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Lado B

David Cardoso avalia que poderia contribuir mais para a cultura e menos pro sexo

Paula Vitorino | 11/04/2012 09:43

David Cardoso em noite de homenagem no MIS. (Fotos: João Garrigó).
David Cardoso em noite de homenagem no MIS. (Fotos: João Garrigó).

No dia do aniversário de 69 anos, esbanjando boa forma e a alegria de ser homenageado em seu Estado, David Cardoso faz balanço da carreira, marcada pela atuação nas produções conhecidas como pornochanchada, e constata: “queria ter contribuído mais para a cultura de Mato Grosso do Sul e do País”.

Com a bagagem de 79 produções cinematográficas, participando como “faz tudo” da maioria (roteirista, produtor, diretor e ator), David desabafa e diz que tinha que produzir pensando em vender e não sobrava tempo, muito menos dinheiro, para se preocupar com o conteúdo.

“Tinha que fazer o filme pensando em gerar dinheiro para conseguir produzir o próximo. E o que vendia para o povo era a sacanagem. Podia ter contribuído mais para a cultura, feito produções mostrando o Mato Grosso do Sul e obras de Jorge Amado, por exemplo”, diz.

Ele lembra que era difícil “sobreviver” no meio cinematográfico. “A gente que bancava tudo. Era com a Judá de empresários e amigos que conseguíamos a verba”, diz.

Mas se orgulha em dizer que mesmo vivendo e produzindo na chamada “boca do lixo”, em São Paulo, conseguiu rodar boas produções, ser reconhecido, e sempre pagar em dia os funcionários. Desde 1973 David é o dono da produtora Dacar.

“Fazia dois, três filmes por ano e o que mais gostava era da fase de produção, pensar em cada detalhe. Tenho orgulho em nunca ter sofrido ação trabalhista, as pessoas gostavam de trabalhar na minha produtora porque sempre pagávamos em dia. Isso pra mim já é gratificante”, diz.

Lembrando algumas produções, ele cita como obras de sucesso e que tiveram importância para a cultura os filmes “A Moreninha”, que lançou Sônia Braga, e “O Guarani”, além de 7 produções, entre curtas e longas, rodados em MS.

Com Sônia Braga no filme "A moreninha".
Com Sônia Braga no filme "A moreninha".

Sexo - Sobre o fato de ser lembrado como o artista da pornochanchada, estilo conhecido no Brasil por acrescentar cenas eróticas aos filmes na época da Ditadura Militar, David diz não se envergonhar do passado e rasga o verbo dizendo que na verdade o que era considerado pornô na época hoje aparece na televisão aberta, na novela.

“É fichinha aquilo perto de hoje. Era um erótico, até porque não podia mostra o homem ou a mulher de frente pelados. Aparecia um peito, uma bunda, uma coisinha ou outra, mas não tinha sexo explicito como hoje aparece”, diz.

Ele lembra que havia muito preconceito na época, principalmente contra as atrizes, e que só era respeitado quando aparecia de galã em novela.

“É engraçado porque foi só eu aparecer na novela que me chamaram para participar de baile de debutante, virei galã, mas depois que sai da telinha acabou, não tem mais respeito”, diz.

David conseguiu participar de pelo menos nove novelas, sendo na maioria com pequenos papéis, mas foi personagem em produções como “O Homem Proibido”.

Além do sexo - Hoje, David afirma que “perdi o tesão em produzir sexo” e garante que recusou propostas milionárias para produzir séries pornôs.

“Não aceitaram que o roteiro fosse meu. Seria 10 minutos de quebradeira, sexo explicito, dentro do filme, mas o restante era contando uma história. Eles não quiseram. Se for pra produzir um filme só com sexo, sem história, pode pegar qualquer um e por lá para dirigir. Eu quero é contar uma história”, diz.

Ele também diz acreditar que o sexo não faz mais vender um filme e diz que só colocaria uma cena em uma produção sua se a trama exigisse e, ainda assim, não precisaria ser algo explicito.

Projetos - Longe do sexo e da pornochanchada, mas ainda com o gosto pelas tramas recheadas de aventura e paixão, ele conta que está escrevendo o roteiro de um longa intitulado “Meu amor pantaneiro”.

O filme deve contar a história de um garoto que se perde no Pantanal após um acidente de avião e desbrava a mata, encontrando até o primeiro amor.

Mas David é enfático ao dizer que o filme só sai do papel se tiver R$ 1 milhão na mão. “É o mínimo que a produção para essa história exige, senão nem adianta fazer”, diz.

Mas o outro projeto é um retorno as lembranças da época do boca de lixo. David foi convidado para ser um dos narradores de filme que vai contar a história da pornochanchada no Brasil, com produção da Black White.

“Os meninos dessa produtora são muito bons. Ainda não sei muita coisa do projeto do filme, mas vai ser coisa séria, boa. Mostrar para o pessoal de hoje o que foi a pornochanchada, fazer filme numa época de Ditadura e sem verba”, diz.

Ao lado de Sandra Bréa, em Sedução.
Ao lado de Sandra Bréa, em Sedução.

Aberto para dividir experiência - Falando da carreira e dos projetos, David reflete sobre o que ele ainda pode contribuir para o cenário cinematográfico do Estado e país.

Sem titubear, ele ressalta a experiência de tantos anos no meio do cinema e fala que está aberto para contar. “Adoro participar de debates no meio de estudantes e contar como é a produção de um filme”, diz.

Ele ainda admite que o tem de experiência lhe falta de conhecimentos técnicos. “Estou desatualizado, isso é uma falha minha e tem muito bom técnico por aí, mas saber na pratica como é fazer cinema são poucos”, diz.

Na loucura de filmar com pouco dinheiro e tempo, ele lembra da última produção, “Fronteira”, que segundo David, foi rodado em 8 dias e com técnicos contratados de última hora.

“É loucura fazer um filme nesse tempo. É quase impossível. Mas tinha que fazer, só tinha dinheiro para 8 dias contados de hotel e comida. Meu negócio é isso: fazer do jeito que dá. Agora para quem tem dinheiro no banco é fácil, pode ficar meses filmando”, diz.

Mas ele não nega os erros da produção a ritmo acelerado. Só meses após o lançamento ele conta que percebeu que faltavam legendas para algumas falas em espanhol e a luz, como outros detalhes técnicos, também tiveram de receber reparos.

Apesar de contar a história da fronteira, o filme já foi exibido em diversas cidades, mas o lançamento oficial em Ponta Porã está marcado para o dia 30 deste mês. “Será um evento luxuoso, com tapete vermelho e tudo, para todo o povo assistir”, diz.

David ainda revela que apesar das falhas o filme já é divulgado no local, por meio da pirataria. “Comprei meu próprio filme por R$1. Uma coisa horrível”, revolta.

Homenagem - A mostra sobre David Cardoso vai até sexta-feira (13) no MIS (Museu da Imagem e do Som), localizado na Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, 3º andar. A entrada é gratuita.

Cada dia um filme da carreira do ator é exibido, às 19h. Hoje a atração é “Possuídas pelo pecado”, amanhã é a vez de “Amadas e violentadas” e na sexta-feira o filme “Festa da boca”.

“Conseguiram escolher filmes que resumem minha carreira, contam um pouco de cada coisa”, avalia David.

Mais informações pelo email mis@fcms.ms.gov.br ou telefone 3316-9178.

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