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Comportamento

Com ciclovia pela cidade, Campo Grande pode copiar a revolução das bicicletas?

Paulo Nonato de Souza, de Londres | 07/02/2013 08:09
Ciclista divide espaço com carros em Londres.
Ciclista divide espaço com carros em Londres.

Diferente do trânsito de Campo Grande, onde as motos dividem espaço com os carros nas ruas, em Londres são as bicicletas que estão presentes por toda parte, do centro da cidade aos bairros mais distantes. “Aqui bicicleta virou uma febre. Antes nem tanto, mas desde os Jogos Olímpicos de 2012 eles passaram a usar a magrela para ir a todos os lugares, até para ir a uma festa de casamento. Andam na boa, mesmo de terno e gravata”, conta a três-lagoense Ana Maria Alcântara, casada com um colombiano e que há 8 anos vive na capital britânica.

De fato, o projeto do prefeito londrino, Boris Jonhson, lançado em 2011 e batizado de “Revolução das Bicicletas”, propõe fazer de Londres a capital mundial das bicicletas até 2026 e serve de exemplo até para cidades bem menores, como a capital de Mato Grosso do Sul.

Johnson é o grande incentivador do uso de bicicletas, como alternativa de qualidade de vida, e ele tem fama de não ser do tipo de autoridade que resume a defesa de suas idéias apenas aos discursos. “O nosso prefeito só usa bicicleta ou metrô. É muito comum cruzar com ele de bicicleta a caminho do trabalho na Prefeitura. Muitos já viram e eu também já cruzei com ele na rua. Aliás, ele falava no telefone enquanto pedalava e isso eu não gostei pelo risco de acidente, que é igual a quem fala no celular estando dirigindo um carro”, disse Shirley Wright, natural de Manchester, mas radicada em Londres.

Segundo ela, o prefeito costuma passar pelo bairro de Camden, usando a ciclovia da Euston Road, uma das principais avenidas da cidade, no centro de Londres. Como estou hospedado em um hotel localizado na mesma região, convidei um amigo londrino, também adepto do ciclismo, e fiz plantão durante quase toda a manhã da última quarta-feira para tentar ouvi-lo sobre o fato de ele levar à prática a sua apologia pelo uso de bicicletas,ou apenas fotografá-lo, mas não tive sucesso.

Entre suas propostas de incentivo à população para abrir mão do carro, está o serviço público de aluguel de bicicletas, chamado Barclays Cycle Hire, inaugurado em 2010. Atualmente são mais de 8 mil bicicletas espalhadas pela cidade, com sucesso de uso por londrinos e turistas, até pelo nível de exigência para sair pedalando que é quase zero.

Ponto de aluguel de bicicletas na capital da Inglaterra.
Ponto de aluguel de bicicletas na capital da Inglaterra.

Para copiar - Em Londres o aluguel por uma hora custa 1 libra. Não há necessidade de cadastro prévio, o pagamento pode ser efetuado por cartão de crédito internacional e a devolução pode ser feita em qualquer um dos lugares já estabelecidos pelo sistema implantado pela Prefeitura. No Brasil também há iniciativa parecida, patrocinada pelo banco Itaú em grandes capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro.

“Só tem um problema: o peso da bicicleta. Tem marcha, tem tudo, mas é pesada. Além disso, os pontos de aluguel e de devolução estão apenas na área central”, reclama a paulistana Ana Luiza Rubiano, há dois anos morando em Londres.

O sistema é resultado de uma parceria entre a Prefeitura e o Banco Barclays, que enxergou na iniciativa uma oportunidade no chamado marketing de responsabilidade socioambiental, associando sua imagem a uma proposta ecologicamente correta.

Assim, a marca da instituição está por toda parte. Bicicleta é a nova esperança da tradutora Márcia Teixeira, radicada há 21 anos na capital britânica, que também aderiu ao movimento da Revolução das Bicicletas. “Acontece que o pedágio de 10 Libras por carro para circular no centro de Londres, em vigor desde 2002, não resolveu o problema do congestionamento na área central. Agora a esperança está nas bicicletas e a base da proposta está na qualidade de vida”, ressaltou.

Quando o pedágio foi lançado, o prefeito da época, Ken Livingstone, pretendia usar a medida para atender dois objetivos: diminuir o tráfego no centro de Londres em 10 a 15% e arrecadar pelo menos 130 milhões de libras anuais. “Na verdade, ele só conseguiu mais dinheiro para o cofre da Prefeitura”, avalia Márcia Teixeira.

Diferenças com Campo Grande - No comparativo com o intenso desfile de motos no trânsito campo-grandense, e um número cada vez maior de acidentes fatais envolvendo motoqueiros, aqui em Londres essa estatística preocupante envolve os ciclistas. “Algumas avenidas são de alta velocidade e ainda não possuem ciclovias. Como o inglês é cumpridor de ordem, ele morre e não circula pela calçada. Nem opta por pagar a multa de 30 libras, paga na hora à Polícia Comunitária”, explica Márcia.

Ao contrário da Capital de Mato Grosso do Sul, onde a implantação de ciclovias parece não ter empolgado a população, as últimas pesquisas encomendadas pelo London Passenger Transport Board, correspondente a nossa Agetran, mostram as regiões que ganharam ciclovias com aumento de mais de 50% de novos ciclistas no horário de pico.

No site oficial consta que a cidade pretende aumentar em 400% o número de ciclistas naté 2025. Além de investir na infraestrutura ciclística, com novas faixas de ciclovias e pontos de paradas, o projeto inclui também campanhas de treinamento e educação sobre as regras básicas para pedalar em segurança.

A brasileira Marcia Teixeira vive em Londres e também aderiu ao ciclismo.
A brasileira Marcia Teixeira vive em Londres e também aderiu ao ciclismo.
Ciclovia em Londres com mão invertida, assim como nas ruas e nas estradas.
Ciclovia em Londres com mão invertida, assim como nas ruas e nas estradas.
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