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Arquitetura

Casa de madeira é o esconderijo de Bernardino que muita gente já quis derrubar

Thailla Torres | 06/04/2017 06:05
Casa tem 50 anos e todo mundo já quis derrubar, mas a relíquia vai acabar ficando de herança para toda família. (Foto: Alcides Neto)
Casa tem 50 anos e todo mundo já quis derrubar, mas a relíquia vai acabar ficando de herança para toda família. (Foto: Alcides Neto)

Há 50 anos, Bernardino Soares Silveira guarda lembranças da casa de madeira que virou relíquia da família. O lugar erguido na década de 1950 resiste ao tempo graças ao jeito caprichoso dele e da esposa Nancy, na Vila Gomes.

Apesar da estrutura torta e do amontoado de coisas no interior da residência, sem uso, até quem já quis derrubar conseguiu enxergar o valor que a residência tem para o casal.

Aos 90 anos e com uma lucidez plena, Bernardino amanhece lendo o jornal na varanda de casa. No terreno de 600m², a morada dos dois fica nos fundos, também numa casa de madeira, mas bem mais estruturada e feita por ele.

Bernardino guarda recordações da casa antiga.
Bernardino guarda recordações da casa antiga.

Já no meio do quintal está a casa bege, velha e meio sem jeito, mas que ele prefere chamar de esconderijo. "É aqui que eu me escondo", brinca. 

Derrubar a casa já passou pela cabeça de Bernardino e de quase toda família, conta. "Eles queriam derrubar, fazer algo novo, porque ninguém usa mais", diz.

Mas foi a esposa que conseguiu acabar com a ideia de colocar um fim nas tábuas. "Tenho tanto orgulho, criamos 5 filhos debaixo desse teto. Meus filhos até pensaram em derrubar para construir alguma coisa, mas todo mundo acabou vendo o valor do trabalho do pai". 

A residência mais antiga vive fechada, no interior estão móveis e um amontoado de objetos que o casal prefere deixar reservado. Agora, distante da ideia de demolir, o lugar vira motivo de contemplação pelo capricho ao redor. 

Quase impossível não perceber os cuidados no quintal. Dona Nancy Silva Silveira, de 83 anos, é quem faz questão de deixar tudo impecável, tudo que é possível enxergar na grama bem cortada, o jardim florido e o enorme pinheiro plantado e mantido por eles. "Aqui é a nossa vida, tem que cuidar né. A gente cresceu aprendendo que tudo tem que ser no capricho", afirma a esposa.

Apesar do tempo, residência está conservada
Apesar do tempo, residência está conservada
Casa ficará de herança para a família. (Foto: Alcides Neto)
Casa ficará de herança para a família. (Foto: Alcides Neto)

Bernardino conta que chegou no terreno depois de largar a fazenda onde foi criado em Jaraguari (MS). A casa foi erguida com apenas três peças e depois ampliada para conforto da família. Depois de ter sido peão, caminhoneiro e mecânico, o serviço de pedreiro ele tirou de letra.

"Vim de família pobre. Naquele tempo o pai só ensinava trabalhar e hoje dia ninguém quer pegar no pesado.Tudo que tem aí foi eu que fiz", afirma.

Quando ele chegou na região, o cenário era diferente, repleto de mato. Hoje, os prédios e casas de alvenaria tomam conta da região. Tanto que a casa bem cuidada de madeira é uma das poucas residências antigas com arquitetura intacta.

Vivendo nos fundos, ele a esposa levam uma vida tranquila cheia de recordações. "Isso daqui viu o nosso melhor tempo, quando a criançada corria por esse quintal", lembra Nancy.

A vantagem segundo ela é a simplicidade. "A casa de madeira sempre fez parte da gente. Acho que mudar não ia fazer diferença na nossa vida. A gente gosta de viver assim".

Bernardino diz que só tem o que agradecer à vida. Porque, assim como a casa, conquistou uma felicidade simples, mas plena. "Sempre fomos pobres, mas só tenho filho de bem. A gente ergueu essa casa para criar todo mundo e hoje eles criam a gente. Agora, essa casa só vai para o chão o dia que eu viajar para outro mundo", afirma.

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Quintal limpo e aparência de lugar calmo chama atenção de quem passa na rua. (Foto: Alcides Neto)
Quintal limpo e aparência de lugar calmo chama atenção de quem passa na rua. (Foto: Alcides Neto)
Pinheiro foi plantado há 35 anos por Nancy. (Foto: Alcides Neto)
Pinheiro foi plantado há 35 anos por Nancy. (Foto: Alcides Neto)
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