Com veto ao canudo, ordem é desovar o estoque em distribuidoras da Capital
Distribuidoras e indústria em Mato Grosso do Sul já avaliam prazo de validade do canudo descartável e mudanças no mercado estadual

O inimigo ambiental da vez mede cerca de 20 centímetros e pesa míseros dois gramas. Em quantidade maciça, tornou-se ícone de guerra mundial que atingiu Mato Grosso do Sul. A proibição da distribuição de canudos plásticos não chega a causar estrago nas finanças de distribuidoras e na indústria do Estado, mas é avaliado como “a ponta do iceberg” que vai exigir mudanças no setor e no comportamento da população.
A “onda” contra o canudo começou em 2018, com proibição de distribuição no Rio de Janeiro e ganhou força em diversas outras cidades e estados do País. Em MS, somente Corumbá havia aderido, com proibição em vigor desde maio. Em Campo Grande, proposta semelhante foi vetada pelos vereadores no início de junho deste ano.
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Mas, no dia 27 de junho, por 14 votos a três, a Assembleia Legislativa aprovou o projeto que proíbe a entrega de canudos plásticos em restaurantes, bares, hotéis, padarias, conveniências e clubes de Mato Grosso do Sul.
O projeto ainda depende da sanção do governo do Estado para tornar-se lei. A partir daí, as empresas terão um ano para adequação, mas já acendeu sinal de alerta em várias distribuidoras em Campo Grande.
“Vou desovar o estoque, ainda deve durar uns seis, sete meses”, disse o proprietário da Primordial Embalagens, Paulo Matos. Depois, deve passar a comprar o canudo biodegradável, embora esteja ciente de que o preço chega a ser três a quatro vezes mais caro que o descartável. A unidade do mais comum custa, em média, R$ 2,20, enquanto o biodegradável, R$ 4 a R$ 5. “Vai ser uma consequência, quando tiver demanda, cai o preço do produto”, avaliou.
A perda dessas vendas não chega a causar grande impacto, já que representa apenas 2% do faturamento do empresário, mas, segundo ele, reconhece que, futuramente, deve significar mudança no mercado.
“Eu acredito que é a ponta do iceberg, vão proibir copo, garfinho, saco para lixo; o descartável de plástico vai ser banido”, profetizou Márcio Caixeta, proprietário da Sobrado Embalagens, empresa com sede em Terenos que atende a Capital e municípios da região. Para ele, a venda de canudos representa de 10% a 20% do total, fazendo parte de combo que o cliente costuma levar, que inclui copos e pratos descartáveis.
Na avaliação dele, essa proibição irá afetar o consumidor na ponta. “Pense na pessoa que vende salgadinho, suco, isso muda muito a margem de lucro”, disse, levando em conta a diferença de preço. A caixa com 3 mil unidades do canudo de plástico custa R$ 50, enquanto que a do biodegradável, R$ 70. Márcio disse que o problema não é o produto em si, mas a falta de conscientização das pessoas, que não fazem o descarte corretamente.
A gerente de balcão da JMoreira Embalagens, Valci Almeida Lobato, também tem visão cética sobre o mercado. No início do ano, a empresa comprou pacote de canudo biodegradável que permanece no mesmo lugar, no depósito. Segundo ela, haverá levantamento entre os clientes para averiguar se vale a pena renovar ou não o estoque de descartáveis.
Resistência – além das distribuidoras, a nova lei também irá afetar em indústria pioneira no Estado, a Brasil Convertedora de Papel/Papel Brasil Embalagens. Os canudinhos fazem parte de mix de produtos oferecidos, como copos e pratos e representam 5% do faturamento.

O proprietário, Vergílio Dorneles, disse que irá continuar produzindo o canudo enquanto for amparado pela legislação. Ele lamenta o veto em MS, já que está finalizando investimento de R$ 5 milhões na compra de maquinário. “O plástico é uma grande fonte de riquezas, emprego, utilidade e de tributos, é poluente sim, mas, o que falta é educação para o descarte; proibir o plástico seria como matar a vaca para exterminar o carrapato”.
Mas, se não houver veto por parte do governo, o jeito é se adaptar aos novos tempos, afirma o empresário. “Na eventualidade da proibição, vamos migrar para o canudo de papel, desistir, nunca”.