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Comportamento

Com frango assado no cardápio e mesas na rua, Nagibão foi ícone dos anos 80

Naiane Mesquita | 17/11/2015 06:12
Nagib Saad continua no ramo de bares e restaurantes e tem saudades da época do Nagibão (Foto: Marcos Ermínio)
Nagib Saad continua no ramo de bares e restaurantes e tem saudades da época do Nagibão (Foto: Marcos Ermínio)

Depois de um longo dia de trabalho, nada como sentar no bar e pedir uma “porção” de frango assado. Pode parecer loucura, mas na década de 80, um dos lugares mais badalados de Campo Grande fazia sucesso com essa especialidade gastronômica aliada a uma boa música.

O Nagibão ficava na esquina da rua Pedro Celestino com a Maracaju e levava esse nome por culpa do proprietário, o paranaense descendente de libanês, Nagib Saad, hoje com 62 anos.

Na época, um jovem recém-saído do Exército, ele viu na Cidade Morena uma oportunidade de constituir família e aproveitar o comércio. “Tinha 22 anos, 23 anos, dois filhos. Vim para Campo Grande para servir o Exército e fiquei dois anos. Depois, decidi abrir um comércio, era novo, escolhi um bar”, afirma.

A fachada do local era simples e aberta, com mesas na rua (Foto: Arquivo Pessoal)
A fachada do local era simples e aberta, com mesas na rua (Foto: Arquivo Pessoal)

Nagib recebeu a reportagem no atual estabelecimento, a Cia do Peixe. Ao som de Anitta que tocava no rádio, nós conversamos sobre as lembranças daquela época, regada a canções da família Espíndola e de nomes como Carlos Colman e Maria Claudia e Marcos Mendes.

“Em 1979, 1980 eu estava na rua Marechal Rondon com a Rui Barbosa. Era um bar de esquina, mesa na calçada, foi ali que tudo começou. Houve um acidente e o local pegou fogo. Tinha um bar que não fazia muito sucesso chamado Chique Chique. Eu negociei na época e transformei no Nagibão”, relembra.

No primeiro local não havia música ao vivo, um “erro” que foi consertado por Nagib. “O primeiro que contratei foi o Celito Espíndola, depois veio o Geraldo, a Tetê morava em São Paulo e a Alzira trabalhou lá também. Hoje está todo mundo velhinho. Lembro que o Jerry era pequenininho, ia só para ouvir”, ressalta.

Campo Grande, segundo Nagib, era uma cidade pequena, mas o consumo de álcool era de gente grande. “O consumo de cerveja era tão grande que eu confeccionei um freezer no meio do salão para dar suporte. Eu colocava 100 caixas de cerveja, com caixa e tudo, era a venda de um dia. A gente vendia 2 mil, 2,4 mil cervejas por dia, imagina a quantidade de gente”, explica.

Nagib no caixa do Nagibão nos anos 80 (Foto: Arquivo Pessoal)
Nagib no caixa do Nagibão nos anos 80 (Foto: Arquivo Pessoal)

Dessa farra surgiu a fama de que o Nagibão uniu muitos casais, mas também separou muita gente. “Tem pessoas que me param na rua e falam que conheceram o marido no meu bar, outras que terminaram por causa do bar. As pessoas eram totalmente diferentes, tinha mais segurança, menos briga, qualquer tumulto eu que resolvia. Os bêbados que sobravam a gente levava em casa, todo mundo se conhecia. Todo mundo andava armado, mas não tinha confusão, não tinha tiro”, reforça.

Além da comida comum de bar, o Nagibão já foi conhecido como Nagibrega justamente por causa do frango assado. “Eu tinha aquelas máquinas, televisão de cachorro mesmo. Aquilo era muito brega, jamais daria certo hoje”, ri.

Com o tempo, Nagib acabou cansando. Fechou o bar em 1994, não sem antes comprar a concorrência, chamada de Botequim e abrir com o irmão o restaurante Manura. Depois, decidiu seguir por outros caminhos do comércio.

“As coisas foram evoluindo, eu quis dar outro segmento a minha vida. Campo Grande virou Capital, começou o corre corre, você não tinha mais toda a segurança de trabalhar do regime militar. As confusões se tornaram mais frequentes depois da abertura política, o mundo todo mudou, Campo Grande também”, acredita.

Ele diz que chegaram a criar uma comunidade na internet chamada “Os órfãos do Nagibão”, mas que não teve mais notícias da página. “De vez em quando fazem uma homenagem, já tem dois ou três livros que me citam, teve muitas histórias, muitas coisas começaram aqui, partidos políticos, reuniões políticas, casamentos, como eu disse, muitas histórias”.

Onde nos anos 80 ficava o Nagibão hoje só restam cinzas. No local funcionava a churrascaria O Laçador, que foi praticamente destruída por conta de um incêndio em agosto deste ano. "Fiquei muito triste quando eu vi", lamenta Nagib.

Estabelecimento famoso em Campo Grande ficava na Maracaju, onde funcionou por anos a churrascaria O Laçador (Foto: Marcos Ermínio)
Estabelecimento famoso em Campo Grande ficava na Maracaju, onde funcionou por anos a churrascaria O Laçador (Foto: Marcos Ermínio)
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