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Artes

Com sensibilidade, professora usa dança como disciplina para a vida

Christine Araújo, professora e dançarina, defende o ensino da dança como forma de autoconhecimento

Bárbara Cavalcanti | 13/07/2021 06:10
Christiane durante uma de suas apresentações. (Foto: Arquivo Pessoal)
Christiane durante uma de suas apresentações. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Todo mundo pode dançar. Todos os corpos, com e sem deficiência, de todos os tamanhos, gêneros, raças, todos podem dançar”, declara a dançarina e professora da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Christiane Araújo.

Christiane tem uma linha de pesquisa na qual ela estuda especificamente o ensino de dança na educação básica, dentro da disciplina de arte. Ao Lado B, ela contou que ensinar dança a crianças é muito mais que aquilo e ensinar simples coreografias. É algo que tem muito mais a ver com expressão, com uma comunicação do corpo pelo movimento.

“Quando a gente pensa em dança, a gente pensa naquelas caixinhas de estilos de dança. Balé, frevo, jazz. O ensino de dança na educação básica não é isso, mas é ensinar a linguagem da dança pela consciência corporal. É a improvisação como ferramenta de autoconhecimento, é um aprendizado que o ser humano leva pra vida. E quando eu falo em improviso, criação do movimento expressivo, isso já colabora pra tirar a dança da caixinha dos estilos, porque é questão de ensinar princípios”, explica.

Em aula, professores aprendem como ensinar dança como expressão. (Foto: Divulgação)
Em aula, professores aprendem como ensinar dança como expressão. (Foto: Divulgação)

De acordo com Christiane, esse conceito de dança dentro da escola ainda é novo, até mesmo dentro da universidade. São apenas 46 cursos superiores no Brasil voltados ao ensino de dança hoje, destes, 32 de licenciatura.

Em Mato Grosso do Sul, o curso de Artes Cênicas da UEMS, criado em 2010, teve sua primeira turma exclusiva de dança apenas em 2020. Em 2010, quando o curso nasceu e ainda era somente uma graduação bivalente em dança e teatro, Christiane foi uma das primeiras professoras de dança da instituição.

“Ainda é um trabalho bem de formiguinha, explicar para diretores e para as famílias o que é o ensino de dança dentro da disciplina de artes. Mas ensinar a dança para alunos da escola básica, é ensinar a base da dança, e isso não tem limitações. Muitos estilos de dança não possibilitam essa liberdade. Em alguns, se você estiver muito acima do peso, você não vai conseguir, vai acabar impactando muito e machucando seu corpo. Ou em outros, você precisa de um parceiro. Mas a dança dentro da disciplina de artes não, é sobre consciência corporal e improvisação, então é para todos os corpos”, detalha.

Christane também explica que a dança dentro da sala de aula serve também para quebrar esteriótipos relacionados à alguns estilos artísticos, como por exemplo o balé. “A gente luta um pouco contra isso, aquele modelo de bailarina, de princesa, mocinha bem comportada que o balé carrega um pouco. Hoje à gente sabe que isso nem sempre é saudável para as crianças, porque a gente tem crianças que não se encaixam nesse perfil e que não querem isso pra elas”, reforça.

O ensino da dança vem do próprio amor de Christiane por dançar. Ela conta que a dança sempre fez parte dela e que em nenhum momento chegou de estar em dúvidas se gostaria de fazer outra coisa.

Christiane no palco em uma de suas apresentações. (Foto: Arquivo Pessoal)
Christiane no palco em uma de suas apresentações. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu acho que quando a gente dança, a gente descobre e potencializa aquilo que a gente quer potencializar. Em um momento de colocar pra fora algo que me incomoda, que me move internamente, é dançando que eu faço isso. É um trabalho de autoconhecimento, de comunicação profunda comigo e com o exterior”, expressa.

Nascida em Campo Grande, começou no balé desde pequena, aos sete anos de idade. Na adolescência, passou para o jazz e a dança contemporânea. Começou a estudar a área na Universidade Estadual do Paraná e depois em São Paulo, onde por 16 anos acumulou experiência com várias vertentes de dança, além de trabalhos em ONGs, centro culturais, escolas e academias de dança.

Christiane no palco em mais uma de suas apresentações como dançarina. (Foto: Arquivo Pessoal)
Christiane no palco em mais uma de suas apresentações como dançarina. (Foto: Arquivo Pessoal)

E a paixão pelo ensino de dança veio desde antes. “Eu já comecei a dar aula aos 14 anos de idade, aulas de balé para crianças. Foi lá que eu aprendi a ensinar. Quando cheguei na faculdade, já dava aulas a muitos anos. Eu nunca tive um desejo de ser grande bailarina, de dançar em grandes companhias, a docência sempre me encantou demais. Nunca me vi fazendo outra coisa, sou muito feliz com o que faço”, declara.

Diz também que a aula foi “a salvação” em dias difíceis. “Já tive dias em que eu fui dar aula capengando e no final agradeci meus alunos, pois depois da aula me senti como se tivesse nascido de novo. Essa troca com o aluno para mim é muito forte”, expressa.

E a luta de Christiane é que a dança chegue às salas de aulas como conteúdo da disciplina de artes. “Há muitos anos brigo por isso, essa é minha militância é pra isso que eu invisto todos os meus esforços. Que a dança não esteja na escola como entretenimento e sim como ensino artístico”, reforça.

Durante os últimos 10 anos, Christiane reuniu sua pesquisa em um livro, intitulado “A Dança na Disciplina de Arte: Transposição entre as Linguagens Artísticas”.

Christinae agora publica sua pesquisa em livro para professores de dança. (Foto: Divulgação)
Christinae agora publica sua pesquisa em livro para professores de dança. (Foto: Divulgação)

“Durante esses anos, fui vivendo muitas questões com os estudantes que eu também não tinha respostas. Assim, eu trago algumas propostas de saídas para os entraves que a gente encontra para a dança na escola. Um deles é a questão de que as pessoas têm uma referência muito forte da disciplina de arte se só artes visuais, então eu venho com uma proposta para ajudar esses profissionais de como inserir a dança na disciplina de arte fazendo uma transposição de linguagens”, comenta.

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