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Comportamento

"Gangue da Chavasca" já tocou terror por aqui e ainda rende história no Facebook

Lucas Arruda | 14/08/2015 06:56
Foto antiga, com a lembrança da gangue impressa. no alto.
Foto antiga, com a lembrança da gangue impressa. no alto.

Quem viveu a adolescência lá para os lados da Mata do Jacinto deve ter ouvido falar da “Gangue da Chavasca” (com ch mesmo). O nome remete ao órgão sexual feminino, na versão mais chula da palavra. Reza a lenda que se tratava de um grupo chefiado por mulher, que colocava o terror na cidade. Mas também há quem diga que os meninos mandavam e o batismo foi uma homenagem às garotas ou uma menção à "chave de cadeia".

Até hoje, não é fácil encontrar alguém que fale da Chavasca, muito menos tirar alguma informação dos que participaram da gangue, que naquele tempo armava muita confusão e brigas.

Mas Avelino Neto, repórter policial das antigas, lembra que o grupo praticava furtos, porém "fazia mais bagunça do que cometia crimes". "Não era como a violência das gangues de hoje. Lembro que a chefe foi presa. Depois que ela saiu da cadeia acabou mudando para Cuiabá e aí a gangue se desfez", conta Avelino.

A gangue ainda está no imaginário popular, como no da farmacêutica Lucilene Benites Diniz, que mora na Mata do Jacinto há 16 anos. “Quando tinha 15 anos e íamos andar de skate, fazíamos uma roda e os mais antigos contavam histórias da gangue. Sei que as mulheres usavam lâminas na ponta dos cabelos para ajudar em suas brigas”, especula.

Como não é fácil esquecer algo assim, Cláudio Ribas criou há dois anos o grupo no Facebook “A Mata Apavora – Chavasca Forever”, para relembrar histórias e reencontrar os amigos que cresceram juntos na Mata do Jacinto. Hoje o grupo tem quase 800 membros.

O nome é nostálgico. Nos anos 80 e 90, quando os adolescentes se encontravam com gente de outros bairros eles sempre utilizavam o jargão “A mata apavora!”. Sobre a gangue, ele garante que sabe pouco. “Não sei por que eles tinham esse nome, mas foi algo que marcou a Mata naquele tempo”, explica.

Na rede social, o Lado B tentou trocar uma ideia com pessoas indicadas como membros da antiga gangue, mas, apesar de confirmarem a participação, preferiram não dar entrevista. Pelas fotos, muitos viraram “pais de família” e religiosos, com várias postagens de frases sobre a força divina. Mas também tem lembrança de muitos mortos e gente envolvida com droga até hoje.

A foto que deu origem ao grupo no Facebook,.
A foto que deu origem ao grupo no Facebook,.

Mas, cheia de fotos antigas, a página A Mata Apavora - Chavasca Forever serve para lembrar mais das coisas boas do passado. Também tem a função social de ajudar moradores mais jovens do bairro, que perderam o pai ou a mãe cedo e acabam conhecendo um pouco mais sobre eles pela versão dos amigos. “Nós contamos como vivíamos, o que eles faziam, como eram seus pais. Muitos jovens vem nos procurar”, diz o administrador do grupo.

As gírias e apelidos também são lembrados pelos que viveram por lá. A descrição do grupo já diz: “Para quem sabe o que significa: He-man da escola, Pakera do Markito, Volei no Gustavo/Preto, narachiiiis, bar do ponto final...”.

Claudio recorda o significado de alguns: “He-man da escola era um inspetor que cuidava para a gente não pular muro ou chegar atrasado. Pakera do Markito eram onde íamos nos encontrar no fim de semana e lá foi onde nasceu a Gangue da Chavasca”.

Histórias daquela época vivem sendo contadas no grupo da rede social. Um dos moradores mais lembrados é o Mini Boy, que morreu há alguns anos. “Me lembro que voltávamos de uma festa do SESC e voltamos surfando no baú (ônibus)”, diz um membro do grupo em uma das dezenas de fotos do Mini Boy.

Com os relatos, é possível perceber um pouco como funcionava a Gangue da Chavasca. “Uns tinham medo eu tinha uma admiração pela Chavasca, achava massa o jeito de se vestirem. com os sapatos tratorados, Puma, New Balance”.

Um dos lugares de encontro era o “Copacabana”, onde a galera dançava. Para quem não estava no grupo, o sonho era ser aceito. “No dia da inauguração da Praça do Leão, eu como sempre estava na cola deles e um dos metralhas mais o Jabá me disse quer eu ia fazer parte da turma, mas tinha de pagar 5 reais. Eu, besta descolei não o dinheiro mais umas ficha de ônibus e os cara mandaram eu vazar pra casa”, conta um dos seguidores no Facebook.

As histórias lembram também de costumes da juventude na época, como dar nó em pingo d’água para comprar um Canadian, sapato objeto de desejo nos anos 90. Quando o solado tratorado soltava, “era só lançar um Super Bonder e pronto... tava novinho”, lembra um morador da Mata.

Quando o grupo atingiu 500 seguidores, um reencontro foi marcado no ano passado, mas, segundo Cláudio, poucas pessoas compareceram à festa organizada a modo antigo, com R$ 10,00 de cada um.

Agora, ele quer organizar um grande encontro no Parque do Sóter, um ponto marcante da Mata do Jacinto. “Antes lá era uma erosão, virou um grande parque. Aquele lugar mostra como nosso bairro evoluiu”, avalia.

Se alguém souber a real história da Chavasca, por favor, conte para o Lado B!

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