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Comportamento

Na fotografia dos avós, Júlia busca todo dia a simplicidade que deixou para trás

Qual a sua saudade? Conta pra gente no Lado B

Thailla Torres | 15/06/2017 07:15
Josefa e Sebastião, em Cacimba, interior do Piauí.
(Foto: Arquivo Pessoal)
Josefa e Sebastião, em Cacimba, interior do Piauí. (Foto: Arquivo Pessoal)

A fotografia acima revela muito de um amor em família, daqueles que Júlia, aos 25 anos, sabe bem que é capaz de mudar tudo. Registrada em 2015, o #TBT de hoje conta a história da foto que enche de saudade o coração da universitária piauiense. Vivendo em Campo Grande há quatro anos, é no registro dos avós que ela busca alento nos momentos mais difíceis.

“Essa foto foi tirada na última visita que consegui fazer a eles. Na época meu avô ainda estava vivo e consciente, reconhecendo eu e os meus primos”, recorda Júlia Paiva.

Na foto, está dona Josefa Paiva, de 78 anos e marido Sebastião Paiva, de 95 anos, que faleceu dentro de casa, no dia 5 de junho. A arquitetura lembra uma história de luta e amor do casal pela região onde viveram. “Aquelas casinhas no fundo, feitas de alvenaria, é onde eles viveram a vida toda. Eu cresci na casinha rosa do fundo, que era da minha mãe e do meu pai”, conta.

Sebastião enfrentou o Alzheimer durante dois anos e os últimos meses foram difíceis longe dos movimentos e das lembranças da família. "Quando eu o visitei, nessa foto, ele ainda lembrava da gente. Se eu tivesse demorado mais um pouco, ele não reconheceria".

Casados há 60 anos, foram eles quem construíram as residências em Cacimba, interior de Alegrete, no Piauí. Da porta de madeira às cores desbotadas, Júlia diz cada parte revela um pouco da identidade do casal. "Eles até se mudaram para cidade, em Alegrete, mas sempre que a gente ia visitá-los, eles queriam voltar para a roça, que era como eles chamavam essas casinhas. Ali cresceram e criaram todos os filhos". 

Em volta da residência, Josefa e Sebastião cuidavam da roça e criavam galinhas. Parte da produção era vendida e o que sobrava garantia o alimento da família. "Era tudo muito simples, as pessoas do interior no Piauí pensam muito diferente da gente. Se já tinham a casinha, bastava ter o que comer naquele tempo", conta a neta. 

Além das lembranças da infância, Júlia encontra na foto a paz e a simplicidade que ela largou para fazer faculdade em Campo Grande.

"Praticamente toda minha infância foram nessas casas, lembro muito da gente correndo no quintal e de como meus avós maternos fizeram parte da minha vida, enquanto meus pais precisavam trabalhar. Eles foram os pilares da família. Conseguiram educar os filhos, que fizeram isso perfeitamente com os netos". 

A saudade é tanta que a fotografia deu sentido a uma das tatuagens de Júlia. "Fiz as coordenadas geográficas desse lugar. Quando eu olho a foto fico pensando na maneira como meu avós envelheceram que é tão diferente do que eu vejo por aqui". 

A universitária acredita que lá, eles enxergam a vida de outro jeito. "Eles parecem que não se preocupam com nada. Foram muito trabalhadores, mas se faltava dinheiro, isso não era motivo de desespero, já que todo mundo sorri para o vizinho e se ajuda. Acho que foi esse jeito mais pleno de viver que deixou meu avó vivo até esse ano", acredita.

Sempre muito saudável, Sebastião trabalhou até quando tinha condições de "aposentar". "Ele nunca aguentou ficar parado. Tanto que na cidade, eles compraram um terreno só pra fazer a própria roça". 

Com todas essas lembranças, a fotografia trouxe um silêncio que nunca havia existido, mas ao mesmo tempo, um orgulho, de ver que a felicidade sempre esteve ao lado da família. "Nunca foi fácil, mas nunca vi meus avós infelizes. Tanto que fico muito triste em lembrar que ele morreu, mas ao mesmo tempo aliviada que a vida tirou esse do sofrimento dos últimos dias". 

E para que o amor sempre tenha peso na hora da saudade, Júlia guarda o retrato como inspiração. "Eu tenho muita vontade de voltar. Quero terminar a faculdade, ter experiência e ir morar no Piauí de novo. Não na mesma cidade, mas que seja um lugar mais perto. Eu aprendi amar Campo Grande, mas o lugar da gente é uma ligação que nunca acaba".

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