Mais que professor, Paulo Goulart era amigo e confidente dos alunos
O docente era apaixonado por ensinar e não media esforços para estar sempre presente para todos

Fala tranquila, um coração enorme e um conhecimento que era impossível caber em um único ser humano. Foi assim que familiares, amigos e ex-alunos descreveram um pouco de Paulo Goulart Júnior durante o último adeus, nesta terça-feira (12). Entre lágrimas e sorrisos, eles relembraram que era lá, entre as louças e os livros - e muitas vezes fora da sala - que ele mostrava o valor do conhecimento aos inúmeros estudantes que colecionou ao longo dos 72 anos de vida.
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Nesta segunda-feira (11), Paulo foi dormir e não acordou. A perda trouxe à tona memórias felizes que todos guardam com ele. Completamente apaixonado por lecionar, o professor de biologia e psicanalista conquistou uma legião de fãs. Isso porque, para os alunos, ele era mais que alguém que ensinava, era um verdadeiro amigo e confidente.
“Era diferenciado, é um professor que todo mundo gostava. Quando a gente ficou sabendo do falecimento, todo mundo do grupo foi unânime ao dizer que ele foi um dos melhores professores que tivemos”, conta o ex-aluno Fabiano Rodom, que se formou na turma de Educação Física de 2003.
O xará, que também estava na mesma sala, Fabiano Rodrigues Pissurro Mori, conta que Paulo era sempre alegre, queria despertar o conhecimento e era provocador. “Ele é uma pessoa extremamente humana. Com poucas palavras, provocava a turma para fazer por merecer o conhecimento mesmo. Ele, desde cedo, era um visionário; tudo diferenciava ele dos demais.”
Mais longe do tumulto, no Cemitério Jardim das Palmeiras, o amigo e também ex-aluno Carlos Alberto Rezende, ou professor Carlão, ressalta a participação de Paulo na sua escolha profissional. “Ele foi meu professor no ensino médio e depois na faculdade. Foi determinante na escolha da minha profissão, que exerci por 38 anos. Sou biólogo como ele. Eu penso que os olhos dele ficam conosco, pelas palavras, pelas formas, pelas atitudes que ele tinha.”
Carlão conta que a casa de Paulo era sempre cheia de alunos e que conviveu com a família desde a juventude. “Eu tive a honra de visitar, conviver na casa dele, ver os filhos crescerem. A esposa dele também foi minha professora. Fui professor dos filhos dele. Ele representa isso: um educador marcante. Ele falava para a gente não se deixar levar pela facilidade. Foi o melhor professor da vida.”
Neido Castilho Júnior foi eleito o melhor amigo de Paulo. Ele conta que o título foi uma surpresa, porque, no começo, os dois não se “bicavam” muito, mas que, aos poucos, a história mudou e o que era antipatia virou amizade.
“O pessoal me presenteou com o título de melhor amigo dele. Isso é um privilégio. O Paulo era uma pessoa muito diferente, muito acima da média na intelectualidade. Uma pessoa que via muito à frente do mundo. Paulo era um psicanalista, um biólogo psicanalista. Ele foi meu professor. Viramos amigos e nos falávamos todos os dias. Com relação a conhecimento, ele não guardava para si, ele tinha aquela compulsão de ser professor, de transmitir o que sabia.”
Após anos de sala de aula, Paulo resolveu investir no ramo da pesquisa e trabalhava no setor de jogos de excelência da Fundesporte-MS. O chefe e amigo não poupou elogios.
“Foi professor de muitos alunos, uma pessoa que sempre estava orientando para as coisas positivas da vida. Ele deixa um legado. Acho que, para todos, é uma pessoa de um coração muito grande, muito atenciosa, sempre disposta a conversar. Era de um conhecimento geral enorme”, comenta Paulo Ricardo Martins Nunes, diretor-presidente da pasta.
Pai, marido e irmão
Sem dizer muito sobre o marido, a esposa Leila Pimentel Goulart disse apenas que já sabia que o Paulinho, como o chamava, “conhecia meio mundo e meio mundo gostava dele, mas não imaginava que era tanto assim. Ele era muito amado”. Juntos há mais de 40 anos, o casal teve dois filhos. Paulo era natural de Goiás e veio para Campo Grande com a mulher.
Um dos filhos, Flávio José Pimentel Goulart, conta que o pai parte sem deixar nada por dizer. “Foi um cara maravilhoso, um pai maravilhoso. Tenho orgulho e sorte de ser filho dele. Ele sempre fez muita questão de estar perto e ensinar coisas boas. Eu gostaria de ser como ele, ter contribuído tanto com as pessoas, ser amigo, aconselhar, estar disposto a se doar assim, estar junto e ouvir.”
O filho que mantém o nome do pai, Paulo Goulart, ressalta que ele era, além de professor, um amigo para todos. “Se passasse uma semana sem ligar, ele ligava dando bronca. Ele era presente e cobrava presença. Inventava desculpa para ligar e estar junto. Sabia de tudo, falava sobre tudo. Os meus amigos e os amigos do meu irmão são amigos dele. Às vezes a gente nem estava em casa e eles ficavam conversando horas e horas com ele.”
Os irmãos dizem que a partida de Paulo pegou todos de surpresa. Entre os seis agora só restam quatro. Edna Goulart, de 75 anos, é a mais velha e conta que a família sempre foi unida e se visita pelo menos uma vez ao ano.
“Ele é muito estimado, muito amado. Outras vezes que eu vinha passear aqui, ele me levava na faculdade, me apresentava os alunos e tudo. Para mim, ele é uma lição de vida. Ele gostava muito de ler. Nós dois toda vida gostamos muito de ler e ouvir música. Paulinho lecionava e a vida dele era isso.”
Ela conta que ele não falava sobre a profissão na infância e que, inclusive, chegou a brincar dizendo que ele se tornou o que dizia que não gostava. A resposta surpreendeu a irmã: “Eu sou amigo deles; quando a gente é amigo, sabe lidar com as pessoas.”
Renata Pimentel de Carvalho é sobrinha de Paulo. O tio e Leila a criaram após a morte da mãe dela. A atitude é algo que, até hoje, a emociona.
“Eu perdi minha mãe com 14 anos. Quem quer uma adolescente com essa idade? Meus tios me acolheram. A casa deles era de todo mundo, não só dos sobrinhos. Ali era casa dos alunos e acadêmicos, era dos conselhos, dos abraços. Não só meu tio, quanto minha tia. Ele adorava ensinar; a essência dele era isso. A sabedoria dele vinha na voz. Ele tinha um limite na acidez, era até engraçado. Ele te fazia rir até no momento de dor.”
Aos 78 anos, Mercedes Alves não se considera uma amiga, mas uma irmã de Paulo. “Há quase 50 anos a gente era assim. Vi os filhos dele na barriga, acompanhei todo o processo e posso dizer que ele era maravilhoso e um ser humano fora do comum, que estava sempre presente na nossa vida. Ele era uma pessoa que se doou sem saber se receberia.”
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