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Em Pauta

O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano

Mário Sérgio Lorenzetto | 25/10/2015 07:00
O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano

Segura, peão. O Brasil dos caubóis de rodeios.

Longe das atenções do Brasil litorâneo e das grandes cidades, as festas em que os peões competem para ver quem se equilibra com mais destreza sobre um touro ou um cavalo galvanizam as pequenas cidades do interior. Entre março e novembro, acontecem cerca de 1.800 rodeios em uma área que vai do Paraná a Rondônia e de Mato Grosso do Sul a Minas Gerais. Em muitas cidadezinhas, o rodeio, associado a alguma festa local, é o principal evento do ano. A capital desse Brasil de botas é a paulista Barretos. Bem posicionada para esse objetivo, próxima à divisa com Goiás e Minas Gerais, ela cumpre o papel de representante cultural de um Brasil profundo, quase desconhecido, mas orgulhoso da pecuária.

Os rodeios talvez tenham surgido por uso do transporte de boiadas das fazendas até os abatedouros, muitas vezes distantes. Montados a cavalo, os vaqueiros iam tocando o gado pela estradazinha e ao chegar ao destino se desafiavam uns aos outros. Mas ninguém sabe ao certo, os historiadores fazem cara feia para o tema. Berço do rodeio no Brasil e nos Estados Unidos, as cidades de Barretos e Austin, no Texas, têm em comum a concentração de grandes frigoríficos. Mas são festas diferentes. A dos gringos é exclusiva e a dos brasileiros é sempre acompanhada por outras formas de entretenimento, como o circo e a música, e nunca se separou deles.

Até os anos 80, a modalidade mais concorrida no Brasil era de montaria em cavalos. Desde então, por influência norte-americana, o rodeio em touros passou a ganhar espaço a tal ponto que hoje é quase a única categoria disputada nos maiores eventos. A montaria em touros é considerada mais radical. Há uma diferença brutal em montar um animal de 1 tonelada e outro com menos da metade.

O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano
O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano

A polêmica dos maus-tratos dos animais de rodeio.

Os caubóis nos rodeios são obrigados a trajar coletes, luvas e calças de couro - que cobrem apenas a parte da frente da perna e são colocadas por cima de calças jeans. Desde o reconhecimento oficial do esporte, em 2001, a espora cortante foi banida da atividade, sendo substituída por uma estrela de pontas arredondadas e de espessura grossa - que os peões não hesitam em passar no rosto, para provar que os animais de rodeio não sofrem maus-tratos.
Há ainda outro polêmico acessório - de responsabilidade do tropeiro, o dono do cavalo ou boi - presente em todas as modalidades de montaria. É o "sedém", uma cinta de lã é presa à virilha do animal. Críticos de rodeios e protetores dos direitos dos animais sustentam que essa faixa apertaria os testículos do boi ou do cavalo, provocando os saltos dos animais na arena de rodeio. A turma do rodeio alega que a cinta passa longe dos testículos, e argumentam que nenhum animal pularia com eles atados. Apesar da dúvida ser persistente, eles insistem em explicar que o sedém é uma ferramenta de condicionamento: assim como um cão sabe que é hora de passear ao receber a coleira, o touro reconheceria o momento de pular quando lhe põem a cinta.

O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano
O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano

"Nós contra eles". De frente para o mar, de costas para o outro Brasil.

A polêmica é muito antiga: existiriam dois Brasis - o litorâneo e das grandes cidades e o interiorano da pecuária. Foi acirrada com o falecimento do cantor Cristiano Araújo e das gafes de jornalistas e artistas da rede Globo que ainda estão na memória de todos. Para uma parcela expressiva dos interioranos, por exemplo, toda a área do Cerrado e da Amazônia poderia ser convertida em pasto. O argumento está pronto: os "cariocas" (brasileiros do litoral em geral) só comem orgânicos - seria uma opção bonita, mas inviável para o país. Quase sempre rodeios e shows constituem o entretenimento noturno de feiras pecuárias. O leilão de gado é o objetivo principal. Neles, sempre deve aparecer o nome dos pecuaristas, dos patrocinadores do evento e dos políticos.

Economia e política, regados a rodeios e muito uísque. Afinal uísque é a bebida dos "amigos" do Texas, o espelho do rodeio brasileiro em que todos querem se ver. Ao contrário daquela "turma carioca", que todos desejam criticar.
Para eles, a questão principal do combate ao rodeio é o preconceito social. Esse não é um esporte de elite, como o turfe e o hipismo, que exigem do animal muito mais do que se exige do boi de rodeio em termos de preparação e treinamento. Hipismo, turfe, polo são esportes de elite. Não recebem uma só crítica. Rodeio é de pobre, por isso é tão criticado, de acordo com a visão crítica do caubói brasileiro. Para eles, há dois mundos esportivos antagônicos - o dos surfistas do litoral e o dos rodeios interioranos.

O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano
O Brasil dos caubóis de rodeios. Acontecem cerca de 1800 rodeios por ano

João Ricardo Vieira, de Nova Andradina é o melhor peão de rodeio do mundo.

A principal associação de rodeio é a Professional Bull Riders (PBR) - exclusivamente dedicada à montaria de touros. Se o rodeio já fazia sucesso e inspirava respeito nos EUA, a PBR conferiu à atividade uma roupagem profissional associada à de outros esportes radicais, como o surfe. João Ricardo Vieira, peão de Nova Andradina, é hoje o melhor caubói do planeta, no topo da pontuação da PBR mundial. Em 2013, a revista Forbes apontou a montaria em touros como o esporte que mais crescia nos Estados Unidos. Um dos peões brasileiros que concorria em rodeios nos EUA, Adriano Moraes, embolsou cerca de US$ 3 milhões.

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