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Comportamento

Com tanta opinião absurda, comentários chamam mais atenção que reportagens

Elverson Cardozo | 29/01/2014 06:26
Com tanta opinião absurda, comentários chamam mais atenção que reportagens

De tanto ouvir que os comentários são a melhor parte deste jornal, o Lado B resolveu falar sobre o assunto. Alguém vai dizer, com certeza, que o veículo já foi melhor e que esta matéria é desnecessária. É sempre assim. De tão comum, virou regra. Nem causa mais espanto.

Mas, se tratando de leitor, dos comentários propriamente ditos, não dá para generalizar. Seria um erro porque existe de tudo um pouco, das opiniões bem embasadas e coerentes, que dão gosto de ler, às absurdas, que não fazem o menor sentido e, aliás, revoltam.

Não fosse a moderação, o campo destinado às opiniões, no Campo Grande News, ou em qualquer jornal eletrônico, seria uma terra sem lei, com ataques pessoais, apesar das regras claras de participação.

Algumas coisas, de tão baixas, são impublicáveis. “Sempre tem alguém que xinga, fala palavrão. É comum. Tem as políticas do site, mas não sei se as pessoas leem porque algumas não respeitam”, conta o estagiário do jornal, Paulo Francis, responsável pela liberação dos comentários.

Xingamento é o de menos. Pior são as opiniões sem pé nem cabeça que aparecem não se sabe de onde em tantos espaços abertos ao leitor nos jornais online. Um exemplo? Basta lançar uma matéria com temática polêmica, sobre qualquer assunto tabu, que logo aparece um para “avisar” que Jesus está voltando, como se alguém tivesse perguntado.

Isso quando não “chovem” citações soltas da Bíblia, sem o mínimo de coerência. Nada contra religião ou fé de ninguém, mas bom senso não faz mal. O problema é que, pelo visto, isso, por aqui, está em falta.

A prova são os comentários que ultrapassam a linha aceitável e beiram o preconceituoso. Dias desses o Lado B publicou uma reportagem sobre o morador de rua que tem uma “coleção” de objetos tecnológicos.

Com tanta opinião absurda, comentários chamam mais atenção que reportagens

Passaram-se alguns minutos e logo apareceu alguém para dizer, no Facebook, na Fanpage do site, que os aparelhos eram roubados. O curioso é que, na hora da entrevista, Sandro, o personagem em questão, mostrou as notas fiscais à jornalista. Garantiu que não pegou nada de ninguém e que comprou tudo usado.

Na Polícia, não há qualquer boletim de ocorrência registrado contra ele. Seria maldade das pessoas ou a suspeita tem, de fato, fundamento? É de se pensar. Julgamento é de praxe. A notícia da jovem de 21 anos que tentou suicídio, pulando do viaduto da Avenida Ceará com a Afonso Pena, na semana passada, é um exemplo típico.

Ninguém sabe os motivos que levaram ela a cometer um ato tão desesperado, nem a própria família, mas bastou uma nota sobre o caso para aparecer comentários do tipo:

“Nossos jovens precisam de família e um pouco de obediência aos seus pais. Também precisam de uma religião...”

“O Brasil paga para os jovens fazer cursos, estudar, mas eles não tão nem aí. Só querem beber, se prostituir e usar drogas...”

“O Brasil tem que investir na vida dos jovens, afinal as drogas estão acabando com a vida do Brasil”.

Espera aí. Quem disse que a moça não tem família, que não respeita os pais, não estuda, não tem religião, costuma usar drogas e se prostituir? Quem disse isso? Enquanto uns exercitam a imaginação fértil, sem qualquer constrangimento ou preocupação com as grosserias e acusações públicas, existem aqueles que, felizmente, mostram inteligência ou, pelo menos, compreensão:

Com tanta opinião absurda, comentários chamam mais atenção que reportagens

“Quero acreditar que vocês postaram na reportagem errada. Não é possível que em pleno século XXI ainda tem gente tão desinformada e ignorante...”, escreveu um leitor, nesta mesma matéria. Um ateu convicto também não aguentou ler tanto absurdo e protestou.

“(...) Na cabeça dessa gente doente, todo ateu é infeliz. Pois bem, meus amigos, eu sou ateu convicto, sou muito feliz e nunca pensei em suicídio. Tenho uma vida tranquila, esposa e filhos lindos. Então, não julguem pela ótica de vocês, pois cada pessoa é única e cada um tem sua vida e seus problemas”.

Esses tiveram paciência. Há que aperte a tecla Caps Lock para “gritar” um “CALA A BOCA” sem cerimônia. Acaba lavando a alma de todo mundo. O curtir na frase do “corajoso” é imediato. Uma resposta à violência gratuita.

Na mídia nacional - Esse comportamento do leitor pode ser observado, inclusive, nos grandes portais de notícias. É o reflexo da interatividade, tão importante. As matérias da Folha de São Paulo, por exemplo, sempre geram opiniões conflitantes, especialmente quando o assunto é polêmica.

Mais do que reportagens, os internautas mais antenados parecem gostar mesmo é dos comentários, tanto é que ficam na espera.  Chega a ser engraçado. As opiniões chamam tanto a atenção que existe até páginas dedicadas a elas. Uma delas é o “Pérolas do Globo”, que tem 37,3 mil seguidores no Facebook.

Fazendo uso de montagens, o administrador apresenta, todos os dias, uma espécie de resumo das melhores “tiradas” publicadas nos jornais eletrônicos. Até os assuntos sérios, como o “rolezinho”, viram piada.

A coleção de comentários “fora da casinha” é mesmo um “fenômeno”. Além das “brincadeiras”, o recurso é utilizado, muitas vezes, para críticas nada construtivas. É engraçado perceber que tantos leitores conseguem ignorar o fato do jornal possuir uma editoria específica para tratar desses assuntos mais leves que, aliás, tem público, e outras tantas para falar de “coisas sérias”.

Cobram matérias mais densas, falam que a qualidade caiu por conta das “gracinhas” nos textos de comportamento, mas leem, comentam, e, pelo visto, ignoram os outros títulos – cerca de 120 - publicados diariamente. Tem tanta coisa “pesada, importante e relevante”. Porque não pesquisar? Gosta desse tipo de jornalismo? Utilize a busca por “editoria”. Fica à esquerda, no topo do site. Terceiro botão. Não custa nada.

“É que o leitor não perdoa”. Ouvi isso na faculdade. Só acreditei quando comecei a trabalhar. Realmente. O leitor não perdoa. Também ouvi: “tem muita gente sem noção”. É verdade. Tem muita gente sem noção. Mas opinião é opinião. Cada um tem a sua. Respeitamos. Que venham os comentários.

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