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Comportamento

Casarão erguido durante 37 anos é abraço de Julia, após perder 1 amor e 2 filhos

Casa é a única lembranças para a mulher que viu o marido construir um "castelo" para serem felizes, mas que a morte o levou

Thailla Torres | 02/02/2018 08:07
Julia vive numa casa enorme, o castelo construído para viver com o grande amor, que partiu de repente. (Foto: André Bittar)
Julia vive numa casa enorme, o castelo construído para viver com o grande amor, que partiu de repente. (Foto: André Bittar)

A fachada não tem nada demais. É até bem comum para quem anda pela periferia em busca de histórias e uma arquitetura que merece ser contada. Mas o lugar impressiona pelo tamanho e as paredes chapiscadas, que hoje são uma das únicas lembranças de dona Julia, que durante 37 anos viu o marido construir um "castelo" para serem felizes.

A vida tem sido cruel, levou o esposo de maneira surpreendente e dois filhos, mas ela continua firme, como os móveis que a cercam e parecem ter saído da idade média.

Julia Rolon Prychodco, aparece simpática na escuridão da casa. O lugar, com aproximadamente 1.000 m² ocupa todo terreno em um dos pontos da Vila Piratininga. Tem mais de dez cômodos, entre eles, salas e ambientes ocupados por um mobiliário antigo, todo de madeira pesada.

Jogo de sala, de madeira, que Julia tem há mais de 20 anos. (Foto: André Bittar)
Jogo de sala, de madeira, que Julia tem há mais de 20 anos. (Foto: André Bittar)
Coisas que ganharam valor sentimental. (Foto: André Bittar)
Coisas que ganharam valor sentimental. (Foto: André Bittar)
E a fé que nunca desmoronou, apesar de tantas perdas. (Foto: André Bittar)
E a fé que nunca desmoronou, apesar de tantas perdas. (Foto: André Bittar)

Os móveis antigos também são uma lembrança do marido Antônio Sid Prychodco Rolon, que morreu em 2016, aos 75 anos, após ser atingido por um portão enquanto reformava outra casa, no bairro São Conrado, conta Julia. "Ele trabalhava muito, essa era a vida dele, sempre construindo casa por essa cidade, não parava um dia. Por isso aqui é desse tamanho", justifica.

Ela diz que conheceu Antônio em 1980, quando veio de Porto Murtinho para Campo Grande, a trabalho e  para ajudar uma irmã. "Ele já era dono dessa casa, trabalhava como pedreiro e tinha uns quartos para alugar. Minha irmã estava com uma filha doente e eu vim buscá-la para levar ao médico. Foi aqui que nos conhecemos".

Enquanto exibe cada canto da casa, Julia prefere falar do que Antônio deixou, mas não entra muitos em detalhes sobre o que também levou dois dos quatro filhos que teve. Só se sabe que um deles foi assassinado. "Meus filhos faleceram há algum tempo, mas ainda tenho dois comigo, isso que importa", resume.

Apesar da saudade, ela diz que tenta ser forte, todos os dias. "Foi de repente. Antônio foi embora enquanto trabalhava e eu nunca imaginei que ficaria sozinha dessa jeito. Hoje tudo aqui lembra ele".

Esse era Antônio. (Foto: André Bittar)
Esse era Antônio. (Foto: André Bittar)

A casa que foi sendo construída aos poucos, fala também da rotina que o casal tinha. "As reformas começaram lá embaixo. Ele ia construindo um cômodo atrás do outro, mas como era laje e não tinha telhado, por conta da chuva, ele resolveu erguer a casa", lembra.

Era todo fim de semana assim, mas Julia não se importava. "Geralmente quando ele não estava em obra, continuava pedreiro em casa. Sempre construindo, colocando piso e pintando. Obra aqui nunca parava. Mas não tinha o que fizesse ele desistir, então acostumei".

Enquanto isso, ela cuidava de um bar no térreo da casa e, ao mesmo tempo, estava sempre em busca de móveis antigos. "Eu amo essas coisas. Acho bonito e são os únicos que duram. Porque gosto de arrastar tudo, mudar de lugar e por isso tem que ser algo resistente. Esses móveis que a gente compra hoje em dia, até desmorona", descreve.

Antônio é quem dava apoio para as compras da esposa. "Ele não se importava, até gostava desse estilo. Quando não me dava de presente, eu ia lá e comprava".

Peças que hoje ficam sozinhas no tempo, já que na maior parte dos dias, Julia permanece no térreo. "É muito grande, nem tenho o que fazer aqui em cima. Isso tudo dá muito trabalho".

Sem o marido, que era uma de suas maiores alegrias, hoje ela passa os dias com a saudade. "Tem coisa que não volta mais", reflete. "E ele era uma marido muito bom pra mim. Sabia que ele é um dos poucos homens que fez questão de ter o meu sobrenome quando casamos? Pois é, ele gostava de mim", completa orgulhosa da escolha do marido.

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Baú antigo usado em viagens de trem. (Foto: André Bittar)
Baú antigo usado em viagens de trem. (Foto: André Bittar)
No segundo pavimento, casa vista do lado de fora.
(Foto: André Bittar)
No segundo pavimento, casa vista do lado de fora. (Foto: André Bittar)
Mobiliário antigo é uma das lembranças do marido e da vida feliz que tinha ao seu lado. (Foto: André Bittar)
Mobiliário antigo é uma das lembranças do marido e da vida feliz que tinha ao seu lado. (Foto: André Bittar)
Uma das portas que ainda ficam abertas.(Foto: André Bittar)
Uma das portas que ainda ficam abertas.(Foto: André Bittar)
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