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Economia

Costura, a arte de sobreviver nos negócios e não ter medo de crise

Das 11 mil indústrias instaladas em Mato Grosso do Sul, 400 são de têxtil e dessas, 96% são micro e pequenas empresas

Caroline Maldonado | 30/09/2015 10:47
Das 11 mil indústrias instaladas em Mato Grosso do Sul, 400 são de têxtil (Foto: Fernando Antunes)
Das 11 mil indústrias instaladas em Mato Grosso do Sul, 400 são de têxtil (Foto: Fernando Antunes)

“Crise nenhuma vai me derrubar, porque tem demanda e faço o que o cliente pedir”. A fala de uma empresária do setor de confecção de Campo Grande demonstra a força da pequena indústria, enquanto os dados revelam que de pequenas elas têm só o nome. Das 11 mil indústrias instaladas em Mato Grosso do Sul, 400 são de têxtil. Desse total, 96% são micro e pequenas empresas, segundo o Sindivest (Sindicato das Indústrias do Vestuário, Tecelagem e Fiação de Mato Grosso do Sul).

A indústria têxtil abrange todas as empresas que fazem a transformação de fibras em fios e depois em tecidos, que viram peças de vestuário e outros artigos presentes do dia a dia de todos. Este último processo é o que motivou a paulista Juliana Aranda, 41 anos, a deixar de lado um bom emprego no banco para empreender. Quando ela fala que não tem crise no segmento e conta como reinventou o negócio ao longo dos anos, quem escuta não imagina os altos e baixos vividos, a partir de 1993.

Nesses 22 anos, a sociedade com a mãe e o esposo chegou a “quebrar”, lembra ela. Meses só pagando dívidas, no entanto, nunca foram motivos para desistir do negócio. Depois que começou a investir na própria formação, Juliana deu novos rumos a RU Uniformes, que se tornou em uma dessas pequenas indústrias, que juntas geram cerca de 12 mil empregos diretos e indiretos no Estado.

Oportunidades – A oferta de cursos de qualificação para quem quer ingressar na indústria, no comércio e no setor de serviços é a grande aliada dos empresários, que fazem de tudo para não diminuir o quadro de empregados. “Eu não demito um bom funcionário de maneira nenhuma. Se ele vem me pedir demissão eu não aceito, eu converso e não deixo sair, porque eu tenho demanda de clientes aumentando”, conta Juliana.

Além da unidade de produção, a empresária tem hoje três lojas na Capital, onde comercializa os materiais próprios e também sapatos emborrachados para utilização em empresas, onde os funcionários transitam em chão escorregadio. "Nós buscamos reunir na loja tudo o que os clientes querem, pois assim fica mais fácil para eles e nós agregamos mais uma atividade e uma forma de ganhar com isso", destaca.

Segundo ela, os salários variam entre R$ 900 e R$ 2,5 mil. A remuneração poderia ser melhor se o mercado não fosse tão competitivo, mas a empresária não reclama. Pelo contrário, ela investiu, recentemente, em mais um profissional só para acompanhar os 32 empregados. “Contratamos uma psicóloga para acompanhá-los e acredito que isso vai ajudar muito e vou ter o retorno na produtividade”, comenta. A empresária conta que tem 500 clientes de atacado e 40 escolas de MS para as quais fornece uniforme.

Filho de costureira, Cássio começou a costurar quando criança (Foto: Fernando Antunes)
Filho de costureira, Cássio começou a costurar quando criança (Foto: Fernando Antunes)

A persistência da ex-bancária, que teve que apreender a conciliar estudo, trabalho e família, gerou o espaço que é também a segunda casa de funcionários que estão há 10 anos na empresa. Um deles é Cássio de Lima, 34 anos, que começou a costurar quando criança, já que a mãe é costureira. “Era uma brincadeira, com 11 anos de idade eu já fazia camiseta e outras peças”, lembra.

Ele diz que não abre mão de continuar na área, porque faz o que gosta e vê vantagem em relação a postos de trabalho em outros segmentos. “Fiz curso de manutenção de máquinas e posso ainda trabalhar com isso também”, conta Cássio, ao citar a capacitação gratuita oferecida pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

O Senai tem cursos em diversos segmentos da indústria e programas que aproximam as empresas daqueles que buscam uma colocação no mercado. As iniciativas têm sido fundamentais no apoio aos empresários no Estado, na avaliação do presidente do Sindivest, José Francisco Veloso.

“O Senai põe a disposição toda a tecnologia que existe na área. Além dos cursos, tem capacitações nos bairros através dos containers. Às vezes, as pessoas têm difuculdade de se deslocar para fazer um curso, então ele leva a escola para perto da comunidade e da fábrica, de acordo com a demanda”, comenta José sobre os cursos oferecidos na região do Aeroporto de Campo Grande e no Bairro Cidade Morena, que abrigam quatro grandes indústrias, geradoras de mais de 1 mil empregos.

O presidente da entidade lembra ainda a atuação do CIN (Centro Internacional de Negócios) da Fiems (Federação das Indústrias do Mato Grosso do Sul), que orienta os empresários interessados na exportação. "A Fiems atua na área de tributação e de tecnologia de mercado. Da parte do Governo do Estado, também há incentivos para as indústrias. As grandes estão aqui pelo incentivo fiscal e treinamento do Sistema S. Mato Grosso do Sul tem um dos melhores ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) para a indústria", comenta o sindicalista, ao lembrar que a indústria de confecção têm desconto de 95%, no imposto.

Juliana deixou emprego no banco para empreender (Foto: Fernando Antunes)
Juliana deixou emprego no banco para empreender (Foto: Fernando Antunes)

Competitividade x Inovação – Produzir uniformes é, com certeza, algo que faz com que não falte demanda, mas e quando o cliente quer algo mais? “O que quiser e a gente tiver equipamento adequado aqui, a gente compra material e faz para o cliente”, diz Juliana.

Ela explica que todos os dias abrem novas empresas na área e isso influi na determinação dos preços, que poderiam ser mais baixos e na remuneração dos empregados, que poderia ser mais alta. “É um abre e fecha de empresas, essa competitividade atrapalha um pouco, não conseguimos fazer o preço justo sempre e aumentar salários”.

Para driblar a concorrência, algo que os especialistas não se cansam de lembrar: inovação. Para Juliana, esse processo foi quase que intuitivo. Ela começou a, simplesmente, fazer o que o cliente pedia. “A produção era de uniformes. Agora, fazemos fronha, lençol almofada, estojo e até pintamos guarda-chuva. Uma escola pediu para colocar a logomarca no guarda-chuva, a gente foi lá no google, pesquisou 'tinta para lona de guarda-chuva', compramos, aprendemos e fizemos”, resume ela.

Aos que estão começando ou tendo dificuldades para gerir o negócio em função da economia do país, ela aconselha, sobretudo, persistir e ter um bom relacionamento com os colaboradores, além de economizar ao máximo. "Nós pedimos ajuda dos funcionários para economizar em tudo, até em clips, reutilizar papel. São pequenas coisas que fazem a diferença".

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