Com carro e celular, entregas para Shopee e afins é "nova Uber" da renda extra
Boom do e-commerce empurra trabalhadores para o asfalto e casal faz até 99 entregas por dia
O carro é uma Saveiro com capota de fibra. O escritório, o asfalto. O aplicativo dita a rota, mas quem segura o volante — e a planilha de despesas — é Heriko Hata, 38 anos, ao lado da companheira Adrielly Sabino, de 32. Juntos há um ano, os dois formam um dos muitos campo-grandenses que entraram no ramo das entregas como forma de reorganizar a economia doméstica em tempos de incerteza e alta do custo de vida.
RESUMO
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Um casal de Campo Grande encontrou nas entregas por aplicativo uma forma de reorganizar a vida financeira. Heriko Hata, 38 anos, e Adrielly Sabino, 32, trabalham juntos há um ano, realizando entre 50 e 99 entregas diárias com uma Saveiro, atendendo a plataformas como Shopee e Mercado Livre. A diária do casal varia entre R$ 250 e R$ 400, exigindo ao menos 10 dias de trabalho por quinzena. Apesar dos desafios como ruas mal sinalizadas e condições climáticas adversas, eles planejam expandir o negócio com a aquisição de outro veículo, demonstrando como o setor de entregas se tornou uma alternativa viável para reorganização financeira.
Foi no início de 2025, após o cancelamento de pacotes turísticos com grupos japoneses no Estado, que Heriko deixou de lado o trabalho como tradutor para se arriscar nas ruas. Já Adrielly, que havia acabado de abrir um espaço de estética após sair de uma transportadora, viu o negócio patinar por falta de capital e clientela. A solução? Unir forças sobre quatro rodas.
“O plano era só uma renda extra”, conta ele. “Mas a demanda cresceu, as plataformas aumentaram e a gente viu que dava para viver disso. Só precisa organização.”
50 a 99 paradas por dia - Com um celular na mão e o MEI regularizado, exigência para entrar nesse mercado, o casal hoje roda Campo Grande e até cidades do interior fazendo entre 50 e 99 paradas por dia. Carregam pacotes de e-commerces como Shopee, Mercado Livre e outros, sem saber com antecedência para onde vão.
“Às vezes é Centro, às vezes é bairro, às vezes é Ribas ou Sidrolândia. A gente só descobre na hora do carregamento, por volta das 6h”, explica Heriko.
A diária bruta varia entre R$ 250 e R$ 400. Para compensar, é preciso trabalhar pelo menos 10 dias na quinzena, segundo cálculo próprio. E sempre de olho no terror da categoria: o preço dos combustíveis.
“Virou obsessão nossa. Abastecer bem, evitar gasto desnecessário, cuidar do carro. É nosso instrumento de trabalho, nosso ‘cavalo’, como a gente chama.”
Realidade compartilhada - Eles não estão sozinhos. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que, em Mato Grosso do Sul, mais de 28 mil pessoas atuavam como motoentregadores já em 2021. O número cresceu desde então, impulsionado por plataformas digitais que permitem formalização rápida e promessa de autonomia e ampliação para outros veículos, como os de quatro rodas.
O IBGE aponta que 77% desses trabalhadores atuam por conta própria e mais de 70% estão na informalidade. Em Campo Grande, segundo o portal Salario.com.br, o rendimento médio formal é de R$ 1.934,94.
“Você vira seu patrão, mas também vira contador, mecânico, logístico. Tudo ao mesmo tempo”, brinca Heriko.
Desafios de quem vive na rua - A vida no asfalto cobra seu preço. O casal cita problemas como ruas sem sinalização, casas sem número, clientes que não atendem o celular e dias de chuva sem cobertura. Um episódio marcante foi quando ficaram atolados ao lado da BR e foram resgatados por um trator de uma indústria de concreto. “O motorista nem quis aceitar gorjeta. Ainda tem gente que ajuda sem pedir nada”, lembra ele.
Mesmo com perrengues, os planos são de crescimento. Querem comprar outro veículo e expandir a operação. “É uma forma de trabalho que exige esforço, mas também dá retorno. Para quem está desempregado ou precisa complementar a renda, pode ser uma virada”, avalia Heriko.
Para eles, planejamento, adaptação, controle de gastos e reinvenção profissional formam o pacote que sustenta a casa — e inspira outras famílias a repensar suas formas de ganhar dinheiro. “O importante é estar disposto a correr atrás. Com o carro e o celular, a gente achou uma saída.”
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