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Economia

Com veto ao canudo, ordem é desovar o estoque em distribuidoras da Capital

Distribuidoras e indústria em Mato Grosso do Sul já avaliam prazo de validade do canudo descartável e mudanças no mercado estadual

Silvia Frias | 07/07/2019 07:23
Canudos plásticos são produzidos em Campo Grande, desde a formatação do plástico até a distribuição. (Foto: Henrique Kawaminami)
Canudos plásticos são produzidos em Campo Grande, desde a formatação do plástico até a distribuição. (Foto: Henrique Kawaminami)

O inimigo ambiental da vez mede cerca de 20 centímetros e pesa míseros dois gramas. Em quantidade maciça, tornou-se ícone de guerra mundial que atingiu Mato Grosso do Sul. A proibição da distribuição de canudos plásticos não chega a causar estrago nas finanças de distribuidoras e na indústria do Estado, mas é avaliado como “a ponta do iceberg” que vai exigir mudanças no setor e no comportamento da população.

A “onda” contra o canudo começou em 2018, com proibição de distribuição no Rio de Janeiro e ganhou força em diversas outras cidades e estados do País. Em MS, somente Corumbá havia aderido, com proibição em vigor desde maio. Em Campo Grande, proposta semelhante foi vetada pelos vereadores no início de junho deste ano.

Mas, no dia 27 de junho, por 14 votos a três, a Assembleia Legislativa aprovou o projeto que proíbe a entrega de canudos plásticos em restaurantes, bares, hotéis, padarias, conveniências e clubes de Mato Grosso do Sul.

O projeto ainda depende da sanção do governo do Estado para tornar-se lei. A partir daí, as empresas terão um ano para adequação, mas já acendeu sinal de alerta em várias distribuidoras em Campo Grande.

Opção de papel é alternativa biodegradável ao tradicional plástico. (Foto: Paulo Francis)
Opção de papel é alternativa biodegradável ao tradicional plástico. (Foto: Paulo Francis)

“Vou desovar o estoque, ainda deve durar uns seis, sete meses”, disse o proprietário da Primordial Embalagens, Paulo Matos. Depois, deve passar a comprar o canudo biodegradável, embora esteja ciente de que o preço chega a ser três a quatro vezes mais caro que o descartável. A unidade do mais comum custa, em média, R$ 2,20, enquanto o biodegradável, R$ 4 a R$ 5. “Vai ser uma consequência, quando tiver demanda, cai o preço do produto”, avaliou.

A perda dessas vendas não chega a causar grande impacto, já que representa apenas 2% do faturamento do empresário, mas, segundo ele, reconhece que, futuramente, deve significar mudança no mercado.

“Eu acredito que é a ponta do iceberg, vão proibir copo, garfinho, saco para lixo; o descartável de plástico vai ser banido”, profetizou Márcio Caixeta, proprietário da Sobrado Embalagens, empresa com sede em Terenos que atende a Capital e municípios da região. Para ele, a venda de canudos representa de 10% a 20% do total, fazendo parte de combo que o cliente costuma levar, que inclui copos e pratos descartáveis.

Na avaliação dele, essa proibição irá afetar o consumidor na ponta. “Pense na pessoa que vende salgadinho, suco, isso muda muito a margem de lucro”, disse, levando em conta a diferença de preço. A caixa com 3 mil unidades do canudo de plástico custa R$ 50, enquanto que a do biodegradável, R$ 70. Márcio disse que o problema não é o produto em si, mas a falta de conscientização das pessoas, que não fazem o descarte corretamente.

A gerente de balcão da JMoreira Embalagens, Valci Almeida Lobato, também tem visão cética sobre o mercado. No início do ano, a empresa comprou pacote de canudo biodegradável que permanece no mesmo lugar, no depósito. Segundo ela, haverá levantamento entre os clientes para averiguar se vale a pena renovar ou não o estoque de descartáveis.

Resistência – além das distribuidoras, a nova lei também irá afetar em indústria pioneira no Estado, a Brasil Convertedora de Papel/Papel Brasil Embalagens. Os canudinhos fazem parte de mix de produtos oferecidos, como copos e pratos e representam 5% do faturamento.

Plástico é depositado quente em máquina e resfriado para moldar os canudos. (Foto: Henrique  Kawaminami)
Plástico é depositado quente em máquina e resfriado para moldar os canudos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Estágio para embalar canudos é realizado em máquina separada. (Foto: Henrique Kawaminami)
Estágio para embalar canudos é realizado em máquina separada. (Foto: Henrique Kawaminami)

O proprietário, Vergílio Dorneles, disse que irá continuar produzindo o canudo enquanto for amparado pela legislação. Ele lamenta o veto em MS, já que está finalizando investimento de R$ 5 milhões na compra de maquinário. “O plástico é uma grande fonte de riquezas, emprego, utilidade e de tributos, é poluente sim, mas, o que falta é educação para o descarte; proibir o plástico seria como matar a vaca para exterminar o carrapato”.

Mas, se não houver veto por parte do governo, o jeito é se adaptar aos novos tempos, afirma o empresário. “Na eventualidade da proibição, vamos migrar para o canudo de papel, desistir, nunca”.

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