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Em Pauta

Países que eram ricos e ficaram pobres

Mário Sérgio Lorenzetto | 04/06/2018 09:00
Países que eram ricos e ficaram pobres

A conjuntura econômica de uma nação pode mudar radicalmente no decurso de centenas de anos ou em apenas dois anos. Muitos países que já foram considerados potências, atravessam hoje período de extrema carência. A contratação de empréstimos exacerbados, gastos supérfluos, investimentos errados, conflitos internos e, principalmente, guerras, acabaram por comprometer o futuro de nações que reuniam todas as condições para competir economicamente com todos os demais.

Países que eram ricos e ficaram pobres

Turquia.

A Turquia está longe de ser um dos países mais pobres do mundo. Tal como o Brasil, é classificado como emergente. Sua renda per-capita está na média mundial, mas é inferior à maioria dos europeus. Mas nem sempre foi assim.
No século XVI, durante o Império Otomano, de onde a Turquia surgiu, detinha um PIB equivalente à soma de 60% dos países europeus. Era um esplendor. Uma riqueza inimaginável. O maior império do mundo entre os anos de 1520 a 1566. Foram 46 anos de pujança. As guerras destruíram o império.

Países que eram ricos e ficaram pobres

Índia.

Nos últimos anos, a Índia vem registrando melhoras exemplares em sua economia. Mas a verdade é que centenas de milhões de indianos ainda vivem abaixo da linha de pobreza. Mas nem sempre foi assim.
O Império Mugal, fundado em 1526, se estendia por todo o continente asiático. A Índia chegou a ultrapassar a China, tornando-se a maior potência mundial. Tinha em seu território nada menos de 25% de toda a riqueza do mundo.

Países que eram ricos e ficaram pobres

Cuba.

Décadas de bloqueios de sua economia e de despesas exageradas, além da perda do dinheiro soviético, empobreceram o território cubano. O governo luta para providenciar até mesmo o transporte para seus habitantes. Mas nem sempre foi assim.
Até meados dos anos 1950, o país tinha uma indústria turística e de açúcar muito forte. Ostentava um dos maiores PIBs da América Latina. Á partir de meados dos anos 50, Batista instalou uma ditadura que promoveu uma imensa desigualdade na distribuição dessa riqueza. A miséria instalada em um país rico foi o "caldo de cultura" para a nova ditadura dos barbudos de Fidel. De ditadura em ditadura, o país esfacelou-se.

Países que eram ricos e ficaram pobres

Iraque.

Entre 1960 e 1970 o Iraque era um país em forte expansão econômica. Haviam abundantes reservas de petróleo e de gás que o enriqueciam enormemente. Durante a crise do petróleo de 1973, foi o Iraque o país a construir as maiores reservas de dólares do mundo. Com isso, passou a dispor de estruturas avançadas de serviços sociais e assistência médica.
Mas em 1980, quando Saddam Hussein assumiu o poder, o país foi arrastado para uma guerra devastadora com o Irão vizinho. Não satisfeito, Saddam viu os EUA invadirem seu território logo a seguir. Seus habitantes vivem na miséria.

Países que eram ricos e ficaram pobres

Venezuela.

Nos últimos anos a Venezuela passou de ter a economia mais saudável da América do Sul, para uma das mais carentes. Em 2017, a economia tinha decrescido 35% em comparação com 2013. Era o mesmo caminho que seguíamos há pouco no Brasil. Bastaram dois governantes incompetentes e agressivos para que a rica Venezuela recorresse a mais empréstimos que os Estados Unidos durante a Depressão de 1929 - um marco na história da economia. A estatização de quase tudo, os rígidos controles sobre os preços e a queda dos preços do petróleo, levaram a Venezuela à escassez crônica de alimentos e de medicamentos.

Países que eram ricos e ficaram pobres

Os homens e as emoções na história. Lula, operário martirizado desnecessariamente.

É possível que a economia seja a causa principal dos acontecimentos históricos. Muitos historiadores se incomodam com o papel de indivíduos e das emoções nos eventos históricos mais importantes, mas não há como negar sua importância. Haveria uma guerra se à frente da Alemanha estivesse um político de centro, no lugar de Hitler? Haveria uma guerra no Oceano Pacífico se os militares japoneses não tivessem sido acometidos de um medo transcendental do poderio econômico e bélico dos Estados Unidos? Como explicar que eles declaram uma guerra que sabiam da derrota certa? O medo, o orgulho ou a ira são emoções que criam atitudes e decisões, tanto ou talvez mais que o cálculo racional.
E isso nos leva a perguntas do tipo "E se...". E se Hitler tivesse sido morto em uma trincheira na Primeira Guerra? E se Winston Churchill tivesse morrido quando um carro o atropelou na Quinta Avenida de N.York, em 1931? E se Stalin tivesse morrido na grave operação de apendicite que sofreu em 1921?
Podemos imaginar o que teria ocorrido se os militares não tivessem invadido as casas dos sindicalistas do ABC no dia 19 de abril de 1980? Era madrugada. Os militares vigiavam aqueles que chamavam de "agitadores" há pelo menos três anos. Integrantes da corporação, disfarçados, compareciam a bares, acompanhavam eventos públicos e até alugaram uma pensão nas imediações da sede do sindicato. No dia da operação, entre 5h e 7h, a Polícia do Exército invadiu a residência de 15 líderes sindicais do Grande ABC, enquadrando-os na Lei de Segurança Nacional. Lula ficou 31 dias em cárcere do DEOPS, assim como a maioria dos envolvidos.
Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, Lula afirmou que os militares devem ter se arrependido pela prisão em um momento que a greve dos metalúrgicos do ABC definhava, estava prestes a ser derrotada."A minha prisão politizou o movimento". E martirizou um líder de importância secundária.

Países que eram ricos e ficaram pobres

Lula apanhado na armadilha e libertado pela burrice da Ford. "Eu não sirvo para politico".

O início das greves do ABC foram de manual. Pelo manual do patronato, tratava-se de esperar que a Justiça do Trabalho declarasse ilegal a greve que tivera início na Scania para que as coisas voltassem ao normal. A surpresa veio logo a seguir: pararam mais 7 mil operários da Ford. Na Scania, três dias antes da greve houvera um principio de articulação na ferramentaria. Na Ford, nem isso. Ao fim do dia pararam também ferramenteiros da Volkswagen. Na manhã seguinte, representantes de patrões e empregados reuniram-se na Delegacia Regional do Trabalho. Havia mais de 10 mil trabalhadores parados. Nessa reunião falaram-se línguas diferentes, ninguém se entendeu. Mas tudo parecia correr bem.
Pela lembrança do governador de São Paulo, Paulo Egydio, nenhum empresário lhe pediu que pusesse a polícia em cena. O comandante do II Exército, general Dilermando Gomes Monteiro, informou: "Ainda não encontrei ambiente suscetível de causar preocupações".
A Scania decidiu negociar. A empresa informara ao SNI que a "a greve é superorganizada, sem violência". Chegou-se a uma acordo verbal: 20% de aumento para quem ganhava até 10 salários mínimos, remuneração igual para quem fizesse o mesmo serviço e pagamento dos dias parados. Lula levou a proposta, que rachava o movimento, a uma assembleia realizada dentro da fábrica e a greve acabou. Lula caíra em uma armadilha. Mas dela sairia pela burrice da Ford.
Liderado pela Ford, os patrões fecharam-se em copas. Seus sindicatos não aceitaram as negociações da Scania. Obrigaram a retirar as propostas. A greve foi declarada ilegal e entrou em ação a censura das emissoras de rádio e televisão. Que foi furada pelo programa Vox Populi, da TV Cultura, do governo de São Paulo. O que se viu na telinha foi um Lula brando e só vestido do macacão de sindicalista: "Você tem alguma pretensão política?", perguntou o jornalista. "A única coisa que aprendi a fazer na minha vida foi ser torneiro mecânico e estou tentando aprender a ser um bom dirigente sindical. Eu não sirvo para político". Era um Lula fraco. Estava bem perto de jogar a toalha.
Vendo-se enganados com o recuo da Scania, os trabalhadores tentaram recomeçar a greve, mas a empresa isolou seções colocando tapumes, proibiu a comunicação durante o serviço, calou os ramais telefônicos e postou guardas nos corredores e banheiros. A fábrica voltou a trabalhar sem ceder um centavo. Do ponto de vista dos patrões, a batalha estava ganha. Lula seria mais um dirigente sindical desmoralizado. Os trabalhadores acreditavam piamente que Lula era um traidor. Mas algum militar resolveu prender os sindicalistas. A greve retornou com toda a força. Em pouco tempo mais de 100 mil trabalhadores em 55 empresas estavam parados. Era a maior greve já ocorrida no país. E prenderam o Lula novamente. Lula é um ator. Não há papel que lhe caia tão bem como o de mártir.

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