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Comportamento

Dedicadas, Claúdia e Luiza não cantam, mas brilham nos bastidores do karaokê

Duas mulheres que amam o karaokê e fazem de tudo transformar uma apresentação em um momento incrível

Thailla Torres | 08/08/2017 06:20
Claúdia se dedica a produção artística dos candidatos. (Foto: Neiba Ota)
Claúdia se dedica a produção artística dos candidatos. (Foto: Neiba Ota)

O karaokê é uma paixão para os desinibidos que preservam e promovem a cultura nipônica. Mas é também um estilo de vida para quem se dedica tanto fora dos palcos. O que Cláudia e Luiza tem em comum? Duas mulheres que amam o karaokê e fazem de tudo para transformar uma apresentação em um momento incrível, mesmo que todo reconhecimento seja só para os que tem a coragem de subir ao palco.

Claudia Okada, 47 anos, ganhou destaque nos karaokês pelo talento na costura e na maquiagem. Ela trabalha como maquiadora, mas chega abrir mão do serviço aos fins de semana só para dedicar seu tempo  à produção artística dos cantores.

O amor pelas canções japonesas surgiu na família, embora nunca tenha subido em um palco, Claúdia tem um compromisso com os bastidores. "Em nossa cultura crescemos ouvindo o karaokê e desde criança isso me fascinava. Acabei me dedicando as crianças, e mesmo não cantando, me sinto parte do evento", diz.

Ela também costura e cria roupas de acordo com as canções. (Foto: Neiba Ota)
Ela também costura e cria roupas de acordo com as canções. (Foto: Neiba Ota)

A ligação tem apego afetivo. Dedicada, ela abraça o sonho de quem treina horas para cantar. "É um momento lindo. Crianças e adultos quando cantam, fazem por amor. A única coisa que posso fazer é dar o apoio e segurança a eles".

Quando alguém chega com a música para Claúdia, ela pensa no figurino de acordo com a letra. "Procuro atender da cabeça aos pés, mas quando chega uma roupa, abraço o sonho das pessoas e mostro no figurino. Afinal as músicas japonesas tem significados muito importantes, então a gente tenta colocar uma característica na peça", explica.

O amor é tanto que a maquiadora contrariou os médicos para viajar no brasileirão de karaokê que aconteceu em São Paulo. "Tive uma crise de labirintite, mas no processo de achar alguém para me substituir na viagem percebi que não ficaria bem longe da turma. Procurei meus médicos e pedi licença para viajar. E foi a melhor coisa que eu fiz", diz.

Disposta e encorajada, Claúdia maquiou e vestiu dezenas de pessoas durante o festival. O retorno foi tranquilo, mas com sentimento de satisfação. "Eu falo que o karaokê não é só cantar, é encantar a todos. E é assim que me sinto toda vez que participo, não tem valor que pague este momento", declara.

Outra apaixonada é dona Luiza Okamura que chama atenção toda vez que alguém sobe ao palco. Aos 68 anos, ela também não tem coragem de cantar, mas fica nos bastidores levantando a torcida para que os sul-mato-grossenses levem a melhor.

Há 30 anos ela dedica seu tempo a acompanhar a filha e outros cantores em competições pelo Brasil. De tão apaixonada por karaokê, ela já calcula participação em cerca de 30 festivais nacionais.

Dona Luíza é quem faz questão de mostrar Mato Grosso do Sul para o mundo. (Foto: Neiba Ota)
Dona Luíza é quem faz questão de mostrar Mato Grosso do Sul para o mundo. (Foto: Neiba Ota)

A paixão começou quando a filha passou a cantar um repertório japonês sem nunca ter falado o idioma. Luiza é descendente, mas admite que até hoje também não sabe a língua, mas nunca abriu mão de incentivar a filha, uma maneira também de manter a tradição na família que ela teme perder.

“O karaokê é muito forte em nossa cultura. E a cada geração parece que vão ficando menos dedicados. Então um pouquinho que a gente faz, já é valido para manter isso forte”, acredita.

Luiza faz parte da Abrac (Associação Brasileira da Canção Japonesa) e para garantir participação em festivais, ela paga um salário mínimo do próprio bolso pelo sonho de ver outras pessoas cantando.

“É como diz o ditado, quem canta seus males espanta e só a música é capaz disso”, explica Luiza, que apesar da paixão, prefere ficar fora do palco. “Sou uma apreciadora, por isso estou sempre ali acompanhando. É amor mesmo”.

Ela diz que no começo não cantou por falta de incentivo, hoje prefere deixar o ofício para os mais jovens. “Continuo acompanhando minha filha e não quero cantar. Apenas ajudá-la nos estudos, porque parece fácil, mas não é. Tem que levar o karaokê muito a sério”, diz.

Diferente do karaokê conhecido por aí que oferece folhas de papel impressas e uma infinidade de músicas para escolha, na tradição japonesa o cantor sobe ao palco com a letra decorada. Mas só leva a melhor quem quem tiver uma boa afinação, interpretação e com os versos na ponta da língua.

"Eu acho incrível que até hoje minha filha não fala japonês perfeitamente, mas ela estuda cada letra para saber o seu significado. Depois ela interpreta lindamente. Não é porque sou mãe, mas sou fã dela", declara Luiza.

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