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Educação e Tecnologia

“É o melhor do mundo”, diz pesquisador sobre monitoramento do Inpe

O sistema de cálculo do desmatamento da Amazônia tem margem de erro entre 5% e 6%; nos demais países o porcentual é de 20%

Tainá Jara e Fernanda Palheta | 25/07/2019 15:16
 Dados preliminares de satélites do Inpe demonstraram que mais de 1.000 km² da Floresta Amazônica foram derrubados na primeira quinzena de julho, um aumento de 68% em relação ao mesmo mês de 2018 (Arquivo/Agência Brasil)
Dados preliminares de satélites do Inpe demonstraram que mais de 1.000 km² da Floresta Amazônica foram derrubados na primeira quinzena de julho, um aumento de 68% em relação ao mesmo mês de 2018 (Arquivo/Agência Brasil)

Os pesquisadores do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais) rebateram as críticas do presidente Jair Bolsonaro aos levantamentos da instituição relativos ao desmatamento da Amazônia, durante a 71º reunião da SBPC (Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência), realizada nesta semana, em Campo Grande. O evento é o maior da área na América Latina.

Na semana passada, o presidente questionou a metodologia utilizada pelo órgão e sugeriu que o diretor do instituto, Ricardo Galvão, estaria “a serviço de alguma ONG”. Os números causadores do desentendimento são dados preliminares de satélites do Inpe que demonstraram que mais de 1.000 km² da Floresta Amazônica foram derrubados na primeira quinzena de julho, um aumento de 68% em relação ao mesmo mês de 2018.

Pesquisador aposentado Inpe, Carlos Afonso Nobre, avalia a tentativa de descredenciar o levantamento como um retrocesso. Ele explica que o método de monitoramento de desmatamento da instituição, feito pelo Prodes (Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite), tem uma das menores margens de erro no mundo.

“A maioria dos sistemas que existem no mundo tem um margem de erro de 20%. O Inpe aperfeiçoou essa sistema ao longo de 30 anos e hoje a margem de erro varia entre 5% e 6%. É o melhor do mundo”, defende. Ele ressalta que a avaliação não se trata de opinião pessoal, mas é baseada em informações científicas.

O Prodes divulga balanços anuais. Monitoramento diária é feito ainda pelo Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), com margem de erro que varia entre 10% e 12%. “O Inpe lidera a qualidade da informação”, garante o pesquisador responsável por ministrar a conferência Mudanças Climáticas, nesta quinta-feira, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que sedia a SBPC.

Conforme o pesquisador, o sistema é mais eficaz que os utilizados pela Nasa (Administração Nacional da Aeronáutica), dos Estados Unidos; Agência Espacial Europeia e pela China. Nobre atribui a precisão do monitoramento a junção de dados analisados por algoritmos a um corpo de pesquisadores que aprenderam a interpretar esses números.“Tem muita competência humana para reduzir a margem de erro. Não podemos perder isso”, alerta.

Pesquisador sênior e chefe da divisão de satélite e sistemas ambientais, Luiz Augusto Toledo Machado, também defende o instituto e ficou indignado com as declarações do presidente. Para ele, as instituições de pesquisa e universidades são geradores de conhecimento capazes de transformar as descobertas em benefícios para a sociedade. “O papel do governo é preservar esses pilares importantes para o desenvolvimento do País”.

Pesquisador aposentado Inpe, Carlos Afonso Nobre, ministro palestra sobre mudanças climáticas em reunião da SBPC, nesta quinta-feira. (Foto: Fernanda Palheta)
Pesquisador aposentado Inpe, Carlos Afonso Nobre, ministro palestra sobre mudanças climáticas em reunião da SBPC, nesta quinta-feira. (Foto: Fernanda Palheta)

Transparência - Diante da divulgação dos dados do desmatamento da Amazônia pelo Inpe, além de críticas, os pesquisadores podem ter que lidar com restrições relativas a transparência.

Até 2002, o governo permitia a liberação dos dados apenas quando julgasse apropriado. Ao serem tornados públicos, houve uma grande melhora no conhecimento científico brasileiro.“A partir disto, cientistas, pesquisadores e alunos tiveram a acesso a dados para estudar. O avanço foi gigantesco e é inaceitável voltar a atrás”.

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