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Comportamento

Desobediência ou erro? Forte Coimbra rendeu perda de patente e até deportação

Verdade ou lenda, o Fecho dos Morros resistiu, misteriosamente, a todas as ocupações militares como a história prova

Danielle Valentim | 14/10/2019 06:30
Fundação do Presídio de Coimbra, em 13 de setembro 1775. (Foto: Arquivo)
Fundação do Presídio de Coimbra, em 13 de setembro 1775. (Foto: Arquivo)

As histórias que envolvem Mato Grosso do Sul podem até ser novas, mas as de seus patrimônios atravessam séculos. Um registro curioso sobre a construção do Forte Coimbra, em 1775, reforça um debate entre um suposto equívoco geográfico ou desobediência que renderam perda de patente e até deportação.

Em estudos sobre a história Fecho dos Morros em Porto Murtinho, da Caracterização Histórica Básica de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e construção de Forte Coimbra, o professor e historiador Braz Leon aponta fatos, certamente, desconhecidos pela maioria dos sul-mato-grossenses.

O Lado B teve acesso aos registros, que iniciam com a chegada do capitão Luís de Albuquerque De Mello e Pereira Cáceres, em 1771, o primeiro governador da Capitania Geral de Mato Grosso.

Vale ressaltar que um “presídio”, à época, era um estabelecimento militar de colonização.(Foto: Arquivo)
Vale ressaltar que um “presídio”, à época, era um estabelecimento militar de colonização.(Foto: Arquivo)

A construção do Presídio de Coimbra surgiu, especificamente, para conter o avanço espanhol e o domínio dos índios Paiaguás sobre o Rio Paraguai. Era necessário a demarcação das terras da região atual de Mato Grosso do Sul. Vale ressaltar que um “presídio”, à época, era um estabelecimento militar de colonização.

O Fecho dos Morros a cerca de 60 km ao norte da atual cidade de Porto Murtinho teria sido o local indicado ao capitão Mathias Ribeiro da Costa, militar designado para cumprir a missão.

A expedição guiada por um índio e composta por 245 homens – distribuídos em 15 canoas e divididos em três grupos - saiu de Cuiabá no dia 22 de julho de 1775 e chegou onde Mathias “imaginava” ser o Fecho dos Morros, no dia 13 de setembro de 1775.

Equívoco e punição - O Presídio de Nova Coimbra foi fundado à margem direita do Rio Paraguai, um erro geográfico porque, na verdade, ele estava na localidade denominada Estreito de São Francico Xavier, 44 léguas acima do Fecho dos Morros.

Pelo erro histórico, capitão Mathias teria sido severamente punido pelo governador Luís de Albuquerque. Mathias foi destituído do comando do presídio, perdeu a patente militar, foi proibido de exercer a função pública, além de ser deportado para a África.

Após o reconhecimento dos motivos que levaram Mathias a abandonar a ideia de ocupar o Fecho dos Morros e construir o presídio em Coimbra, dezesseis anos depois, em 29 de dezembro de 1791, o capitão teve a patente de capitão devolvida e foi nomeado para o cargo de fiscal da Renda Intendência e Casa de Fundação.

Tudo faz parte da mesma região, em Porto Murtinho. (Foto: Fazenda Conceição)
Tudo faz parte da mesma região, em Porto Murtinho. (Foto: Fazenda Conceição)
Vista aérea do Morro Pão de Açúcar. (Foto: Fazenda Conceição)
Vista aérea do Morro Pão de Açúcar. (Foto: Fazenda Conceição)
Fecho dos Morros fica próximo ao Morro Pão de Açúcar, ambos dentro da Fazenda Conceição. (Foto: Fazenda Conceição/Arquivo)
Fecho dos Morros fica próximo ao Morro Pão de Açúcar, ambos dentro da Fazenda Conceição. (Foto: Fazenda Conceição/Arquivo)

O real motivo nunca foi revelado, mas acredita-se que alguns dos motivos que levaram à desobediência foram a distância entre Cuiabá e o Fecho dos Morros, 20 dias de canoa, e por medo do local, á época, dominado por índios guaicurus.

Ocupações fracassadas – Essa teria sido a primeira tentativa de ocupação do Fecho dos Morros. Depois disso houve mais cinco tentativas de ocupação militar entre os anos de 1850 e 1937, mas todas fracassaram.

Os registros de Braz apontam que a única vez que o Fecho dos Morros foi, efetivamente, ocupado durou apenas três meses.

“Em 1850, uma expedição comandada pelo tenente Francisco Bueno da Silva instalou na localidade um destacamento composto por 31 militares até serem atacados por forças militares com cerca de 500 homens vindos de Assunção. O ataque resultou em três mortes e um ferido, do lado brasileiro (sic)”, escreveu.

A última tentativa ocorreu, em 1936, pelo general José Pessoa Cavalcante idealizador da Academia das Agulhas Negras. Ao passar pela região decidiu criar o Grupamento de Coimbra–Fecho dos Morros composto de um gruo de artilharia da costa, em Coimbra e uma bateria que seria instalada no Fecho dos Morros, mas pouco tempo depois a criação do grupamento foi cancelada.

Reza a lenda que a região nunca foi ocupada por nenhuma força militar, por dois supostos motivos: Uma delas após o assassinato do explorador Juan Ayalas, em 1537, por índios paiaguás. “Ele atravessava o Fecho dos Morros, rumo ao Peru e teve seu corpo espetado para que outros bancos não tentassem invadir (sic)”.

A segunda é de o apostolo São Tomé teria passado pela região. “Teria saído de São Vicente-SP com destino ao Peru, transformando a localidade num lugar sagrado, tranquilo, acolhedor, pacífico, de muita paz e vedado a ocupação militar (sic)”.

Verdade ou lenda, o Fecho dos Morros resistiu, misteriosamente a ocupação militar como a história provou. Junto a ele está localizado o Morro Pão de Açúcar, de 513 metros de altitude, mais alto até que o original no Rio de Janeiro. Ambos estão dentro da atual Fazenda Conceição.

“Portanto seria justo que concedêssemos perdão ao capitão Mathias Ribeiro da Costa, pelo erro cometido e que resultou na fundação do Presídio de Coimbra, em 13 de setembro 1775. Assim se encerra uma das mais fantásticas histórias desta região da fronteira, que, atualmente, já passados 200 anos de existência continua carregadas de fé, de heroísmo e glória”, finalizou Braz Leon.

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