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Economia

Mel da floresta rende produção e anima apicultores em MS

João Humberto | 28/05/2010 22:59

Estimativa é de que neste ano os apicultores possam colher entre 35 e 40 quilos de mel por colméia

A florada de eucalipto trouxe novas perspectivas para os produtores. (Foto: FSB Produções).
A florada de eucalipto trouxe novas perspectivas para os produtores. (Foto: FSB Produções).

Uma iniciativa empreendida pela Fibria, maior empresa brasileira de celulose e papel e que possui uma unidade em Três Lagoas, vem animando apicultores na região do Bolsão. A integração da apicultura com floresta tem gerado resultados positivos na produção, que antes era de 10 litros de mel por colméia e hoje subiu para 30.

Gerente de agronegócios do Sebrae/MS (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Mato Grosso do Sul), Marcus Rodrigo de Faria explica que o plantio de florestas contribui para diversificar a atividade rural e, especificamente nas atividades consorciadas, melhora os resultados de outras culturas.

Neste ano, cerca de 40 apicultores de Brasilândia, Cassilândia, Chapadão do Sul e Três Lagoas conseguiram melhorar significativamente a produção de mel com a instalação de colméias em áreas de eucalipto graças ao empenho da Fibria. A florada de eucalipto trouxe novas perspectivas para os produtores, que no ano passado viram amargar suas produções de mel em consequência do excesso de chuva em sua região.

A partir de agosto do ano passado foram instaladas as primeiras colméias numa propriedade em Brasilândia, em seguida foi a vez de Três Lagoas. Nesses locais, os apicultores tiveram que passar por treinamentos oferecidos pela Fibria, até para se adaptarem ao novo sistema. São 240 mil hectares, com 8 mil destinados à criação das abelhas.

O excesso de chuva acarretou uma derrocada na produção de mel, principalmente no período que procedeu ao inverno, quando aconteceram as floradas da região do cerrado. Isso fez com que as flores do néctar sugado pelas abelhas parassem sua produção, também em virtude do excesso de seca.

O sistema é simples, até porque depende do bom manejo dos apicultores na implantação das colméias ao pé das árvores. (Foto: Feapis).
O sistema é simples, até porque depende do bom manejo dos apicultores na implantação das colméias ao pé das árvores. (Foto: Feapis).

Segundo o consultor do Sebrae/MS, Gustavo Nadeu Bijos, entre agosto e dezembro do ano passado praticamente não houve colheita de mel. Ele frisa que a queda na produção foi tão intensa, que de junho a outubro atingiu baixa de mais de 50%.

Geralmente ocorrem duas floradas de mel durante o ano e é justamente nesse período que os apicultores torcem para que a produção tenha repercussão. Numa área em que existem bastante árvores de eucalipto em um pequeno raio, as abelhas trabalham com facilidade, aumentando assim a produtividade e consequentemente a produção.

Para que o sistema silvicultura-apicultura desse certo, a Fibria conseguiu implantar o consórcio em duas propriedades. As associações de apicultores puderam instalar as suas colméias em áreas que foram totalmente catalogadas, sendo as terras identificadas por meio de placas georeferenciadas, de acordo com Marcus Rodrigo de Faria.

Como a silvicultura tem crescido em proporções muito amplas no estado, a Fibria percebeu a necessidade em desenvolver essa integração. Nos quatro primeiros meses deste ano, durante o processo da primeira florada, o aumento na produção de mel empolgou e estimulou o trabalho nessas duas propriedades com produções três vezes acima da média. Para agosto e setembro a expectativa é maior.

O sistema é simples, até porque depende do bom manejo dos apicultores na implantação das colméias ao pé das árvores. Elas devem ser implantadas separadamente uma da outra e num raio de aproximadamente cinco ou dez metros de distância, até para não dificultar a produção de mel.

Numa área em que existem bastante árvores de eucalipto em um pequeno raio, as abelhas trabalham com facilidade. (Foto: Tarsilla Ferreira).
Numa área em que existem bastante árvores de eucalipto em um pequeno raio, as abelhas trabalham com facilidade. (Foto: Tarsilla Ferreira).

Boa colheita - Apicultor filiado à APITL (Associação de Apicultores de Três Lagoas), Wilmar Arantes conta que o eucalipto tem uma florada muito rápida e, apesar das chuvas, em dias de sol a colheita é surpreendente. Ele atribui o sucesso à plantação de floresta.

A estimativa, conforme o gerente de agronegócios do Sebrae/MS, é de que neste ano os apicultores possam colher entre 35 e 40 quilos de mel por colméia, só com o eucalipto, o dobro da média nacional, de apenas 16 quilos.

No ramo da apicultura há 20 anos, o presidente da APITL, Cláudio Koch, revela que mesmo com os números promissores, a colheita tem sido mediana em relação ao potencial do eucalipto. Mas, numa escala de produção de 60 até 70 quilos de mel, para quem chegou a colher 10, o consórcio é animador.

Plano - Em Mato Grosso do Sul, o Planto Estadual de Conservação de Florestas já está sendo implantado através de várias ações estabelecidas, ressalta Junior Ramires, presidente da Reflore/MS (Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas). Informação, capacitação e incentivo à instalação de indústrias são alguns dos pontos positivos pré-estabelecidos nesta ação.

A pretensão do plano é chegar a 1 milhão de hectares de florestas plantadas em Mato Grosso do Sul, o que corresponderia a 2,7% do território estadual. Hoje, a estimativa é de que uma área de 308 a 310 mil hectares esteja ocupada pelo plantio de florestas no território sul-mato-grossense.

Com uma diversificação na atividade econômica, seja através da comercialização de carne e mel, respectivamente nos consórcios silvipastoril e da sivicultura-apicultura, em ambos os casos um produto alternativo é gerado: a madeira. E a agregação da produção florestal à indústria é um dos principais objetivos do plano, que pretende ter essa meta atingida até 2030.

Fibria - A indústria da Fibria em Três Lagoas é responsável por 13% do PIB (Produto Interno Bruto) de Mato Grosso do Sul. "Isso é importante e merece ser avaliado. Imagina se tiver uma outra indústria desse porte no estado: o número pode dobrar", ressalta Junior Ramires.

Coordenadora interna da Fibria Celulose na empresa KSR (distribuidora de papéis e produtos gráficos), em Campo Grande, Raquel Gomes Garcia enfatiza que num quadro de produção avaliado em 100% de celulose fabricada, apenas 30% fica no Brasil.

"Para a Fibria a questão principal nem é restrita única e exclusivamente à fabricação de papel, mas sim em dominar o mercado da celulose. Há certa dificuldade em se obter papel, até porque existem poucas fábricas e a demanda continua sendo muito grande", analisa Raquel.

E como o crescimento das florestas é cada vez mais amplo, a visão da Fibria em se tornar uma das maiores indústrias na produção de celulose do mundo está aliada, entre diversos fatores, aos variados tipos de consórcios desenvolvidos no Brasil, principalmente o silvipastoril e floresta-apicultura em Mato Grosso do Sul.

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