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Comportamento

Cheia de atitude, Mariana saiu da depressão quando conheceu o mundo drag queen

Thailla Torres | 08/11/2016 06:12
Mariana encarna o masculino e faz arte como Damian Black. (Foto: Fabio Mauricio)
Mariana encarna o masculino e faz arte como Damian Black. (Foto: Fabio Mauricio)

A paixão pelas cores e o glamour das drag queens em Campo Grande fez Mariana, de 22 anos, encontrar um novo mundo. Quando encarou uma fase intensa na depressão, saiu do fundo do poço como drag king, fazendo performance, mas sem aquele cabelão ou os cílios postiços. Seguiu para o lado masculino e incorporou uma barba ao visual da noite. 

Mariana Sayuri já era fã do seriado americano RuPaul's Drag Race, que mostra o carisma e talento de uma drag queen. "Eu comecei assistir o reality e fiquei completamente encantada. Fora da televisão, queria mais, ver todo o mundo delas. Elas tem um estilo próprio e quando teve a primeira edição do Corrida das Drags aqui em Campo Grande, eu fui e foi aí que eu comecei ver com outro olhos", conta sobre evento realizado no Bar Valu. 

Apesar da roupa, é a maquiagem que mais chama atenção.
Apesar da roupa, é a maquiagem que mais chama atenção.

A primeira transformação ocorreu há cerca de três meses, quando surgiu o "Damian Black". No rosto, maquiagem garante a produção. Apesar do conceito masculino, cor é o que não falta nos olhos e até no nariz.

A barba é feita com píntura, as vezes ganha um glitter e quando pode, Marina cola pelos tirados de peruca, para dar um tom mais realista à produção. Até estar pronta e se olhar no espelho do Damian Black, são quase 3 horas, para um estilo bastante exótico.

Mariana enfrenta a depressão desde o ano passado. Uma relação amorosa difícil foi o que a levou ao estado de tristeza profunda. "Eu tinha um relacionamento bastante complicado e que vinha muito ruim, acabei terminando na época. Logo veio o diagnóstico de depressão, pânico e ansiedade", descreve falando pouco do que aconteceu.

A saúde emocional veio aos poucos, entre as drags.  "Eu fui uma das primeiras dragking da cidade. Fui fazendo amizade e conhecendo a realidade delas. A primeira vez que fui na casa de uma fiquei assim, encantada. Elas são lindas, é mais do que se montar, é uma arte", detalha.

A vida intensa, que vai além das horas sobre um salto, fez Mariana se aproximar ainda mais de uma realidade muita vezes sofrida. Ela define a relação como "amor", mas ao mesmo tempo uma necessidade de defesa. "Eu amo elas, acho todas maravilhosas. Comecei a me aproximar tanto que se me perguntar, eu sei dizer o nome de cada uma. A vida que elas levam não é só aquela alegria e sorriso. Antes disso, também tem uma pessoa que batalha, trabalha o dia todo, costura a própria roupa, aguenta muita coisa pra estar a noite mostrando a arte" conta.

O trabalho é todo feito por Mariana. (Foto: Arquivo Pessoal)
O trabalho é todo feito por Mariana. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mariana é formada em Letras, mas segue um ritmo de estudos para aprender inglês e alcançar o sonho de fazer intercâmbio na Inglaterra. Nas horas vagas, se dedica a desenhar o rosto de cada uma das drags. Em traços soltos e sempre carregados de muita cor, ela desenha e depois dá de presente com todo amor.

"Consigo ver o estilo de cada uma. Isso enalteceu algo dentro de mim, comecei a desenhar de brincadeira, mas as outras começaram a pedir desenhos e me apoiaram, isso trouxe a vontade de trabalhar com arte", diz.

O conhecimento trouxe ainda o desafio de ir contra o preconceito. “Levanto a bandeira mesmo. Sempre fui feminista e quando eu comecei a entrar nesse meio LGBT foi uma coisa muito forte, principalmente, pela transfobia, sabia que tinha que lutar porque isso atinge diretamente as pessoas que eu amo. Porque se a gente depender de Estado e da vontade das pessoas, nada vai mudar", acredita.

Quanto à intolerância, no lugar de fingir que não percebe nada, é na presença que Mariana impõe respeito. "Eu faço questão de estar ao lado delas. Ao contrário de pessoas que usam o discurso que não tem nada contra, mas sentem vergonha de estar ali. Por isso, eu defendo. Elas são incríveis e o que elas fazem é digno de admiração", declara.

A família drag. (Foto: Fabio Mauricio)
A família drag. (Foto: Fabio Mauricio)
Mariana diz que faz arte. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mariana diz que faz arte. (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando assumiu ser bissexual e revelou a vontade de ser drag, a surpresa veio na resposta da família, que ao contrário de muitas situações, veio para o bem. "A minha família me respeita e me apoia. Alguns ainda buscam entender, mas só deles saberem que isso é uma arte, já é muito importante pra mim", comemora.

Quando Mariana se monta, a supermãe é quem a acompanha nos eventos para fotografar a filha drag king em cada performance. "Minha mãe é de família japonesa, daquelas tradicionalistas, imagino que deve ter sido difícil na cabeça deles (família), mas ninguém nunca se opôs. Tenho muito orgulho, porque minha família está sempre apta a amar e nunca tentou mudar o que eu sou. Minha mãe sabe que eu nasci diferente", declara.

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