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Arquitetura

Sem patrocínio, grandes painéis de Cleir vão desaparecendo da cidade

Ângela Kempfer | 06/02/2013 07:00
Propaganda de refrigerante esconde tuiuiú de Cleir. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Propaganda de refrigerante esconde tuiuiú de Cleir. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Antes, a imagem no prédio era assim.
Antes, a imagem no prédio era assim.

Há dois anos, quando passou a morar em Campo Grande, de cara Denise Falkenberg identificou a cultura regional em painéis com onça, araras e tuiuiús espalhados pela cidade. Mas no final de semana, durante city tour com a família do Rio Grande do Sul, ao tentar mostrar uma das obras percebeu que no lugar do enorme tuiuiú havia uma propaganda de refrigerante.

“Fiquei surpresa porque aprendi a admirar as obras do artista plástico Cleir. Não entendo porque esse acervo não é preservado”, comenta.

O anúncio com a jovem sorridente depois de beber o refrigerante de 123 calorias esconde pela segunda vez o painel do edifício Marques de Valença, na avenida João Rosa Pires. Em 2011, propaganda de cinema tomou conta de toda lateral do prédio. Sempre que algum patrocinador bancar um anúncio gigante, o tuiuiú vai desaparecer.

A administradora Vera Cabral considera os painéis “referencia do nosso Estado” e se revolta: “ Trocar por propaganda? Muito menos.”

“Não devia esconder e sim retocar”, diz a doméstica Alexandra Quieaveli, de 30 anos.

A ave foi pintada em 95 e 8 anos depois houva a primeira manutenção, mas só vingou durante o patrocínio do Banco Real. Vendido para o grupo Santander, os novos donos não renovaram o contrato e a pintura ficou órfã, assim como todas aos outras 5 estampadas em prédios na região Central.

A onça no edifício Inah e a arara azul no hotel Exceler são as obras mais conhecidas de Cleir e também precisam de revitalização, inclusive, já solicitada pelos responsáveis pelos imóveis. As cores das araras, poer exemplo, estão desbotadas, não têm mais aquela azul característico e há falhas na pintura. Mas sem investidor, o trabalho é inviabilizado.

“Representa aquilo que é da gente. Muito melhor do que essas pichações pela cidade” diz Sueli Pereira, 54 anos, dona de casa.

A onça, primeira a ser pintada na paisagem de Campo Grande...
A onça, primeira a ser pintada na paisagem de Campo Grande...
e a arara do hotel Exceler.
e a arara do hotel Exceler.

Já o artista parece conformado. Não fala muito sobre a questão, diz apenas que tentou aprovar a revitalização por meio de leis de incentivo à cultura, mas nunca conseguiu. Como também produz esculturas e telas, diz não ter mais tempo para buscar apoio de empresas.

“Não tenho como deixar o meu trabalho de lado para buscar patrocínio e por isso não posso nem reclamar quando outros anúncios escondem os painéis”.

Na avaliação de Cleir, a responsabilidade agora é do poder público. “Não quiseram tombar até o relógio do Hans Donner lá na praça? Na minha visão, quando algo se torna público, como os painéis que já são a cara da cidade, é obrigação do estado e do município preservar. É patrimônio cultural e histórico, que merece ser cuidado”, defende.

Sem a revitalização, o artista estima que em 10 anos os traços da fauna pantaneira devem ser começar a ser apagados da cidade.

Início - A Onça no edifício Inah vai completal 20 anos em 2014. A primeira grande tela, de 200 metros quadrados, foi desenhada na parede do edifício da avenida Afonso Pena via projeto da Fundação de Cultura, o "Cores da Cidade", também viabilizada com recursos do Banco Real.

"O trabalho demorou 40 dias, com dois ajudantes", lembra Cleir. Depois vieram as outras encomendas e agora o artista já tem obras do mesmo porte em Dourados, Três Lagoas e Corumbá.

Ultimamente, em espaços públicos, ele tem assinado mais esculturas. São dele o Monumento do Sobá instalado em homenagem à Colônia Japonesa na Feira Central de Campo Grande, também as Araras de 10 metros de altura que deram nome à "Praça das Araras" e os tuiuius que recebem quem chega pelo aeroporto da Capital.

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