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Comportamento

Grupo ensina a lidar com perguntas que teimam em fazer a filhos e pais adotivos

Pais revelam perguntas de gente que não tem desconfiômetro e nem sensibilidade, mas é curiosa

Thailla Torres | 26/11/2018 08:09
Reunião do Grupo de Apoio à Adoção acontece uma vez por mês em Campo Grande e a participação é gratuita. (Foto: Kísie Ainoã)
Reunião do Grupo de Apoio à Adoção acontece uma vez por mês em Campo Grande e a participação é gratuita. (Foto: Kísie Ainoã)

Ser mãe ou pai algumas vezes é exercitar a arte de proteger os filhos, especialmente, de pessoas que não tem sensibilidade na hora de ferir. É assim na rotina de pais que adotam crianças ou que estão na fila para adoção, muitos questionamentos se tornam constrangedores. Por isso, uma reunião do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção, em Campo Grande, discutiu o assunto e buscou respostas adequadas a quem insiste em perguntar.

O grupo, que existe há 10 anos, começou porque voluntários perceberam a necessidade de auxiliar pessoas que estão na fila de espera e famílias que já estão com as crianças. “A gente viu a dificuldade na relação, na construção do vínculo, no começo dessa caminhada e o período ansiedade durante espera, que também chamamos de período gestacional. E por conta disso, começamos o grupo”, explica Lydia Pellat, psicóloga e presidente do grupo.

Antes e depois da chegada da criança, os pais de coração passam por muitos preconceitos na família, no grupo de amigos e no trabalho. “Então a gente traz esses temas para que os pais se sintam mais fortalecidos na hora de responder e se posicionar sobre a adoção”.

Lydia é psicóloga e voluntária no grupo. (Foto: Kísie Ainoã)
Lydia é psicóloga e voluntária no grupo. (Foto: Kísie Ainoã)

Na dinâmica, os participantes escreveram perguntas e comentários em papéis que depois foram trocados para que ninguém precisasse se identificar, alguns deram respostas que acham certas para cada tipo de pergunta, e com ajuda de voluntários e a psicóloga, o tema foi conduzido de forma leve, priorizando a calma na hora de responder

“Porque você não gera o próprio filho?”, “Você ou seu marido que não pode ter filho?”, “Você não crê em milagres para engravidar?”. Essas estão entre as perguntas mais comuns feitas aos pais de coração. “Como se houvesse diferença entre o filho biológico e adotivo. Mas não há diferença, é preciso deixar claro a quem pergunta que pais são pais e filhos são filhos, adotar é um amor incondicional. Normalmente, os pais ficam sem palavras porque isso é algo muito pessoal”, destaca a psicóloga.

“Como você tem coragem de levar um estranho para dentro da sua casa?”, “E se a mãe (biológica) for usuária de drogas?”. “E se a criança ficar doente?”. Nesse momento, um dos pais é direto na resposta. “Se adoecer vai levar ao médico como todo pai deve fazer com um filho”. No que diz respeito às dificuldades que têm na criação dos filhos ou na preocupação com o futuro, os pais dizem que é como a vida de qualquer outro pai e mãe de uma criança. As responsabilidades são as mesmas, o compromisso, a preocupação. Mas em contrapartida, não há nada que sobressaia a alegria em ver um filho sorrir.

Perguntas foram colocadas de forma anônima em papéis e lida pelos participantes. (Foto: Kísie Ainoã)
Perguntas foram colocadas de forma anônima em papéis e lida pelos participantes. (Foto: Kísie Ainoã)

Mãe de três filhos, a voluntária do grupo Renata Françoso, descreve que o primeiro passo é não temer e encarar todas as realidades. “Não adianta se iludir que o mundo é perfeito, praticamente, todas as crianças que estão à espera de adoção vieram de uma família desestruturada, mas isso não justifica nada”, diz. E acrescenta que, “Não existe certificado de garantia para nenhum ser humano, mas todos têm condições de ser feliz, por isso, a gente luta por amor, cuidado e respeito”.

Essa fere tanto os pais quanto os filhos: “Como ela (mãe biológica) teve coragem de abandonar a criança?”. A psicóloga orienta que não se pode dar abertura a esse tipo de pergunta por que são vários motivos e ninguém tem o direito de julgar. O mais certo é preservar a história da criança. “A melhor coisa é não ficar expondo, ao longo dos anos, se essa criança ou adolescente quiser compartilhar sobre o passado, isso deve ser uma decisão dela”.

Outro comentário que parece inofensivo, mas muitas vezes tem sentido equivocado é “Parabéns pela sua atitude, você vai ganhar o céu”. Não, ninguém adota ou deve adotar para ganhar o céu. “É preciso ter muito cuidado com o ego, nunca se vanglorie”, reforça Renata. “Porque quando se pensa em adotar, é porque alguém só deseja ser pai ou mãe de uma criança, por isso o comentário ao longo dos anos vai doendo”, completa.

A verdade é que seja qual for a pergunta, os pais precisam ter calma e cercar sua resposta de amor. “Filhos são filhos independente da forma como chegaram até nós. Nosso dever é amar e cuidar. Assim como temos que ensinar sobre qual tipo de preconceito ou dificuldade ele vai enfrentar. Mas tudo isso se torna mais fácil quando a adoção é feita com o coração”.

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