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Comportamento

Hotel comprado na sorte de uma pescaria farta hospedou até Jânio Quadros

Paula Maciulevicius | 22/02/2015 08:00
Erguido em 1964, o hotel Santa Mônica em Corumbá já completou o cinquentenário. (Foto: Marcos Ermínio)
Erguido em 1964, o hotel Santa Mônica em Corumbá já completou o cinquentenário. (Foto: Marcos Ermínio)

O negócio foi fechado depois de uma pescaria de deixar qualquer amante da prática boquiaberto. Erguido em 1964, o hotel Santa Mônica em Corumbá já completou o cinquentenário tendo como marco a hospedagem de Jânio Quadros durante os 120 dias de confinamento. Nas mãos do segundo dono, a história que o hall de entrada do hotel conta em fotos e trechos de livro, o Lado B conheceu de pertinho agora.

A visita é lembrada até hoje com o anúncio na porta do quarto 606: "aqui se hospedou um hóspede ilustre". Por ordem do governo militar que o ex-presidente foi parar em Corumbá. Os 120 dias de confinamento eram retaliação ao posicionamento de Quadros.

A chegada dele, acompanhado da esposa Eloá na cidade, assim como a entrada no hotel, estão registrados nas paredes do Santa Mônica e também na memória dos corumbaenses a partir da data: 30 de julho de 1968. Nascido em Campo Grande, Jânio renunciou à presidência sete meses depois de assumir em 1961.

Anúncio da visita ilustre está na porta do quarto ocupado por Jânio Quadros. (Foto: Marcos Ermínio)
Anúncio da visita ilustre está na porta do quarto ocupado por Jânio Quadros. (Foto: Marcos Ermínio)
Registro de entrada no hotel, no dia 30 de julho de 1968. (Foto: Marcos Ermínio)
Registro de entrada no hotel, no dia 30 de julho de 1968. (Foto: Marcos Ermínio)
Jânio Quadros no Hotel Santa Mônica em 1968 (Foto: Arquivo)
Jânio Quadros no Hotel Santa Mônica em 1968 (Foto: Arquivo)

Junto da esposa, Quadros era vigiado 24 horas por dois policiais federais que ficavam de pronto no corredor do sexto andar. Da janela, o ex-presidente contemplava o Pantanal e parte da cidade. Os quatro meses em Corumbá foram contados no livro "O Diário de um Confinado", do jornalista Mauro Ribeiro. De início, segundo conta a história, Quadros frequentou restaurantes e jantares nas casas das famílias corumbaenses, num perímetro urbano restrito pelo Exército. Nos dois últimos meses, o ex-presidente foi proibido de sair do hotel.

O quarto 606 também foi palco de más notícias, enquanto buscava a liberdade, foi ali que Jânio viu saírem boatos de sua morte e a informação de que o pedido de habeas corpus havia sido negado pelo Supremo Tribunal Federal. "Não há de ser nada. Respeitemos a decisão do Tribunal. Se os ministros acham que devo ficar aqui, aqui ficarei. Se luto por respeito aos tribunais quando eles me são favoráveis, igualmente é meu dever respeitá-los, e às suas decisões, quando me atinjam..." As falas extraídas do livro emolduram junto às fotos de Jânio a parede de entrada do hotel.

Mesmo a estadia não desejada na Cidade Branca despertou em Jânio a contemplação pela beleza. "Poderá haver espetáculo mais belo que o morrer do sol em Corumbá?" conta a história que a frase foi dita de frente à janela, ao contemplar o pôr-do-sol em outubro de 68.

Filho do dono que comprou pela sorte da pescaria, Luiz, quem conta a história hoje. (Foto: Marcos Ermínio)
Filho do dono que comprou pela sorte da pescaria, Luiz, quem conta a história hoje. (Foto: Marcos Ermínio)

Da história para a pescaria - Construído em 1964 por Moura Neto, conhecido como "Netinho", o hotel leva o nome de Santa Mônica em homenagem à filha do primeiro dono. Já nos anos 80, os seis andares da estrutura que não lhe davam o retorno esperado. Foi quando a notícia da venda chegou a um empresário do ramo, Antônio José Martins, no interior de São Paulo.

"O movimento era fraco, ele tinha que vender. Meu pai ficou uns dois dias aqui, o filho do Netinho convidou ele para pescar no Rio Paraguai. Na segunda curva ele pegou sete pintados, veio e fechou negócio. Ligou avisando que não tinha movimento, mas que ele tinha comprado nem que fosse para ficar um andar para cada filho", reproduz Luiz Antônio Martins, a brincadeira do pai.

A família já estava no ramo hoteleiro há décadas e já havia construído 25 hotéis. "Na época, Corumbá vivia da pecuária, não era conhecida pelo Pantanal, era simplesmente pela agropecuária. Não tinha estrada, se chegava de navio, depois que veio a estrada de terra ligando Campo Grande até aqui. Quando nós compramos, deu um tempo e saiu a estrada asfaltada", relata Luiz, hoje à frente dos negócios da família na cidade.

Logo depois da compra, a possibilidade de um andar do hotel ficar para cada filho foi por água abaixo. Corumbá começou a aparecer nos noticiários nacionais com uma série de reportagens pantaneiras. Ainda na mesma década, estourou a novela "Pantanal". Hoje são 85 quartos e a resistência em ser o mais antigo hotel em funcionamento na cidade.

Hoje são 85 quartos e a resistência em ser o mais antigo hotel em funcionamento na cidade. (Foto: Marcos Ermínio)
Hoje são 85 quartos e a resistência em ser o mais antigo hotel em funcionamento na cidade. (Foto: Marcos Ermínio)
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