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Comportamento

Hospital foi vendido, mas com uma condição: ninguém poderia demitir Mafalda

A enfermeira obstétrica que viu Campo Grande nascer trabalhou por 60 anos nas maternidades da cidade

Paula Maciulevicius | 29/05/2017 07:18
Mafalda aos 90 anos, em entrevista ao G1, em 2013. À época, ela contabilizava 10 mil partos no currículo. (Foto: Tatiane Queiroz)
Mafalda aos 90 anos, em entrevista ao G1, em 2013. À época, ela contabilizava 10 mil partos no currículo. (Foto: Tatiane Queiroz)

Em 2007, o hospital Pró-Matre foi vendido com a condição de que não demitissem dona Mafalda. A enfermeira obstétrica que viu Campo Grande nascer, trabalhou por 60 anos na Maternidade Cândido Mariano e no hospital, encarando inclusive a transição para o Pênfigo. Italiana de nascimento e dona de um Fusca verde, Mafalda partiu no início deste mês, deixando de legado os partos de uma cidade inteira. 

"Comentamos brincando, porque não podia colocar no contrato, mas falamos mesmo para não demiti-la. Desde que ela começou, sempre foi enfermeira nossa. Não queríamos que ela saísse. Então foi feito este pedido e fomos atendidos", descreve a médica Geny Ishikawa, hoje com 87 anos e uma das sócias da extinta Pró-Matre.  

Mafalda nasceu na Itália e veio ainda criança para o Brasil com os pais. Na adolescência, queria trabalhar como enfermeira de guerra e só foi impedida pela idade. "Na época convocavam todas as moças e ela ficou louca para ir. Meu avô não deixou, ela só tinha 13 anos", conta a sobrinha, também enfermeira, Áurea Lilia Batista, de 61 anos. 

Quando jovem, Mafalda com uniforme de enfermeira. (Foto: Tatiane Queiroz)
Quando jovem, Mafalda com uniforme de enfermeira. (Foto: Tatiane Queiroz)

Longe do cenário de feridos em confrontos, Mafalda fez o que na época bastava, cursos práticos de Enfermagem e chegou a ser supervisora e chefe do departamento de enfermagem nas maternidades Cândido Mariano e Pró-Matre.

Foram pelo menos 10 mil partos durante a carreira. Há quatro anos, a enfermeira deixou a rotina de hospital. Na maternidade, continuava a trabalhar com atividades mais leves. "Ela fazia orientação para as mamães, colhia o sanguinho dos pés. Só parou mesmo quando não aguentou mais andar", descreve a sobrinha. Mafalda vinha de uma época em que enfermeiras apertavam os pés em sapatos de salto, o que a sobrinha atribui a isso o fato do problema nos pés da tia.

"Ela era conhecida por causa de um fusquinha verde também. Isso é história em Campo Grande, foi o primeiro carro a ser sorteado em consórcio nos anos 70. Era tudo original e ela nunca quis trocar", recorda a sobrinha.

Um dos pedidos para que dona Mafalda não fosse demitida consistia na dedicação integral. A enfermeira que viveu para trazer crianças ao mundo se casou e nem teve filhos. Sobre com quem morava até na velhice, a resposta da sobrinha é "com Deus. Ela não queria ficar dependente e nem atrapalhar a vida de ninguém. Dizia que todo mundo tinha seus afazeres", explica.

Nos últimos anos, uma cuidadora dividia a atenção com os sobrinhos de Mafalda. A enfermeira morreu no último dia 3 de maio, depois de dias internada por conta de uma pneumonia, aos 95 anos.

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