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Artes

A bailarina, o saco plástico e um monte de gente sem entender nada no Centro

Ângela Kempfer | 10/07/2012 15:09
Viviane chega sem ser notada. (Fotos Minamar Júnior)
Viviane chega sem ser notada. (Fotos Minamar Júnior)

Em pleno meio dia começa mais uma intervenção urbana no calçadão da Barão do Rio Branco. “Bom, pelo menos a gente para um pouco de correr”, diz a cabeleireira Ivone, que passou pelo Centro para tirar fotos 3X4.

Só por isso o programa já vale, concorda a gerente de loja que foi até à lanchonete da esquina buscar o salgado que vai servir de almoço. “Aqui todo mundo passa correndo para tudo, nem olha na cara dos outros”, comenta Suzane.

As pessoas passam tão desacostumadas a olhar para o lado, que algumas quase tropeçam na bailarina Viviane Madu, posta no meio da calçada, de roupas claras. É quase uma camuflagem, não fosse a “bagagem” nas costas, com espelho dependurado e dois megafones.

A pernambucana roda o Brasil com “Daquiprali”, com projeto financiado pelo Ministério da Cultura, falando de dança sem abrir a boca e nem sequer usar música. O único som audível é do burburinho no comércio e do vai e vem das pessoas.

Suzane e o irmão Luiz de olho na performance.
Suzane e o irmão Luiz de olho na performance.
Joaquim e a esposa olham desconfiados a cena na calçada.
Joaquim e a esposa olham desconfiados a cena na calçada.

Os movimentos lembram os caboclos de lança, personagens do Maracatu que simboliza a luta dos trabalhadores das lavouras de cana de açúcar.

“Se falasse isso antes para a gente, era mais fácil entender”, reclama a estudante Janiara, que ao lado da mãe parou para ver o que provocava uma pequena aglomeração na calçada.

O programa fica mais engraçado quando um senhor, com sotaque nordestino, outro megafone em punho e a indumentária de mesmas cores da bailarina chega ao local da dança falando palavras religiosas.

Quem vê, não sabe se o homem faz parte do espetáculo ou é um maluco tentando reforçar as fileiras da igreja pregando pelo Centro. O senhor de barba longa passa gritando, mal olha para a bailarina no chão e segue, como se não tivesse visto nada de diferente. Morador do Jardim Columbia, o homem confirma: “Nem reparei em nada”.

De repente, surge outra "figura", que não faz parte do espetáculo.
De repente, surge outra "figura", que não faz parte do espetáculo.

“É um doido, não faz parte da dança não”, ri Laudinéia Campos. Mãe de dois, ela levou Luis, de 7, e Suzane, de 5, para fazer compras e de brinde levou a apresentação.

A menina, assustada no início, escondida nas pernas da mãe, aos poucos vai se soltando e avalia. “Acho que é uma bailarina louca”.

É o que mais pensam os que passam por Viviane, já enrolada em um pedaço enorme de plástico. “Agorinha ela tava se retorcendo ali no chão, pensei que tava passando mal. Mas é só doida mesmo, só isso. Agora ta colocando árvore na cabeça”, narra com cara de espanto seo Joaquim, de 80 anos.

Depois da experiência com o público de Campo Grande, a produtora do espetáculo, Vânia Medeiros, diz que é assim mesmo. Em alguns lugares, as pessoas chegam a dançar com Viviane, mas em outros a maioria pensa que é loucura.

Amanhã, o espetáculo será no mesmo horário na esquina da Rua 13 de Maio com Avenida Afonso Pena

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