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Comportamento

Estimulação desde os primeiros dias muda a vida com Síndrome de Down

Paula Maciulevicius | 17/03/2013 10:44
Emanuella e Filipe. Ela aos 4 meses e ele já com mais de 1 ano, bebês que sorriem o desenvolvimento das atividades da estimulação precoce. (Foto: Marcos Ermínio)
Emanuella e Filipe. Ela aos 4 meses e ele já com mais de 1 ano, bebês que sorriem o desenvolvimento das atividades da estimulação precoce. (Foto: Marcos Ermínio)

Na sala, uma música relaxante que contrasta com os barulhinhos de bebê. Aqueles sons de quem já ensaia para falar, que reconhece a mãe e os colegas e sabe onde está. Entre nenês de quatro meses a pouco mais de um ano, oito mães se reúnem com a prole durante 1h30, de duas a três vezes por semana. Os olhos delas se dividem entre os filhos e o acompanhamento dos exercícios passados pela terapeuta ocupacional. Os de hoje eram massagem de textura.

As crianças frequentam a Sociedade Educacional Juliano Varela, nasceram com Síndrome de Down e são assistidas gratuitamente desde os primeiros sorrisos. A aula é de estimulação precoce, atividade fundamental para famílias que querem ver o quanto antes os pequenos darem os primeiros passos.

A pequena Emanuella, de quatro meses, estava junto da mãe, Edenilda Esquivel Gimenes, 36 anos, e da inseparável boneca de cabelo rosa. Deitadinha no chão e com os pezinhos para o alto, a escrevente de cartório era quem fazia os exercícios na filha. De massagear os pés, calcanhar e pernas. Tudo para estimular os músculos da pequena, mesmo ainda bebê.

Na aula, mãe que estimulam os músculos e a sensibilidade através de massagem. Interação e exercício em grupo. (Foto: Marcos Ermínio)
Na aula, mãe que estimulam os músculos e a sensibilidade através de massagem. Interação e exercício em grupo. (Foto: Marcos Ermínio)

As duas frequentam a Juliano Varela há dois meses e meio e o resultado é nítido aos olhos da mãe coruja. “Mudou 100%. Ela está durinha, já está rolando, bem mais esperta e forte”, conta a mãe. Edenilda soube da Síndrome da filha nos primeiros segundos de vida de Emanuella, logo depois do parto. “Foi um baque tremendo e 40 dias em depressão. Você espera uma criança perfeita”, relembra. O encaminhamento ao Juliano Varela foi de imediato e hoje a menina tem assistência de terapeuta ocupacional, fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia. A última também para a mãe.

A escola está com 141 alunos matriculados, destes 15 são bebes na média de um mês a três anos. A estimulação precoce trabalha toda a parte motora e a sensibilidade dos bebês. Quem tem Síndrome de Down possui uma sensibilidade quase inexistente, é preciso sentir uma dor muito forte, por exemplo, para que eles sintam o que está se passando.

“A diferença não é só na escola, no desenvolvimento da fala, mas no desenvolvimento enquanto pessoa. A estimulação precoce quebra paradigmas até mesmo clínicos, a intervenção faz com que todo período de desenvolvimento seja mais próximo possível de qualquer criança”. A explicação é diretora da escola, Roseli Gayoso.

Roseli enfatiza que o trabalho tem resultado sim, num desenvolvimento harmônico e integral. “A gente quer ver o filho independente, que ele não precise da gente o tempo todo. Toda mãe tem que fortalecer no filho a sua independência esperando que ele faça a América e estes aqui vão fazer”, completa.

Para os pais de Filipe, o estímulo para a criança tem que vir desde cedo, independentemente de síndrome. (Foto: Marcos Ermínio)
Para os pais de Filipe, o estímulo para a criança tem que vir desde cedo, independentemente de síndrome. (Foto: Marcos Ermínio)

A Sociedade acolhe crianças, jovens e adultos com Síndrome de Down, trabalhando o desenvolvimento, educação para inclusão na sociedade. Todo o serviço, de bebê até o 5° ano da escola é oferecido de graça. Basta só que os pais levem a criança para passar por avaliação.

A professora Luciana Espíndola Eudociak, 36 anos, deixou de lado o tratamento com profissionais particulares para que Filipe, de 1 ano, tivesse o acompanhamento na Juliano Varela. Sorridente, ele mexe braços, pernas, se estica todo que chega a ser difícil controlá-lo no colo. A mãe também só veio a saber da Síndrome como Filipe nos braços, depois de nascido. Mesmo com exames durante toda a gestação.

“Antes de vir para cá eu comecei a fazer fono e fisioterapia separado, pelo plano de saúde. Mas eles não tinham o preparo, o corpo técnico que tem aqui, um lugar realmente especializado”, conta.

A professora sempre foi uma apaixonada pela educação especial, mas quando sentiu na pele, o medo chegou. “Por conhecer a Síndrome, eu sabia das limitações, me preocupava com o futuro, a fragilidade da saúde. Mas hoje ele está quase andando e melhorou muito. Ele era apático e aqui despertou não só a parte motora como a comunicação”, descreve.

O marido é o próprio ‘paizão’. Na folga do serviço, Alex da Silva Barros, faz questão de acompanhar as sessões e em casa, colocou um tatame na sala para dar continuidade aos exercícios em casa. “Existe um esforço maior para o tratamento dele, mas eu adoro criança. Sou apaixonado e independente da Síndrome, criança tem que ter estímulo”, fala.

A coordenadora da área clínica da Sociedade, Juliana Longhini Breschigliari, 32 anos, tem quase uma década de casa e explica “quanto mais cedo, melhor a capacidade dele de aprender mais rápido a se desenvolver. Quanto mais cedo vem, menos atraso ele vai ter no desenvolvimento”.

Antes mesmo de nascer, Lucas que deve chegar no final de maio já está familiarizado com a Juliano Varela. A mãe, Fabiana Alencar Antunes Vieira, 35 anos, está vindo há um mês, desde quando soube que a gestação de 7 meses é de uma criança com Síndrome.

“No começo é um baque. As pessoas falam muita coisa que não é a realidade e aqui você vai se acalmando e vê que uma criança pode ter todo desenvolvimento só precisa ser estimulada a amada”.

A Sociedade Juliano Varela fica na avenida Noroeste, n° 6513. O telefone para marcar a primeira visita é o 3026-8828. No próximo dia 21 é comemorado o Dia Internacional da Síndrome de Down.

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