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Comportamento

Jatobá gigante já foi casa improvisada e abrigo na Guerra do Paraguai

Árvore é usada até hoje como ponto de encontro da comunidade e cartão postal do quilombo Araújo e Ribeiro

Por Natália Olliver | 02/12/2025 07:57
Jatobá gigante já foi casa improvisada e abrigo na Guerra do Paraguai
Família de Vitor Romão Araújo Ribeiro fez de jatoba casa improvisada em quilombo (Foto: Aletheya Alves)

No quintal da família Araújo Ribeiro, o Jatobá-Mirim centenário virou um cartão postal vivo e tem tanta história para contar quanto o próprio quilombo onde ele está plantado. Famosa na comunidade de Vitor Romão, de 43 anos, a árvore foi a primeira casa dos avós dele quando chegaram ao quilombo em Nioaque e serviu até de abrigo para soldados durante a Guerra do Paraguai.

RESUMO

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Em Nioaque, um Jatobá-Mirim centenário é símbolo vivo da história do quilombo Araújo e Ribeiro. A árvore serviu como primeira moradia para os fundadores da comunidade, Vergílio Araújo e Melentina Molina, além de ter abrigado soldados durante a Guerra do Paraguai. O local, reconhecido como quilombo em 2009, tem o Jatobá como ponto de encontro para reuniões e festividades. Vitor Romão, atual presidente da comunidade e neto dos fundadores, está construindo uma casa na árvore para as crianças, mantendo viva a tradição que já atravessa gerações.

Usando lonas e madeira, Vergílio Araújo, de 89, e Melentina Molina de Araújo, de 72, começaram a vida com os filhos. Os fundadores batizaram as terras como comunidade Araújo e Ribeiro. Vitor faz parte das duas famílias e conta que, apesar de existir há mais de 70 anos, o lugar só foi reconhecido como quilombo em 2009.

Não é preciso observar muito para ver que o Jatobá é a alma dali. Todas as reuniões, festas e eventos são feitos ao pé da árvore. Para deixar tudo ainda mais especial, Vitor está construindo uma casa de madeira para as crianças. As escadas já estão prontas e foram feitas com pedaços de troncos jogados.

Jatobá gigante já foi casa improvisada e abrigo na Guerra do Paraguai
Jatobá gigante já foi casa improvisada e abrigo na Guerra do Paraguai
Jatoba é ponto de encontro na comunidade e cartão postal no quilombo (Foto: Aletheya Alves)

“Meus avós usavam lona como telhado, foi a primeira casa deles, moravam embaixo da árvore. No fundo daqui tinha uns pés de bambu, passava uma estrada antiga, então, como aqui teve a Guerra do Paraguai, eu fico imaginando que eles faziam a parada deles aqui para fazer almoço e fazer estratégia de guerra. Antigamente as pessoas construíam casas em cima das árvores para se proteger dos bichos. Muitas deixavam as crianças em cima para ir fazer a calçada.”

Ele conta que várias gerações brincavam embaixo do pé do Jatobá e que o avô usava o tronco para fazer remédio.

“A comunidade iniciou aqui. Quando meu avô faleceu, o pessoal mudou mais para baixo e construiu essas casas. Eu decidi fazer a minha aqui, comecei a limpar, zelar aqui. Pretendo fazer a casa na árvore de uma forma que não irá prejudicar. Meu avô tirava o vinho do Jatobá para fazer remédio.”

Jatobá gigante já foi casa improvisada e abrigo na Guerra do Paraguai
Jatobá gigante já foi casa improvisada e abrigo na Guerra do Paraguai
Jatobá gigante já foi casa improvisada e abrigo na Guerra do Paraguai
Vitor construiu escada para futura casa na árvore; aô de Vitor, Vergílio Araújo (Foto: Aletheya Alves e Arquivo pessoal)

Vitor é nascido e criado no quilombo e hoje é presidente da comunidade localizada na Avenida Eustácio Perez, no bairro Monte Alto.

“Me vejo aqui brincando, subindo nas árvores. Sempre aqui com meus avós que moravam aqui. A ideia é fazer uma casa na árvore porque as crianças cobram. Ela virou um ponto turístico, cartão postal. Todo final de semana o pessoal se reúne debaixo do Jatobá. Sempre foi assim. Ele é um ponto de referência.”

As crianças se reúnem em volta da árvore e abraçam os troncos. Para elas, o Jatobá centenário é não só história como herança.

Guerra

Nioaque teve papel importante na Guerra do Paraguai, sendo palco de batalhas, invasões e da ocupação paraguaia a partir de 1864.  Após a invasão dos soldados às  terra brasileiras, a cidade e outros municípios como Miranda e o Forte de Coimbra, sofreram com a violência e os combates.

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A cidade serviu como base militar brasileira e esteve diretamente ligada à Retirada da Laguna, expedição que partiu dali e acabou se tornando uma marcha marcada por fome, doenças e milhares de mortes.

O episódio foi eternizado pelo relato do visconde de Taunay. Os combates atingiram a mesma região onde hoje está a Comunidade Quilombola Famílias Araújo e Ribeiro, área estratégica à época.

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