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Comportamento

Exemplos de um ano que fazem a gente acreditar na humanidade em 2014

Paula Maciulevicius | 01/01/2014 07:25
Na esquina das ruas Euclides da Cunha e Goiás, comerciante lembra de acidente que socorreu. (Foto: Marcos Ermínio)
Na esquina das ruas Euclides da Cunha e Goiás, comerciante lembra de acidente que socorreu. (Foto: Marcos Ermínio)

A comerciante que socorreu um casal de idosos num acidente e dias depois recebeu um presente de gratidão. O músico que perdeu a camisa recém comprada e a encontrou nos achados e perdidos. A empresária que durante uma homenagem, conheceu e resolveu abraçar uma orquestra sem patrocínio em Campo Grande.

Não são exemplos grandiosos. Não mexeram com a vida de tanta gente. Foram ações de quem fez porque acreditou que era o mínimo que deveria ser feito. No primeiro dia do ano, o Lado B conta exemplos de pessoas que fizeram o pouco valer muito e que reforçam que ainda dá para ter fé na humanidade.

Era agosto quando Renata Furtado, de 38 anos, ouviu o barulho do acidente na esquina da loja de calçados que tem, nas ruas Euclides da Cunha e Goiás. O relógio marcava 11h da manhã. “Era um casal de idosos japoneses, eu vi na hora que ocorreu, eles vinham na rua, pegaram uma moto e outro carro. Eles ficaram muito nervosos e a gente chamou eles para a loja, para conversar e dar água”.

Naquela manhã a família toda acabou se achegando na loja. Todos estavam muito preocupados com o susto que o casal levou. Por sorte, ninguém se feriu gravemente. Renata estendeu a mão para as vítimas como fez em tantos outros acidentes. A esquina é palco de frequentes batidas. Mas nunca imaginou que a gratidão por algo que, para ela, era o mínimo, fosse virar presente.

A foto da camisa perdida e que foi devolvida no achados e perdidos do shopping.
A foto da camisa perdida e que foi devolvida no achados e perdidos do shopping.

“Depois disso, eles vieram com um presente agradecer. Eles criam codornas e trouxeram uma caixa cheia de ovos. Eu fiquei comovida, não pelo presente em si, mas pela atitude. Apesar de tanta coisa ruim, você vê que ainda têm pessoas que dão valor aos pequenos gestos”, explica. E foi uma coisa que a marcou.

Em novembro, o músico Lucas Brandão, de 22 anos, compartilhou com os amigos o que achou inacreditável. Depois de um dia de compras no shopping, ele esqueceu uma sacola da C&A, com uma camisa novinha, ainda etiquetada e com cupom fiscal. Havia custado R$ 39,90 e tinha ficado esquecida na escadaria do ponto do ônibus.

Quando se deu conta, Lucas parou no primeiro ponto e retornou à escadaria. A compra não estava mais lá. No shopping, ele procurou pelo setor de achados e perdidos, mas como fazia pouco tempo, ninguém havia entregue nada ainda. “Fiquei dando voltas pelo shopping, fui à loja, mas não tinha nada. Quando voltei ao achados e perdidos, estava lá. O mais legal é que foi um segurança que entregou, mas não tem segurança na escadaria. Alguém deve ter entregue para ele e ele levou lá”, descreve.

O músico não tinha esperanças de que a camisa fosse encontrada. Visto que ainda com a nota, era possível até ser trocada por outra peça. “Eu fiquei pensando, gastei R$ 40 à toa, não tinha condições de ficar gastando. Mas esse tipo de coisa, faz o dia valer à pena”, contabiliza.

Hoje em dia, com as pessoas pouco se importando, o ditado que a gente ouve quando criança parece ser regra. “Achado não é roubado, quem perdeu é relaxado”.

Ao se emocionar com orquestra, empresária adota projeto como responsabilidade social de empresa.
Ao se emocionar com orquestra, empresária adota projeto como responsabilidade social de empresa.

Dias depois, foi a vez dele por a honestidade em prática e retribuir o bem anônimo que recebeu. Indo para o trabalho de bicicleta, Lucas achou na avenida Coronel Antonino, um celular Samsung Galaxy novinho. No aparelho havia várias ligações e a bateria já estava acabando. O músico tirou o próprio celular do bolso e dele retornou ao número que estava ligando. Era o esposo da mulher que havia perdido o celular. “Avisei para ele pegar comigo no meu serviço. Ele quis me dar R$ 20, o dinheiro da cerveja. Eu disse que não precisava. É a lei do universo, fizeram boa ação comigo e eu passando para frente”.

O caso da empresária Rogéria Biela Coleti, de 52 anos, foi a emoção. Em junho deste ano, durante uma homenagem que recebeu, na Câmara de Vereadores da Capital, foi tocada pela orquestra de violeiros mirins, regida pelo maestro autodidata, Jorci. “Não conhecia o trabalho, o que me chamou atenção foi a netinha dele, de cinco anos, nem encostava os pezinhos no chao e estava tocando. Eu fiquei encantada. Ele sim, faz algo pela humanidade e me encantou ver essa doação dele, com o que ele tem ele passa o que sabe”, descreve Rogéria.

A partir de junho, a empresa Città Planejamento Urbano e Ambiental, adotou a orquestra como projeto de responsabilidade social. Fez um estatuto e começou os trâmites da parte jurídica. “A gente está organizando, porque o próprio Jorci fala e o que não tiver mais eu? É para que os meninos possam continuar”, conta. Em 2014, eles pretendem ainda dar uma sede ao projeto. Além da estrutura organizacional, a empresa está dando o suporte necessário para o aprendizado, com um professor de canto.

A dor de perder um colega de voo. Dois canarinhos da terra voavam pelo bairro Vilas Boas, até um ser atingido por um carro. O outro, na tentativa de socorrê-lo, chegou a sapatear para que ele acordasse. (Foto: David Majella/Diário Digital)
A dor de perder um colega de voo. Dois canarinhos da terra voavam pelo bairro Vilas Boas, até um ser atingido por um carro. O outro, na tentativa de socorrê-lo, chegou a sapatear para que ele acordasse. (Foto: David Majella/Diário Digital)

Não são só as ações dos homens que levam a crer que ainda é possível acreditar no bem. Na última sexta-feira, o fotógrafo David Majella flagrou a cena que o Lado B escolheu para encerrar a matéria. São dois canarinhos da terra, colegas de voo, ou amigos de longa data, a gente nunca vai saber a ligação que os dois tinham. Mas também não vai deixar de acreditar na solidariedade e no carinho animal.

No bairro Vilas Boas, por volta da 1 da tarde, um carro à frente do fotógrafo pegou um dos pássaros. Eles atravessavam voando quando um foi atingido. “Caiu na hora e deu para ver a peninha voando. Parei o carro para fotografar, é difícil ver cena assim. De certo eles eram amigos, estavam voando juntos. O segundo presenciou e voltou. Ele beliscava a cabecinha do outro tentando levantar, sapateava em cima dele. E eu fui chegando pertinho, pertinho”.

A dor do passarinho devia ser tão grande que ele se deixou ser fotografado. Não ligou para o clique, nem tampouco para a proximidade de Majella. Só queria mesmo era reanimar o companheiro.

Como a via estava movimentada, depois da foto, Majella recolheu o pássaro morto, montou no carro e foi embora. “Foi triste, mas a natureza mostra que tem sentimentos. Pena que não foi uma foto feliz, mas foi exemplo para a gente”. Para se acreditar que ainda dá para ter fé em 2014.

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