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Comportamento

De Corumbá, Kleper Reis causa polêmica em Salvador com exposição "Cu é Lindo"

Thaís Pimenta | 22/07/2018 08:16
Exposição Cu é Lindo está no Goethe-Institut e segue aberta para maiores de 18 anos até dia 12 de agosto. (foto: Reprodução Bahia Notícias)
Exposição Cu é Lindo está no Goethe-Institut e segue aberta para maiores de 18 anos até dia 12 de agosto. (foto: Reprodução Bahia Notícias)

Nascido em Corumbá, o artista Kleper Reis, de 36 anos, está criando uma super polêmica em Salvador Pelo nome da exposição, a gente já percebe o tamanho do escândalo instalado: "Cu é Lindo". No Goethe-Institut, uma série de imagens e frases refletem sobre a desnaturalização das relações sociais relacionadas a sexualidade e gênero. A mostra começou no dia 12 deste mês e segue até dia 12 de agosto, se alguém não proibir.

De acordo com o próprio artista, "a exposição é a revelação de uma vida em ação que está se realizando e consequentemente se curando. Desdobra-se na liberdade de amar e no acolhimento familiar".

Kleper já esperava o tumulto por conta de sua obra. "Tenho consciência da força e relevância de minha obra artística. Minha vida na arte é marcada por censura e falta de apoios financeiros. Trabalho em uma região delicada e muito necessária. Lido com as sombras da sociedade. Meu trabalho tem sangue, suor, inspiração, sêmen, estudo, pesquisa científica e valentia,", resume.

São sete anos de trabalho para finalmente a exposição ficar pronta, por isso, ele diz ser óbvio que a intenção não foi polemizar, pois é mais sensível que isso. Trata-se de uma manifestação criativa dos caminhos do imaginário de Kleper.

O artista saiu de Corumbá com quatro anos de idade e nunca mais retornou. Seus pais se mudaram por motivos profissionais e ele, que sempre teve uma inclinação para as artes, decidiu tomar coragem por volta de 2001 e largar a graduação em Economia para estudar artes. "Neste mesmo período, fui embora da casa de meus pais, mudei de estado, para poder criar coragem de ser quem eu era e me criar. Foi difícil, mas a arte sempre me ajudou a superar os traumas e as discriminações por minha condição homossexual".

Um dos cartazes expostos na exposição.
Um dos cartazes expostos na exposição.

"É o espaço onde todas estas possibilidades de comunicação e integração e viver bem se encontram e se influenciam mutuamente. Sou eu, Kleper Reis, contando a minha história de vida através de alguns suportes artísticos. Compartilho minhas memórias afetivas e derramo o meu amor".

A vida foi complicada até aqui em muitos aspectos. Então ele resolveu expor a emoção de lidar com a censura, as memórias das violências e dos espancamentos sofridos, as discriminações e os preconceitos sociais, as imagens do inconsciente e as notícias diárias transmutadas em potência autocurativa e em veículo de integração por meio da arte.

Assim como ocorreu com outras exposições de cunho artístico reflexivo sexual, tanto em Campo Grande, quanto em outras cidades brasileiras nas mostras La Bête e Queermuseu, "Cu é Lindo" faz parte do Devires, um projeto artístico que reúne artistas de vários estados e de fora do país, e apresenta performances, exposição, mesas de debate, oficinas e outras atividades correlatas, na abordagem de questões que censuram a liberdade da diversidade de corpos existentes.

Quem é contra tem a opinião de que a exposição é na verdade um atentado ao pudor. Os do contra reclamam porque o projeto foi contemplado pelo Edital de Dinamização de Espaços Culturais, e teve apoio financeiro do Estado da Bahia, por meio do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura da Bahia.

Um dos primeiros a se pronunciar sobre o assunto foi o vereador Alexandre Aleluia (DEM) de Salvador, que classificou “Cu é Lindo” como “lixo travestido de arte” e criticou o governo do Estado pelo apoio financeiro. Depois dele, diversas autoridades se mostraram incomodadas com a exposição e o assunto ganhou repercussão nacional.

Kleper sente a revolta dos que, para ele, "são orientados pela sanha da cultura do ódio ou pela bestialidade do moralismo". "Canalhas genocidas e sanguinários. Não esperava ser usado como joguete político ordinário. Não esperava tamanho desrespeito e violência homofóbica. Até tentaram me fazer pedófilo de mim mesmo. Bizarro!", finaliza ele.

Na contramão, outros grupos se movimentaram a favor da exposição, como foi o caso do Grupo Gay da Bahia (GGB), que lançou um artigo público em defesa do artista e de seu trabalho. No texto, eles defendem a "liberdade de expressão, principalmente, nas esferas das artes plásticas, música, dança, teatro, áudio, visual e multímodos".

No presente momento político-social em que se inserem os LGBT’s em relação à produção cultural integrada, conquista de territórios de identidades e utilização dos espaços públicos, o GGB compreende que essa representação artística, sim, contribuiu no combate ao conservadorismo, garante a visibilidade política. Para o grupo, também serve para que os extremistas "vomitem a sua LGBTfobia". "Isso é lindo, porque a gente começa a ver esses caras-pálidas e dizer as amigas não vota nele não”.

Na avaliação do GGB, "a crítica perversa e capciosa de extremistas políticos a essas expressões culturais possuem em seu cerne a indução da população ao erro de demonizar os LGBT’s, inclusive associando uma população que representa 10% do povo brasileiro a comportamentos considerados, inclusive por nós, como inadequados".

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