Uma viagem ao submundo do café para explicar o preço absurdo
Nos três últimos anos, o preço do café explodiu no mundo. Os plantadores de café brasileiro passaram a frequentar cardiologistas mais frequentemente. Contam que quase todos passaram pela experiência de vender bem sua safra para ver no dia seguinte um aumento alucinante de até o triplo no preço de venda. A instabilidade dos preços tornou-se a marca registrada para eles. A pauta de explicações para esse fenômeno é muito grande.
O clima desfavorável.
Algumas características permanecem imutáveis no mundo do café. Quem dele desfruta não o troca por nada. E quem o cultiva vive, desde há séculos, submetido às inclemências do tempo. Mas nos últimos anos, as mudanças climáticas trouxeram perigos reais. E isso levou ao pior estoque mundial desse grão de todos os tempos. Ondas de calor, secas e geadas cada vez mais frequentes, levaram a muitos beberem menos e de pior qualidade. A plantação de café deve ser feita entre 900 e 1.100 metros de altitude, temperatura média de 23 graus e uns 1.200 milímetros de chuva anual. Temperatura e chuva tornaram-se imprevisíveis.
Preços malucos.
Além da selvageria de Trump com sua taxação do café, os preços na Bolsa de N.York já eram imprevisíveis. A cotação em 2025 bateu recorde ao chegar a 445 dólares por uma saca de 60 quilos, o dobro do ano passado. Logo moderou e caiu para 390 dólares, mas o ambiente entre os cafeicultores não é de euforia. Os preços atuais são preocupantes. “Preferíamos não termos perdido 40% da colheita [devido à seca] e que os preços não estivessem tão altos. Melhor ter um mercado estável com a saca a 340 dólares a não ter café para vender”, diz um deles. Tradicionalmente, o café tinha uma boa colheita em um ano e uma má no ano seguinte. Com três anos de clima caótico, ninguém sabe mais o que acontecerá.
Chinês bebedor de café e especulação.
Na China, onde o chá era imbatível, descobriam o café e isso aumentou a demanda. A China já é o sexto bebedor de café do planeta. No outro lado do mundo, em N.York, os especuladores da bolsa migraram de investimentos clássicos, como o ouro e o petróleo, para apostarem no café. Tradicionalmente, a bolsa é um reflexo da oferta e da demanda, no caso do café não é nada disso. É uma aposta sem justificativa técnica. Um tipo de roleta que grandes capitalistas resolvem jogar.
Nas mãos de dois gigantes.
Ainda que pareça que há muita gente ganhando com os preços exorbitantes do café, esse negocio segue estando nas mãos de dois gigantes: Nestlé (Nescafé e Nespresso), que controla quase 30% do mercado; e JDE (Jacob Douwe Egberts) com quase 10%. São eles que governam, em última instância, os preços mundiais do café.
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