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Comportamento

Com tanto textão inflamado na internet, convocamos os indignados para as ruas

Depois da votação que inocentou Michel Temer, o Lado B desafiou os amigos para um protesto na Afonso Pena. Sabe quem apareceu?

Lado B | 03/08/2017 09:43
Um protesto "De 4" no dia em que o Brasil reclamou muito nas redes sociais sobre a corrupção no País.
Um protesto "De 4" no dia em que o Brasil reclamou muito nas redes sociais sobre a corrupção no País.

A cada minuto surgia na timeline um texto revoltado falando do golpe e da hipocrisia nacional. A indignação ganhou força à tarde, dominou a noite e Michel Temer foi massacrado por milhares de dedos combativos nos teclados de celulares e computadores. Era tanta gente inflamada que o Lado B resolveu puxar a caravana, ir para as ruas, organizar a manifestação real, depois que a Câmara dos Deputados decidiu pelo arquivamento da denúncia por corrupção passiva do presidente.

Se a gente já encarou uma noite de swing em Campo Grande, um protesto seria fichinha.

Com o kit básico em mãos (bandeiras do Brasil e panelas), logo após a votação acabar, a equipe de quatro pessoas seguiu para a Afonso Pena, repetindo o endereço de protestos contra a corrupção no governo do PT. O negócio ia bombar ali, na frente do Ministério Público Federal. Não tinha como dar errado, só faltava uma oportunidade para tanta gente que reclamou do silêncio finalmente fazer barulho e reivindicar um País sem pilantragem, ao vivo e em verde e amarelo.

Para a convocação pública, cada um postou fotos em seus perfis nas redes sociais chamando os amigos. Durante uma hora, milhares de pessoas passaram pelo local. De carro. 

Ninguém parou, chiou ou queimou bandeira. Só o proletariado, seguindo de bicicleta para mais um turno de trabalho, aceitou trocar uma ideia sobre a data histórica (graças a insistência dos manifestantes). A família de 6 em um Chevette 95, caindo aos pedaços, também participou, mas apenas durante o tempo que o semáforo fiou vermelho.

O cara do carrão Jaguar, o bonitão da caminhonete, a galera que chegava para gastar uma grana no sushi mais caro da cidade, acharam foi graça. Mas isso nem chegou a ser decepcionante. Chato mesmo foi vestir o tênis surrado, criar as frases de efeito e não tirar ninguém das redes sociais, nem oferecendo um super cenário para as selfies da Quarta-Feira de Cinzas fora de época.

Por fim, a manifestação "Fora Temer" virou protesto contra textão na internet.  Mas teve direito até a carreata de um veículo só.  

A seguir, as impressões dos 4 sobre uma noite ao som de duas panelas na Avenida Afonso Pena.

Foto dom Eduardo, postada no Facebook para convocar os paneleiros.
Foto dom Eduardo, postada no Facebook para convocar os paneleiros.

Eu queria poder dizer que fiquei chocado com o silêncio gritante que dominou a cidade após o arquivamento da denúncia contra o presidente Michel Temer. Mas, sinceramente, não foi surpresa nenhuma. Temer não tem origem pobre e trabalhadora, não é mulher, não é nordestino, não é do PT, nem negro ou índio... ou seja, ele pode praticar corrupção à vontade, com aval da população brasileira, que o considera digno de roubar e fazer o que bem entende.

É assim que o brasileiro trata os poderosos, especialmente homens, brancos e nascidos em berço de ouro. Então, eu realmente não esperava que os batedores de panela voltassem a acampar em frente ao Ministério Público do Estado, na Avenida Afonso Pena. Alienados que são, eles só protestam contra Lula e Dilma e nada mais.

Porém, fica a dúvida: cadê a esquerda, os movimentos sociais, os trabalhadores cientes dos abusos cometidos pelo Temer, PMDB e PSDB? Bom, eu me incluo nessa. Eu estava na redação, indignado mas conformado, até que minha editora me chamou: vamos protestar nós mesmos, sozinhos, nas ruas! Achei a ideia maluca, mas fui (é minha chefe, afinal).

Fiz um post nas redes sociais, ironizando mas também chamando os amigos ao protesto, especialmente, os paneleiros que ano passado estavam tão revoltados e sedentos pela "democracia". Pois bem. Muita gente curtiu, mas ninguém foi. E eu também não iria, se fosse eles. A gente perde a esperança, com a oposição tão desorganizada, desmotivada, perdida... Só há mobilização quando são protestos financiados pela extrema direita, por partidos políticos e pelo empresariado, cheio dos interesses próprios.

O problema nunca foi corrupção, já está mais do que evidente.

Bom, como foi o protesto? Uma baderna, é claro! A gente gritou muita coisa séria, mas também muita bobagem. Chamamos atenção de pouquíssima gente. Sabe aquele povo que adorava buzinar e fazer estardalhaço até antes do impeachment? Está todo mundo quietinho, tímido, ferrado de todas as maneiras, mas satisfeitos.

Enfim, me enrolei na bandeira do Brasil, fui chamado de coxinha por um ou outro, e não tive tempo de explicar que só estava com frio! Mas o melhor de tudo foi gritar com todas as força: Fora Temer, e sentir que, pelo menos, eu tentei fazer algo em um dia tão trágico e vergonhoso para o País. Adiantou alguma coisa? Nada, mas minha consciência está 1% melhor.

Eduardo Fregatto

Thailla estreando nas manifestações.
Thailla estreando nas manifestações.

Confesso que nunca participei de um protesto, nem sai às ruas pela derrubada da ex-presidente Dilma Roussef. Mas sei que não faltaram paneladas, ruas lotadas e até bares com programação especial na cidade para assistir a ''democracia'' em votação semelhante a que ocorreu ontem em Brasília.

A mesma luta e causa pelos direitos de um povo não vestiram nenhuma esquina da cidade de verde e amarelo. Ninguém gritou contra a corrupção de Michel Temer. O manifesto não saiu da zona de conforto.

Nas redes sociais, não faltou textão. Por isso, chamei meus amigos para o protesto quase solitário do Lado B. Só recebi como respostas alguns "oi?" como questionamentos. No máximo, conseguimos algumas buzinadas.

A experiência de uma hora provou que dessa vez o povo parece estar bem menos incomodado, ou melhor dizendo, bem mais acomodado. 

Thailla Torres

Imagem postada por Samuel para chamar a galera para o protesto.
Imagem postada por Samuel para chamar a galera para o protesto.

As redes sociais viraram um grande depósito de frustrações, há anos. A terra de ninguém é um campo de guerra que vai do “amei” a carinha brava rapidinho. Os motivos são muitos, a finalidade? Nenhuma. Na manifestação que fizemos contra o textão na internet a galera até passou. Alguns gritavam "coxinha" outros lançavam um "petralha" de dentro do carro, sem nem saber do que se tratava o movimento de 4 pessoas.

No dia em que o presidente corrupto ficou numa boa e se livrou de ser investigado, graças aos amigos parlamentares, vi vários textões nas redes sociais, mas ninguém nas ruas de Campo Grande.

Ficamos mais de uma hora na Afonso Pena chamando a galera no Facebook e Instagram e ninguém apareceu. No caso das pessoas que me seguem, a maioria achou que era zoeira e outros, como são quebrados, sem carro, nem conseguiriam ir de imediato. Mas as redes sociais também se calaram diante da minha convocação, nem texto de apoio surgiu.

Para não ser injusto até acho que textão viralizado ajuda, mas se não viralizar...

Samuel Isidoro

Saldo do protesto de Ângela: um tênis imundo e uma panela que já não serve para nada.
Saldo do protesto de Ângela: um tênis imundo e uma panela que já não serve para nada.

Tenho muitos amigos de esquerda entre os contatos das redes sociais. Por isso, sempre que algo errado rola no Brasil, eles conseguem acender o fogo vermelho da indignação dentro de mim. Ontem, sai do jornal às 19h pensando em tomar aquele banho demorado, já calculando como cortaria as calorias do jantar e sobre qual seria a postagem da noite em homenagem à política brasileira.

Não sei explicar o motivo, mas ao cruzar o Centro de Campo Grande entendi que a noite era boa mesmo para desafiar as pessoas e ver se alguém apareceria para protestar nas ruas,  longe das redes sociais. Corri para casa, vesti o tênis e a camisa jeans, peguei a bandeira do Brasil, arrumei duas panelas e convoquei minha equipe a chamar as pessoas para a Afonso Pena.

Como nessa relação ninguém é doido de recusar convite de chefe, os 3 repórteres do Lado B engrossaram o movimento. Ali, a proposta jornalística era observar como as pessoas reagem quando são desafiadas a sair da zona de conforto.

É claro que a grande maioria preferiu rir ou chamar a gente de loucos. Mas a noite lavou a alma. Não sinto mais o silêncio das panelas. Perdi uma frigideira graças as porradas de indignação. Recebi o apoio dos 2 melhores amigos, que encararam o convite maluco com tanta revolta quanto eu.

Meu olho voltou a brilhar vendo a reação de um deles em especial, assim que a nossa carreata de um veículo só ganhou as ruas da cidade.

Ele é o cara mais coxinha que consigo amar.  Nasceu no interior e agora luta para ter uma vida extraordinária. Não tem ideais de esquerda, acha que Cuba é o pior lugar do mundo e que o PT foi o partido mais ladrão da história. No entanto, na quarta-feira, se emocionou gritando "Fora Temer". Berrou mais do que qualquer outro. Primeiro inventava frases para fazer graça, até que a coisa foi ficando séria e cada palavra dita passou a gerar uma reflexão dentro do carro em movimento. Por fim, pareceu satisfeito por ter colocado para fora o que intoxicava o coração de um brasileiro classe média.  

Ângela Kempfer

 

 

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