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Comportamento

Na rodovia, Bruno e Mak arriscaram carreira para atender pedido de socorro

Thailla Torres | 04/09/2018 08:54
Mak levou a menina de 1 ano e sete meses nos braços até ambulância. (Foto: Arquivo Pessoal)
Mak levou a menina de 1 ano e sete meses nos braços até ambulância. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Se eu tivesse que perder o concurso, ia perder para salvar uma vida", diz o policial militar Bruno Roberto de Albuquerque dos Santos, de 35 anos. Na manhã do último domingo (2) ele abriu mão de contar os minutos para chegar em concurso onde a disputa era de 67 por vaga e, a caminho do sonho de avançar na carreira, parou para socorrer uma família na MS-040, entre Santa Rita do Pardo e Campo Grande.

Bruno e o amigo Mak Franco de Oliveira, de 42 anos, também policial militar em Nova Porto 15, distrito de Bataguassu, estavam em um Celta quando passaram pelo local do acidente. Haviam saído com antecedência do município, na divisa com São Paulo, para as provas de oficial do Corpo de Bombeiros no período da tarde, aqui na Capital. Apesar de PMs, os dois dizem que sempre tiveram o sonho de ser bombeiros.

Ao ver um grupo de pessoas pedindo ajuda na beira da estrada, a vocação veio à tona e os dois decidiram voltar, apesar do risco de perder a hora. "Eu passei devagar, vi o carro capotado e fiquei pensando naquele momento se daria tempo de chegar ao concurso. Olhei para o Mak e disse que a gente poderia perder a prova, mas precisava ajudar".

Mak concordou no primeiro minuto e os dois voltaram ao local. Ao chegar, Bruno constatou que das três pessoas envolvidas no acidente, uma delas havia morrido. "Foi uma cena muito forte, ela estava muito machucada, foi arremessada do veículo", conta.

A mulher é Michele Dulce Morales, de 28 anos, que havia partido da Capital com destino a Ourinhos (SP), visitar familiares. No carro, além dela, estava o marido, de 35 anos, e a filha, de 1 anos e 7 meses.

Bruno também veio prestar o concurso em Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)
Bruno também veio prestar o concurso em Campo Grande (Foto: Arquivo Pessoal)

Bruno e Mak tiveram dificuldade de entrar em contato com o serviço de urgência e decidiram prestar socorro até a cidade mais próxima. "Na hora a gente não conseguia pensar em muitos detalhes, apenas em socorrer as vítimas. O pai estava com fortes dores e com a mão muito machucada, imaginei que ele poderia estar com uma hemorragia, enquanto a criança também estava quietinha, dentro do carro de outra família na estrada".

Os policiais colocaram as vítimas e as malas no Celta e seguiram viagem com destino a Campo Grande. "O celular não funciona na estrada, do começo até o final da MS-040 não conseguimos sinal".

No caminho, Bruno e Mak tentaram conversar com o pai, identificado como Marcelo. Ele diz que o homem estava muito nervoso e não sabia explicar como tudo aconteceu. "Segundo ele, a última lembrança é quando a esposa tirou o cinto para tentar arrumar a cadeirinha da filha. Com o acidente ela foi jogada para fora do carro".

A criança foi levada no colo, chegou a passar mal no caminho e Mak tentou acalmá-la. "O pai perguntava a todo momento se ela estava bem e acordada, foi um momento muito difícil porque ele sabia que a esposa havia morrido".

Os policiais chegaram até um posto da CCR MS Via, concessionária da BR-163, em busca de ajuda. Ficaram no local até o último minuto e seguiram viagem até Campo Grande após as vítimas terem sido socorridas pela equipe.

Por sorte, Bruno e Mak que "abriram mão" da carreira naqueles instantes, chegaram a tempo para as provas do concurso. "Mas fiz a prova atordoado, não conseguia parar de pensar naquele acidente, naquelas pessoas. É um sentimento de tristeza por uma morte, mas também de recompensa por conseguir ajudar o próximo".

Depois da prova, os amigos foram até a Santa Casa, devolver as malas da família e saber como os dois estavam. "Isso nunca tinha acontecido comigo, é uma experiência que jamais vou esquecer", diz Bruno.

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