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Comportamento

Em homenagem a Breno e Leonardo, Praça da Paz terá feira uma vez por mês

Naiane Mesquita | 19/08/2016 06:10
Lilian, mãe de Breno, vê no ativismo uma forma de não tornar em vão a morte dos meninos (Foto: Fernando Antunes)
Lilian, mãe de Breno, vê no ativismo uma forma de não tornar em vão a morte dos meninos (Foto: Fernando Antunes)

Todos os dias, a cada manhã, quando os olhos se abrem para o mundo, Lilian Silvestrini, 54 anos, pensa em Breno. O menino que adorava praticar esportes e ia ao lado dos amigos no Bosque da Paz, no bairro Carandá Bosque, tomar um tereré ainda é capaz de inspirar a mãe com as antigas ideias, mesmo após quatro anos da sua partida.

A história de Breno é talvez um das mais lembradas em Campo Grande. Na saída de um bar da Capital, ele e o melhor amigo, Leonardo, foram rendidos por assaltantes, que roubaram o veículo com a intenção de transportá-lo até a fronteira do País. Mesmo sem reagir, os jovens foram feitos de reféns e posteriormente assassinados com um tiro na cabeça. Na época, os dois tinham apenas 18 e 19 anos, respectivamente.

Lilian conhecia Leonardo das vezes em que ele foi a casa dela. Amigos desde os seis anos de idade, os dois não se desgrudavam. Da dor, ela viu como saída, a amizade de Angela Fernandes, mãe de Leonardo. “De imediato, o desejo da Angela era de reverter àquela situação e o meu era de negar o acontecimento. Não acreditava que eram os meninos. Depois daquele primeiro momentos, eu comecei a sentir a necessidade de ficar próxima dela, um dia cheguei para contar e ela disse que sentia mesmo”, lembra Lilian.

Breno e Leonardo eram amigos de infância e foram assassinados juntos.
Breno e Leonardo eram amigos de infância e foram assassinados juntos.

O choque do dia 30 de agosto de 2012 se transformou em luto e posteriormente em ativismo. Foi na esperança de chamar a atenção para a facilidade de se transportar veículos de Mato Grosso do Sul a países como Bolívia e Paraguai, que Lilian e Angela encontraram um motivo para lutar. Criaram a associação Mães da Fronteira, que chama a atenção para a vulnerabilidade da fronteira seca do Brasil.

“Estava crescendo uma necessidade dentro da Angela de fazer algo, primeiro pelos meninos, a vida deles se foi como um sacrifício, eles não reagiram, não deram motivo, já tinha o carro, maltrataram muito eles e deram um tiro na cabeça de cada um, não precisava nada disso, mas foi assim que aconteceu, ficou aquilo de tem que fazer alguma coisa para que essa morte não seja em vão, como todas as outras, um número, uma estatística, mas sim uma mudança de comportamento, pelo menos aqui, pelo menos aonde a gente conseguir chegar”, acredita.

Anos depois, a luta que surgiu primeiro por meio de projetos e assinaturas contra o fim da impunidade, tornou-se uma ação para a comunidade, na busca por uma paz que seja capaz de unir e transformar.

“Vão surgindo coisas que praticamente nos puxam para continuar. Não vou dizer para você que este mês está sofrido para todo mundo, a gente volta no tempo, lembra do que aconteceu, até chegar no dia 30, onde eles foram sequestrados e mortos. Não tem como não voltar no tempo, a gente fica emocionalmente alterado, mas isso que fortalece a gente para ir a luta. Vocês tem que fazer alguma coisa e realmente a gente se move, tivemos a ideia de fazer a feira agora”, explica.

A feira que Lilian cita acontece neste domingo de manhã, no Bosque da Paz, que Breno e Leonardo adoravam ir e agora ainda tem o nome deles. “Nós achamos que fosse ser algo pequenininho, menor que a Feira da Bolívia, mas tem mais de 150 pessoas envolvidas, entre food trucks, artesãos, música, vai ter muita apresentação de dança, do grupo Litani, de dança árabe, outro de dança cigana, o Grupo Acaba”, cita.

Na programação ainda há um mural dos sonhos, oficina de origami, brinquedos para crianças, Kombi do Sesc Livros, exposição de artes, feirinha de artesanato, shows de Chicão Castro e Guga Borba. “O mais importante na verdade é a missa campal, que realizamos todos os anos em homenagem aos meninos. Será celebrada pelo padre Paulo e começa às 9 horas da manhã”, explica Lilian.

A ideia é que a feira seja realizada todo terceiro domingo do mês, no mesmo formato. “Quando deram o nome dos meninos a praça nós prometemos que cuidaríamos dela. Sempre plantamos árvores, cuidamos, temos ações de meio ambiente e agora com a feira mensal para movimentar o espaço”, indica.

O Bosque da Paz fica na rua Kame Takaiassu, 500.

Informações na página do Facebook. 

Chicão Castro toca na Praça da Paz no domingo.
Chicão Castro toca na Praça da Paz no domingo.
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