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Comportamento

Emprestado, vestido de noiva deu sorte ao amor mesmo com separação no destino

Seis anos depois de guardado, vestido saiu do armário para funcionária que virou irmã

Paula Maciulevicius | 11/01/2017 06:05
Cleide revirando o passado nas fotografias do casamento. (Foto: Giselli Figueiredo)
Cleide revirando o passado nas fotografias do casamento. (Foto: Giselli Figueiredo)

O amor de menina, para quem Cleide sorriu ao dizer "sim" no altar. Confeiteira em Aquidauana, quando chegou a hora de se casar, foi com o vestido da patroa que ela cruzou o corredor da igreja até Israel. Mais que uma relação de chefe e funcionária, as duas se tornaram irmãs e o vestido de noiva é uma das coisas mais fortes que a ligam até hoje, apesar da distância.

De Campo Grande, conversamos por telefone com Cleide, que mora em Aquidauana e trabalha na mesma panificadora há 30 anos e foi numa ligação também, para Maringá, no Estado do Paraná, que falamos com Mônica, a dona do vestido. Seis anos depois de guardado, já nos anos 90, ele saiu do armário para dar sorte no amor à outra pessoa. 

Simples e de uma simpatia maior que ela, Cleide não acreditava que a própria história pudesse ter a graça de ser contada. "Foi assim, eu estava procurando o vestido dos meus sonhos. Meu pai não tinha condições de dar o que eu queria e todos que eu via, não gostava", lembra Cleide de Campos Leite Delgado, hoje com 51 anos.

Cleide com Israel no altar.
Cleide com Israel no altar.
Véu e grinalda do vestido.
Véu e grinalda do vestido.

Depois de muito procurar, a noiva bateu à porta da costureira da cidade, mas continuou cabisbaixa. "A Mônica viu que eu não estava feliz e falou que tinha um vestido, para eu olhar e se gostasse, 'restaurar'. Bati o olho e fiquei apaixonada. Ele era tudo cheio de pérola, um vestido lindo, com renda e laço no braço", descreve.

O 'restaurar' era na verdade ajustar. Como Cleide é bem menor que Mônica, a patroa sabia que teria de arrumar todo o traje. E como ele estava há muito tempo guardado, as duas trouxeram para lavar em Campo Grande e só aí que Cleide pode experimentar.

O vestido foi feito para o casamento de Mônica com Artur, em 1984. "Meu pai não quis que eu alugasse, eu tinha que comprar. Fiz meu vestido em São Paulo e tava mais ou menos com quatro anos de casada quando a Cleide falou que ia se casar", recorda a empresária Mônica Aparecida Borges, de 57 anos.

Com 1,72m de altura, o vestido feito para ela quase cabia duas de Cleide, que tem menos de 1,60m. "E ela ficou linda com o vestido". A cena volta à memória de Mônica. "Eu ofereci na hora, porque desde o princípio ela não é uma funcionária, é uma amiga, uma irmã. Eu só tive irmãos, cinco. Nós duas compartilhamos muita coisa, explica.

Ao lado de Mônica e Artur, ela, a dona do vestido.
Ao lado de Mônica e Artur, ela, a dona do vestido.

Ao colocar o vestido, Cleide carregava no véu e grinalda uma história de novela. Tinha conhecido Israel, quase uma década mais velho que ela, quando estava na 5ª série da escola e não tinha nem 13 anos. "Uma colega minha que era a namorada dele, daí ela pedia para eu entregar cartinha para ele. Eu entregava e ele pegava na minha mão e dizia que não queria ela, queria eu. Pensa? Eu era uma menina, nunca tinha gostado de ninguém, namorado ninguém", narra.

O casamento só foi acontecer 11 anos depois, quando Cleide chegou aos 24. "E casei virgem", faz questão de frisar. "É que no meio dessa namoro, ele teve outras. Eu era apaixonada, sou até hoje", declara.

Os dois foram muito felizes juntos e Mônica acredita que o vestido tenha contribuído para o amor de 21 anos. Israel morreu em 2011, por complicações de diabetes, deixando seus sentimentos na história do casamento.

"Eu fui muito feliz no meu casamento. Da mesma forma que a Cleide foi no dela. Não se separei por falta de amor, por traição e nem nada, mas por condições de vida, não deu mais para ficar em Aquidauana. E ela? Ficou com o marido até morrer, ele morreu jovem e ela está sozinha até hoje, da mesma maneira que eu estou. Nós duas temos uma história de vida", narra Mônica. 

O vestido, segundo a dona, não poderia ter sido usado por outra pessoa. "Eu guardei e na hora, ofereci automaticamente, como se fosse para a minha irmã. A gente só dá para quem a gente ama, não é para qualquer pessoa, pelo menos eu penso assim", declara. 

E foi dessa forma que Cleide entendeu o gesto. "Eu fui muito feliz, durante o casamento ele sempre foi fiel. O vestido foi uma coisa de amor, uma consideração que ela tem por mim".

Pelo menos a cada dois meses, quando Mônica vem a Aquidauana, as duas se encontram e se abraçam como amigas irmãs que dividiram muito mais que um vestido, uma vida.

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*Sugestão de pauta da amiga e jornalista em Aquidauana, Giselli Figueiredo.

Na troca de alianças. Vestido para os dois casais trouxe sorte no amor que nem separação pôs fim.
Na troca de alianças. Vestido para os dois casais trouxe sorte no amor que nem separação pôs fim.
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