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Comportamento

Clientela é fraca, dias são duros, mas Clemente faz tapetes para colorir a vida

Ângela Kempfer | 30/01/2013 07:10
Clemente trabalha todos os dias, na região da Coophavila II. (Foto: Luciano Muta)
Clemente trabalha todos os dias, na região da Coophavila II. (Foto: Luciano Muta)

Pode ser de manhã ou no sol forte do meio-dia, o senhor de 83 anos vive sorrindo, disposto a conversar, entre uma amarração e outra no tapete feito de malha. A cena é tão colorida na região sul de Campo Grande, que vale a parada.

Clemente tem uma disposição formidável para aprender. Há cinco anos descobriu como transformar uma tela e retalhos em tapetes, daqueles da época de vó. Agora vive tecendo. “É pra rejuvenescer. Já estou uns 10 anos mais moço”, brinca, sentado na cadeira, sob as árvores na calçada da avenida de tráfego pesado, na saída para Sidrolândia, altura da Coophavila II.

Na avenida Marechal Deodoro, é um vai e vem de carros, de caminhões, e ele continua ali, devagar, fazendo um tapete a cada 4 dias. “Gosto de cortar a malha, amarrar...fica muito lindo”, comenta.

Vender que é bom nada, apesar de bem acabado, de ser farto em tecido e com preço bom - entre R$ 30,00 e R$ 60,00, conforme o tamanho. “Tem semana que só vendo um, mas tá bom”, diz Clemente.

O que ele gosta mesmo é de ir mesclando as cores e desenhando, principalmente, bandeiras. “A do Brasil fica linda, mas faço até a do Paraguai”, conta.

O ofício ele aprendeu no hospital São Julião, durante a internação de 8 anos por conta da hanseníase. Hoje, curado, considera cada ano de vida uma festa. “Tenho mulher, 5 filhos, casa. Não dá para reclamar”.

Para quem saiu da Paraíba, aos 22 anos, disposto a ganhar dinheiro, chegar a Mato Grosso do Sul foi um tormento. “Primeiro fui para o Paraná, enganado. Disseram que lá todo mundo tava ganhando dinheiro. Que nada. Acabei rodando e caindo aqui, onde virei motorista. Carreguei muita tora lá em Ponta Porã.”

Na fronteira, também encontrou a esposa e o casamento para a vida toda. São 54 anos “com a mesma mulher”, faz questão de dizer.

Com a família nova, veio para Campo Grande e demonstra um orgulho danado ao dizer que levantou “a maior parte desses prédios grandes no Centro”.

Agora, aposentado, na casa simples do bairro Ouro Preto só faz tecer e lembrar. “Desde que sai da Paraíba, há mais de 60 anos, nunca mais vi meus irmãos e minha família...”, comenta.

Mas também não deixa de fazer a propaganda: “A senhora não quer um? Pode colocar na sala, no sofá, na cozinha...O jeito das coisas fica mais alegre, a senhora vai ver”, recomenda.

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