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Comportamento

Com evento no Facebook, Natal Machista fez altar da igreja virar palco de teatro

Igreja diferentona do Tijuca discute temas polêmicos usando grupo de teatro.

Gustavo Maia | 24/12/2018 08:07
Altar da Comunidade Cristã da Região Lagoa se transformou num verdadeiro palco no culto de domingo. (Foto: Gustavo Maia)
Altar da Comunidade Cristã da Região Lagoa se transformou num verdadeiro palco no culto de domingo. (Foto: Gustavo Maia)

Há mais de quatro anos a Comunidade Cristã da Região Lagoa, que fica no Jardim Tijuca, transforma o altar em palco de teatro para discutir temas nem um pouco comuns para uma igreja. Pelo menos não para a ideia de igreja evangélica. Desta vez, o que mais chamou atenção foi o nome do espetáculo: Natal Machista.

Sobre a escolha do tema, tão urgente e ao mesmo tempo tão evitado em tempos natalinos, o diretor do grupo, Carlos Lopes, de 32 anos, explica que optou por encarar a realidade e, de forma descontraída, evidenciar algumas situações em que o machismo acontece.

“A gente queria abordar o machismo, as tradições natalinas, onde, querendo ou não, o machismo acaba inserido, do ponto de vista dos casais, mostrar como eles lidam com isso. A gente não levantou bandeira nenhuma, a nossa ideia não é falar quem tá certo ou quem tá errado, mas mostrar que isso existe e precisa ser discutido. Dentro da igreja tem machismo, dentro da família tem machismo, tem mulher machista também, a cultura brasileira por si só já é machista” admite ele.

Carlos Lopes é profissional de Educação Física e diretor do Grupo Faces. (Foto: Gustavo Maia)
Carlos Lopes é profissional de Educação Física e diretor do Grupo Faces. (Foto: Gustavo Maia)

Carlos é na verdade profissional de Educação Física, mas aprendeu a fazer teatro com o pai desde os sete anos de idade, no Rio de Janeiro.

Morando em Campo Grande há 12 anos, ele diz que tudo começou por conta de seu primo, que era da igreja e acabou contando para o pastor que ele fazia teatro. Foi então que o pastor lhe pediu para montar uma peça com os membros da igreja.

Carlos conta que, por não ser evangélico na época, ficou um pouco receoso no começo, mas depois percebeu que tudo não passava de preconceito. “Quando ele me chamou, eu perguntei ‘posso fazer o que eu quiser?’ e ele disse ‘o que você quiser’, por causa disso eu acabei virando membro da igreja. Antes eu vinha na igreja só pra montar as peças de teatro, mas depois eu comecei a ver que não tinha um bloqueio de nada nesse sentido, que eu podia tratar de vários assuntos”, relata.

Cotidiano do casal pode ser recheado de pequenos preconceitos. (Foto: Gustavo Maia)
Cotidiano do casal pode ser recheado de pequenos preconceitos. (Foto: Gustavo Maia)
Usando o humor, peça mostrou machismo disfarçado. (Foto: Gustavo Maia)
Usando o humor, peça mostrou machismo disfarçado. (Foto: Gustavo Maia)

O grupo, chamado Teatro Faces, já colocou no palco da igreja uma variedade de temas, que vão da política aos problemas de saúde. “A ideia do teatro na igreja é trazer temas seculares mesmo, não só temas bíblicos, e sempre com humor. Com humor fica muito mais fácil da plateia entender, do que dando lição de moral”, acredita. Mas as peças do grupo Faces não apontam o dedo só para os problemas de fora da religião. “Já fizemos peça aqui criticando os cristãos, por exemplo - católicos, evangélicos - tinha pastor pedindo dinheiro com maquininha de cartão, padre vendendo terreno no céu, tinha de tudo”.

Carlos também critica o elitismo praticado pelas igrejas, que segundo ele dificulta a compreensão de temas importantes. “Porque que a maioria das igrejas não explica as coisas de uma forma mais clara para os irmãos? Porque o linguajar bíblico tem que ser tão esquisito e complexo das pessoas entenderem?”, questiona.

Um dos membros da igreja que participa da peça é Adailton Dantas, de 40 anos. Ele explica que “a ideia é transmitir o conteúdo de uma forma mais tranquila, mais descomplicada, sem levantar uma bandeira, sem engessamento. Mostrar que é possível viver no mundo sem tanto extremismo”. Adailton diz que o teatro foi a saída encontrada para tratar de temas delicados de uma forma mais leve e didática, driblando os preconceitos. “Usamos o teatro porque se eu for falar como um religioso, as pessoas podem até nem querer ouvir. Mas no teatro não é a questão religiosa que está em pauta, são questões mais amplas. Não é porque é de igreja que traz uma ideia religiosa das coisas. A gente mostra as coisas do jeito que elas são”, afirma.

Letícia Curvo faz parte do elenco de Natal Machista. (Foto: Gustavo Maia)
Letícia Curvo faz parte do elenco de Natal Machista. (Foto: Gustavo Maia)

A empresária Letícia Curvo, de 35 anos, que também faz parte do elenco, encara a igreja como uma extensão da sociedade. “Estou na igreja há muito tempo, a igreja pra nós já é uma família, e quando o Carlos entrou pra essa família começou a passar as técnicas de teatro pra gente, porque até então a gente fazia teatro, mas de um jeito muito mais leigo”, conta ela, acrescentando que sempre buscaram, com as peças, discutir temas sociais. “É o que a sociedade está procurando - uma mensagem diferente - não uma igreja que complique a Bíblia. A gente tenta mostrar nas peças o nosso dia a dia dentro da bíblia, como viver bem”, explica.

E nesses quatros anos de teatro na igreja, já teve crente que foi visitar e saiu de lá um pouco chocado com o que viu. “Já ouvi que a gente pode ir pro inferno por causa disso, que é muito moderno, que não condiz com a igreja. Mas graças a Deus, a maioria das impressões é positiva. Até essas reclamações dos irmãos mais fervorosos eu acho positivas, porque a peça provocou essa reflexão, a pessoa recebeu a mensagem”, avalia Marcos.

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Grupo mostrou que ganhar máquina de lavar roupa não é o sonho de toda mulher. (Foto: Gustavo Maia)
Grupo mostrou que ganhar máquina de lavar roupa não é o sonho de toda mulher. (Foto: Gustavo Maia)
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