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Arquitetura

"Casa Aranha" segue icônica na Antônio Maria Coelho e com vista de dar inveja

Thaís Pimenta | 09/06/2018 07:10
Fachada da época em  que a casa ainda era da família Jabour. A fachada sem portões fica mais charmosa. (Foto: Acervo Angelo Arruda)
Fachada da época em que a casa ainda era da família Jabour. A fachada sem portões fica mais charmosa. (Foto: Acervo Angelo Arruda)

Construído em 1962, para ser diferente, o imóvel levantado pelo engenheiro civil e monumentalista libanês, Gabriel do Carmo Jabour, ganhou apelido de ''casa aranha'' e segue autêntico e icônico na Rua Antônio Maria Coelho.

Visionário, Gabriel do Carmo teve uma sacada de criatividade ao transformar em grandes "pernas" o que era para ser apenas um brise soleil na fachada, barreira para evitar a incidência do sol forte, já que a entrada da casa é virada para o norte e pega o sol do dia todo.

''Essa estrutura aqui na frente antes de ter um valor estético tinha uma função técnica, era uma necessidade de conforto ambiental, então é importante que isso seja dito para deixar claro que ia muito além de um monumento'', explica o arquiteto Celso Costa Filho.

A casa foi construída para ser dos pais de Gabriel, o filho mais velho da família de imigrantes turcos. Porém, deixou de ser da família nos anos 1980, com a morte dos pais de Jabour.

Um especialista nas mudanças da cidade, o arquiteto Angelo Arruda também ajuda a contar a história do lugar. Segundo ele, o imóvel foi ''alugado primeiro para a sede do Conselho Estadual de Educação e daí para frente foi sendo alugado para várias atividades''. Depois disso, já foi o Cartório Ayache - 3º Oficio e hoje é um escritório de advocacia.  

Por fora, a construção carrega os mesmo traços do passado. A estrutura que remete à anatomia de uma aranha continuam ali, só perdeu um pouco de seu charme por conta do portão, construído para garantir mais segurança para o prédio que fica em pleno Centro.

Fachada da casa aranha continua icônica até os dias de hoje na Antônio Maria Coelho. (Foto: Saul Schramm)
Fachada da casa aranha continua icônica até os dias de hoje na Antônio Maria Coelho. (Foto: Saul Schramm)

De acordo com o fotógrafo Roberto Higa, poucos além da família tiveram o privilégio de entrar na casa de Jabour. ''As pessoas comentavam muito sobre aquele imóvel. Haviam lendas de que a garagem permitia que os carros passassem por uma espécie de passarela, dando a volta em toda a área construída'', lembra.

Não se sabe ao certo se essa passarela em algum momento existiu mas o sobrinho Rodrigo Jabour, que frequentou a casa dos avôs desde cedo nega que essa informação seja verídica. ''Eu me lembro da garam subterrânea e ali quase não se gurdavam carros, meu vô costumava deixar na rampinha do lado esquerdo'', conta ele.

Quem tem a sorte de trabalhar no prédio tão diferente diz que a construção até hoje treme quando passam os ônibus na rua. ''É porque ela foi feita suspensa né. Então a gente sente tremer todo dia. A escada já precisou ser reformada porque chegou a quebrar por conta disso'', diz Flávio Barbosa, advogado sócio-proprietário da empresa que funciona no local agora.

No interior, os quartos ainda trazem os imensos armários embutidos da época, que uma de suas portas davam acesso ao banheiro da suíte. Por se tratar de um escritório, as paredes foram todas pintadas de branco e já nada se tem do revestimento original, nem ladrilhos, nem azulejos.

Fachada vista por um outro ângulo.(Foto: Fernando Antunes)
Fachada vista por um outro ângulo.(Foto: Fernando Antunes)
Escada foi pintada e continua com traços modernos. (Foto: Fernando Antunes)
Escada foi pintada e continua com traços modernos. (Foto: Fernando Antunes)

A gigante construção tem cerca de dez quartos e se difere muito das casas construídas na época, em que era comum apenas o quarto dos filhos, do casal, um quarto para hóspedes e um banheiro único para toda a família.

Gabriel Jabour nasceu no dia 24 de dezembro de 1929 no Líbano, na cidade de Zahlé, filho de Carmo Jabour e Abadia Jabour, veio para o Brasil com um ano e meio de idade. ''Aqui ele estudou no Colégio Estadual Campo-Grandense e no Ginásio Dom Bosco e foi para São Paulo estudar no Instituto Roosevelt, onde concluiu o curso científico. Era de família rica. Passou no vestibular sem fazer cursinho e concluiu o Curso de Engenharia na Politécnica de São Paulo em 1954, a turma do Quarto Centenário'', conta Angelo Arruda, que tem trecho dedicado ao engenheiro no livro ''Pioneiros da Arquitetura e da Construção em Campo Grande".

Em todas as suas obras, é visível a qualidade da construção, principalmente, no concreto aparente, por isso os comentários são de que ele gastava muito nas obras. Em uma entrevista cedida para Angelo, Gabriel disse que construiu a casa para os seus pais e que na época seguia todas as normas da ABNT.

Em trecho de entrevista retirado do livro de Angelo, o libanês lembra de uma inovação do projeto: "tem tijolinho de borracha embaixo, de neoprene . Tem mais de 30 anos e ainda está moderna. Eu dominava a impermeabilização e naquela época quando o neoprene começou eu fiz uma cobertura impermeabilizada e nunca houve vazamento”.

O sobrinho de Gabriel e neto de Carmo se lembra dos grandes banquetes que a avó servia à família naquele tempo. ''Vínhamos todos já que a vovó tinha mania de reunir os parentes. É um costume árabe que se manteve na casa dela'', conta.

Detalhes do portão que dá acesso à garagem e nunca foi modificado. (Foto: Fernando Antunes)
Detalhes do portão que dá acesso à garagem e nunca foi modificado. (Foto: Fernando Antunes)
Fechadura do portão mostra a velhice da casa que é tradicional e ao mesmo tempo moderna. (Foto: Fernando Antunes)
Fechadura do portão mostra a velhice da casa que é tradicional e ao mesmo tempo moderna. (Foto: Fernando Antunes)

Das memórias afetivas vividas ali, Rodrigo conta da linda árvore de Natal, montada ano após ano no jardim que ficava bem no meio da planta da casa. ''Era incrível. Ali também nós brincávamos e vovó tinha uma pequena horta''.

O netinho conta ainda que Abadia e Carmos chegaram em Campo Grande sem riquezas e foi trabalhando no comércio que seus avós construíram o grande império que até hoje segue vivo na cidade. ''Eles foram perseguidos religiosamente no Líbano por serem cristãos e chegaram emergentes aqui. Mesmo assim seus filhos estudaram e viraram importantes profissionais''.

Ainda de acordo com ele o primeiro nome de Gabriel era, na verdade Gibran, e era assim que a família se referia ao filho mais velho.

Ao passear pela casa, algumas relíquias daquele tempo seguem intocadas, como é o caso do portão que dá acesso à garagem. Ele continua firme e forte, feito em madeira, e ornando muito bem com a construção que carrega ares modernos e tradicionais ao mesmo tempo.

Ainda na garagem, subsolo da construção, um porão imenso que hoje guarda alguns tijolos mantêm as mesmas características do passado. ''Aqui a gente consegue ver as vigas de ferro reforçado usadas para dar suporte a essa mansão. Os pilotes seguram o terreno em aclive'', completa Celso Costa.

Se não fosse incrível o suficiente, a casona tem um terraço com vista de dar inveja a quem mora em grandes edifícios. Lá de cima, a família se reunia para fazer festas, como era costume da época, e ainda não tinha o privilégio de enxergar a grandiosidade do que viria a se tornar o Centro de Campo Grande. 

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O porão imenso da Casa Aranha fica na garagem.(Foto: Fernando Antunes)
O porão imenso da Casa Aranha fica na garagem.(Foto: Fernando Antunes)
A parede esquerda dessa varanda segue original, e foi apenas pintada. (Foto: Fernando Antunes)
A parede esquerda dessa varanda segue original, e foi apenas pintada. (Foto: Fernando Antunes)
Vista do terraço dá pra todo o Centro de Campo Grande. (Foto: Fernando Antunes)
Vista do terraço dá pra todo o Centro de Campo Grande. (Foto: Fernando Antunes)
Ao centro, de cinto, o avô da família, seu Carmo Jabour. (Foto: Acervo Pessoal)
Ao centro, de cinto, o avô da família, seu Carmo Jabour. (Foto: Acervo Pessoal)
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