em Seattle, os estudiosos de cada corrente política trocaram os tijolos e gás lacrimogêneo por livros, informes técnicos, blogs, vídeos e todas as mídias disponíveis. Dois pólos. Em uma trincheira se organizaram os empresários e governantes, defendendo veementemente a tese de que o livre comércio enriquece as sociedades, pressuposto de que os dois lados de um comércio não coagido saem ganhando. Quanto mais comércio, melhor, pensam os empresários e governantes. Qualquer coisa menos do que isso significaria privar as pessoas dos frutos da engenhosidade humana.

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Definição de lados...

Na outra trincheira se postaram ativistas ambientais, nacionalistas culturais e sindicalistas. Uma plêiade barulhenta. Entendem que o comércio desregulado traz em seu bojo arranjos políticos, sociais e ambientais geralmente destrutivos. Quanto menos comércio, melhor. É preciso proteger as comunidades locais das forças desencadeadas pela ganância multinacional. Este pensamento sintetizaria a união desses grupos opositores da globalização.

Com o passar do tempo, passei a desconfiar de que os dois podem estar corretos. Desde o início, a globalização trouxe enormes ganhos econômicos, mas também ampliou enormemente os tumultos ecológicos e sociais que existiam antes de seu advento. As evidentes perdas ambientais e sociais contrabalançam os ganhos econômicos.

A primeira estrela da globalização...

Muitos podem pensar que a globalização iniciou há poucos anos. Alguns acreditam que a batalha de Seattle (EUA) foi o dia primeiro da era da globalização. Estão enganados. Talvez pensem que as primeiras mercadorias globalizadas foram os automóveis ou a Coca-Cola. Também estão enganados. A globalização começou mesmo no território norte-americano, mas não em Seattle. Foi em Jamestown no Estado da Virginia. Também erraram quanto à época. A globalização começou no século XVII. Nos anos 1600. Há mais de 400 anos!

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Como começou?

Os ingleses implantaram uma colonização nas terras dominadas por um pequeno império indígena denominado Tsenacomoco que tinha como líder supremo Powhatan comandando mais de 14 mil pessoas. Powhatan não ficou famoso, mas sua filha Pocahontas atingiu o estrelato. Livros acadêmicos, infantis, história em quadrinho, jogos de vídeo game e até o cinema enaltecem e exageram a vida dessa princesinha indígena. Tão famoso quanto Pocahontas deveria ser seu marido inglês, John Rolfe, mas não o é. Apenas poucos estudiosos conhecem sua história, vital para a economia mundial.

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Vamos à história econômica, esqueçamos o mito...

Como muitos jovens ingleses astutos e impetuosos John Rolfe fumava – ou “bebia” – tabaco, como se dizia na época –, hábito existente desde que os espanhóis levaram o produto do Caribe para Jamestown (o tabaco não é originário do Caribe e sim das partes baixas da Amazônia). Voltemos a John Rolfe. Depois de ele chegar a Jamestown em 1610, convenceu um capitão de navio a trazer-lhe algumas sementes do tabaco de Trinidad e da Venezuela. Plantou e colheu. Seis anos depois, Rolfe retornou à Inglaterra com sua esposa Pocahontas e seu primeiro carregamento de tabaco. Exótico, tóxico, viciador e desdenhado pelas autoridades, o fumo se tornou uma mania aristocrática.

Londres contava com mais de 7 mil casas de tabaco no século XVII. Como a única fonte de tabaco fino fossem as colônias da odiada Espanha (que cerceava a produção) era difícil obter a erva na Inglaterra e obviamente era cara. Os carregamentos de tabaco de Jamestown resolveriam o problema.

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De condenado a aliado!

O Rei James I havia inicialmente condenado o fumo, mas acabou mudando de ideia. O monarca, eternamente sem dinheiro, descobriu que o tabaco podia ser tributado. Em 40 anos de produção, a Costa do tabaco, como ficou conhecida a região onde se situava Jamestown, exportava 25 milhões de libras por ano (os ingleses foram procurar o ouro e encontraram o tabaco). Cada agricultor chegava a ter lucros acima de 1.000% sobre o investimento inicial. Não paravam de chegar ingleses na Costa do tabaco. Criaram um Conselho para organizar o estouro econômico e demográfico. Este foi o primeiro corpo representativo nas Américas, implantado em agosto de 1619 – o primeiro passo rumo à democracia representativa. A mania do tabaco se disseminou até a França. Em pouco tempo, o fumo era encontrado em todos os rincões do mundo. Nas Filipinas, na China, na Austrália, na Finlândia, no Egito... O tabaco foi a primeira mercadoria globalizada. Para apuro e desconsolo d e muitos.

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O medo em ação...

A sociedade por ações ainda é incipiente no meio empresarial de Mato Grosso do Sul. Sim, este tipo de arranjo econômico onde um grupo de pessoas que dispõe de dinheiro para alocar um negócio que será administrado por outras pessoas, ainda gera muito receio no nosso pequeno estamento de endinheirados. E devem temer mesmo! A sociedade por ações exige muito estudo, discernimento e acompanhamento diário. Quem não tiver disposição para dedicar muito de seu tempo acompanhando o investimento, não deve entrar.

Sem ação não há dinheiro...

É inegável, todavia, o avanço que a sociedade por ações possibilita em uma região. Ou dito pelo revés – uma região sem sociedade por ações dificilmente enriquecerá. Essas sociedades nasceram na Inglaterra a partir de uma mentira, um mito, criado por Francis Drake, o mais famoso pirata inglês (que depois viraria nobre).

Drake esteve rapidamente nos EUA em uma data entre 1577 e 1580. Ao retornar à Inglaterra, afirmou que lá existiria um canal cortando o país de ponta a ponta e que a largura das terras dos EUA era pequena. Se verdade fosse, atravessar o território daquele país partindo do Atlântico até chegar ao Pacífico seria viável e fácil – pensavam em cortar caminho para chegar à China. Elizabeth e James, reis ingleses, não dispunham de recursos para investir nessa hipótese. Resolveram delegar a uma entidade que pudesse sustentá-la: uma sociedade por ações. Entendiam os membros da ancestral sociedade por ações, que ao trabalhar com outros investidores e a expedição fosse infrutífera, a perda total seria enorme, mas tolerável individualmente. Já no inverso, os lucros possíveis só poderiam ser razoáveis.

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Direito de propriedade...

Este tipo de arranjo, inovador, àquela época, assegurava direitos de propriedade – ninguém arriscaria investir se acreditasse que seus ganhos lhe pudessem ser subtraídos. A soma contava com mercados abertos – necessários para impedir que os interesses arraigados reprimissem as inovações – e um governo democrático forte. Este último para controlar possíveis excessos dos governantes. Sim, a sociedade por ações cumpriu, e ainda cumpre, triplo papel: econômico por excelência, social e político. Pesquisas e investimentos se tornaram rotineiros a partir do advento das sociedades por ações e atualmente comandam a imensa maioria das pesquisas no mundo.

Medo ainda é praticado!

Outros lugares não desenvolveram esse tipo de sociedade, Portugal e depois o Brasil dentre eles. O resultado dessa inovação foi um crescimento econômico sólido que levou à ascensão de alguns países europeus ao poder mundial. Apesar da crise mundial, e europeia em particular, e do crescimento econômico brasileiro – lastreado na fome chinesa por nossos grãos e minérios–, não se pode afirmar que a situação mudou totalmente, passados quatro séculos. Nossos poucos ricos continuam praticando o medo das sociedades por ações.

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