Sobretaxa dos EUA ameaça exportações de celulose de MS, aponta consultor
Com tarifa de 50% em vigor em agosto, Turquia, Arábia Saudita e Alemanha surgem como saída estratégica
RESUMO
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A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros pode afetar significativamente as exportações de celulose de Mato Grosso do Sul a partir de agosto. Segundo o economista Gustavo Duprat, da Scott Consultoria, as tarifas são excepcionalmente altas e sem precedentes nas relações comerciais entre os países. O estado, principal exportador de celulose do Brasil, tem encontrado alternativas em mercados como Turquia, Arábia Saudita e Alemanha. No primeiro semestre de 2024, a celulose liderou a pauta de exportação sul-mato-grossense, com receita de US$ 1,73 bilhão e volume de 3,522 milhões de toneladas, representando 32,68% dos embarques totais do estado.
A sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros tem potencial de reduzir consideravelmente, neste segundo semestre, as exportações de celulose para o mercado norte-americano, incluindo a commodity de Mato Grosso do Sul, caso seja concretizada a nova tarifa a partir de 1º de agosto. A análise é do engenheiro agrônomo da Scot Consultoria, Gustavo Duprat, especialista no mercado de celulose. “São tarifas muito altas e algo sem precedentes na relação comercial entre os dois países”, disse.
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Por questões sazonais, as exportações de celulose para o mercado norte-americano são mais intensas no segundo semestre, mas a sobretaxa imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump joga dúvidas sobre esse cenário este ano. No ano passado, por exemplo, cerca de 52% da celulose brasileira exportada aos EUA foi enviada entre julho e dezembro.
“Isso significa que, caso as tarifas sejam mantidas e não haja avanços nas negociações entre o governo brasileiro e norte-americano, a tendência é de que o Brasil perca competitividade no mercado dos EUA, levando a uma redução significativa nas exportações para esse destino”, analisa Duprat.
Sem cravar números sobre eventual queda em valores absolutos ou percentual na participação das vendas de Mato Grosso do Sul – o principal exportador de celulose do Brasil –, o analista da Scot Consultoria lembra que o estado tem ampliado expressivamente suas vendas de celulose para outros mercados, o que é um sinal positivo.
Novos mercados
Segundo ele, mercados como Turquia, Arábia Saudita e Alemanha têm ampliado expressivamente suas compras de celulose de Mato Grosso do Sul, o que pode ajudar, em médio e longo prazos, a reabsorver parte da produção eventualmente deslocada do comércio com os EUA.
No caso da Turquia, as exportações de Mato Grosso do Sul quase triplicaram nos últimos dois anos, saindo de 61,3 mil toneladas, em 2023, para 142,5 mil toneladas, em 2024. Já no primeiro semestre deste ano, os embarques saltaram para 176,9 mil toneladas.
Na mesma direção, os embarques da commodity para a Arábia Saudita cresceram de 19,3 mil toneladas, em 2023, para 24 mil toneladas, em 2024, e mais do que triplicaram, para 73,7 mil toneladas, no primeiro semestre deste ano.
Já a Alemanha mais do que dobrou as compras de celulose de Mato Grosso do Sul, passando de 25 mil toneladas, em 2024, para 57,8 mil toneladas no primeiro semestre deste ano.
Mato Grosso do Sul abriga algumas das maiores fábricas de celulose do mundo, como as da Suzano (em Três Lagoas e em Ribas do Rio Pardo) e da Eldorado Brasil, também em Três Lagoas.
No primeiro semestre deste ano, a celulose liderou a pauta de exportação do estado, com receita de US$ 1,73 bilhão e volume de 3,522 milhões de toneladas da commodity – o equivalente a 32,68% do total dos embarques do estado. Embora a China seja o principal mercado, os EUA são um destino estratégico para produtos agroindustriais e de base florestal de Mato Grosso do Sul. No ano passado, o mercado norte-americano respondeu por mais de 31% das exportações de celulose do estado, com valores de US$ 213,4 milhões, conforme dados da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).
Choque entre oferta e demanda
A avaliação geral do analista da Scot Consultoria é de que a sobretaxa de Trump terá impacto considerável no comércio de celulose de Mato Grosso do Sul, e de todo o Brasil, com os estadunidenses. Os efeitos dos 10% aplicados pelo governo norte-americano em abril serão agravados.
Mesmo que haja uma redistribuição gradual da produção para outros mercados, o economista entende que o impacto inicial da sobretaxa norte-americana sobre as exportações de celulose seria inevitável e profundo, não apenas no mercado de celulose, mas em diversos outros setores.
“Se deixarmos de exportar para os EUA, haverá um excedente significativo de oferta, que a demanda global não conseguirá absorver imediatamente, podendo provocar uma queda nos preços internacionais da celulose.”
Isso porque a substituição do comércio norte-americano não ocorreria de forma imediata. “Embora já existam indícios de diversificação de mercados, o choque inicial entre oferta e demanda seria inevitável, com efeitos negativos nos preços e na competitividade da celulose brasileira, principalmente porque o Brasil é hoje o maior exportador mundial do produto.”
Sob o efeito das tarifas de Trump, as cotações da celulose de fibra curta registram queda, parcialmente. Segundo dados da Fastmarkets, que publica índices de preços semanais, a cotação da tonelada na China caiu US$ 70 entre abril e maio. No acumulado do ano, até maio, a queda é de US$ 44, com estabilização recente em torno de US$ 500 por tonelada.