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Comportamento

Manifesto de jornalistas esportivas inspira professora a levar tema aos alunos

Campanha começou com jornalistas que sofrem com o assédio da torcida masculina e dos jogadores de futebol

Thailla Torres | 29/03/2018 08:30
Tema de manifesto virou inspiração para professora propor assunto em sala de aula, em Campo Grande.
Tema de manifesto virou inspiração para professora propor assunto em sala de aula, em Campo Grande.

Jornalistas esportivas lançaram nesta semana, nas redes sociais, a campanha #DeixaElaTrabalhar. O objetivo do grupo é acabar com o assédio moral, sexual e o machismo tão presente nos estádios, nas ruas e no mercado de trabalho. A campanha repercutiu em todo País e chegou em Campo Grande como inspiração para um tema de redação em salas de aula de uma escola da periferia.

Para quem vive essa realidade, a campanha é importante e descreve muitas situações que levam ao constrangimento e tristeza na hora profissão.

"Eu achei muito interessante, quando vi a campanha fiquei arrepiada porque descreveu muitas situações que a gente vive. Infelizmente, o preconceito está por todos os lados. Mas essa realidade só vai mudar com educação", explica a jornalista Amanda Bogo, de 24 anos, apaixonada pela cobertura esportiva.

Amanda Bogo entrevistando o ex-zagueiro Junior Baiano. (Foto: Fernando Antunes)
Amanda Bogo entrevistando o ex-zagueiro Junior Baiano. (Foto: Fernando Antunes)

Há dois anos na área, Amanda já coleciona episódios "ignorantes" protagonisados por treinadores, torcedores e até colegas jornalistas. "Já vi presidente de federação batendo na minha cabeça enquanto eu estava trabalhando, me inferiorizando, como se eu fosse uma menina que não soubesse o que estava fazendo e o próprio atleta, muitas vezes, não te respeita em campo. Falam como se eu fosse incapaz de acompanhar o ritmo da conversa"

A situação não é restrita aos estádios e campeonatos esportivos, o preconceito é ainda maior dentro das redações, garante ela. "Isso também parte dos colegas. Jornalistas, a maioria homens, ainda não aceitam que uma mulher faça parte da equipe, realize um trabalho bom ou até melhor que eles. Mas isso é um problema da sociedade em geral, não só no esporte, em várias profissões a mulher é desvalorizada e desrespeitada", pontua Amanda.

Apaixonada por esporte desde a infância, a jornalista Eva Regina, de 41 anos, construiu uma relação com estádios ainda pequena, ao lado da família, que sempre a levou para as partidas de futebol. Mas na profissão não imaginava o perrengue que encontraria pela frente. "Infelizmente, há muito preconceito. Eles estão nas palavras e nos olhares, de quem dúvida que lugar de mulher também é no esporte ou onde ela quiser".

Com 15 anos de profissão em campo, Eva diz nunca ter sido desrespeitada a ponto de se sentir constrangida, mas já sentiu na pele a indiferença de colegas que também atuam na mídia esportiva.

Eva Regina durante entrevista em estádio para o programa de rádio.
Eva Regina durante entrevista em estádio para o programa de rádio.

"Em alguns casos, as pessoas falavam que eu devia ser modelo ao invés de repórter, e isso é muito triste de ouvir. Porque nós exigimos e merecemos respeito. Quando escuto pessoas falando de outras colegas na mesma situação que eu, me ofendo e faço de tudo para defender. Acho que a campanha é importante e temos que ir até o fim por ela".

Inspiração - Professora de Língua Portuguesa, Karol Brites, de 26 anos, foi quem decidiu levar o tema à sala de aula da Escola Estadual 11 de Outubro, no Jardim Bonança. Ela fez questão de frisar que machismo não é frescura, nem tão pouco deve ser esquecido até que o problema seja resolvido.

"Eu conheci em Maceió (AL), uma das integrantes do grupo responsável pela campanha, Ana Thais Matos, que me falou de forma muito clara e preocupante sobre o preconceito, assédio e machismo que mulher sofre no ambiente jornalístico esportivo", explica.

Há quatro anos Karol vem trabalhando assuntos referentes a mulher em sala, na rede pública e particular de ensino. "Me chamou muito atenção a campanha porque até então, meus alunos desconheciam esse problema, eu também não tinha conhecimento e acabei pedindo o apoio dessa jornalista para inserir o tema da campanha nas nossas atividades".

A ideia foi proposta na última segunda-feira e os alunos terão um período para pesquisa, debate em sala e um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: Qual é o papel da sociedade frente às denúncias promovidas pela campanha "Deixa ela trabalhar"?

"Não podemos fechar os olhos para todos os problemas sociais e educacionais do mundo. E inserir o tema em uma redação é dar a oportunidade de reflexão, incentivar a pesquisa, o debate e o argumento sobre o quanto é necessário mudança. A partir do momento que a gente propõe isso, nós enquanto sociedade estamos contribuindo para essa mudança".

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