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Comportamento

No auditório de colégio, "velhos" alunos juram amizade eterna 50 anos depois

Paula Maciulevicius | 02/02/2015 06:12
O tempo na manhã deste domingo parou para eles matarem as saudades de 50 anos. (Foto: Paula Maciulevicius)
O tempo na manhã deste domingo parou para eles matarem as saudades de 50 anos. (Foto: Paula Maciulevicius)

Os portões estavam abertos e as conversas se ouviam de longe. O tempo na manhã de domingo parou para eles. Não teve sino de escola que batesse para lembrá-los das aulas, apenas o coração que apertava a cada abraço. Alunos do extinto Colégio Estadual Campo-grandense se encontraram 50 anos depois, nas mesmas salas e auditório onde receberam as lições de casa na infância. Ouviram também as palavras da eterna professora Maria Glória de Sá Rosa. Foi emoção de quem revive o passado e "reinventa as coisas", como ela disse.

"É uma festa de amizade, de amigos de escola. Essa escola fez tanto por todos nós, direcionou parte da história e das artes dessa cidade. Colegas se destacaram na profissões e professores que, de certa forma, foram visionários", explica um dos organizadores, Moacir Saturnino de Lacerda.

Nas cadeiras, a gente via nomes que hoje são autoridades, ocupam cargos de destaque na Capital e muitos que as cortinas se abriram para eles no palco. Entre os conterrâneos dessa época nas artes: componentes do Grupo Acaba, Geraldo Espíndola, Paulinho Simões.

Nas fotos, ex-alunos tentavam se encontrar quando meninos. (Foto: Paula Maciulevicius)
Nas fotos, ex-alunos tentavam se encontrar quando meninos. (Foto: Paula Maciulevicius)
Nomes estavam escritos de caneta para lembrar quem era quem.
Nomes estavam escritos de caneta para lembrar quem era quem.

Seu Moacir explica que as redes sociais foi o que mobilizou todo encontro. "E quando olhamos para trás, já era o jubileu... Já se passaram 50 anos". Até para ele é difícil de acreditar.

Numa das portas, algumas fotos mostravam personagens de um passado que parece ontem. Desfiles do Colégio Estadual Campograndense, uma turma faz pose para o registro com o antigo uniforme. E em volta, no hoje, os adultos tentavam se encontrar ou identificar colegas ali.

Em todos os cantos do pátio se ouvia cumprimentos alegres, de quem há muito tempo não se via e até perguntas "você é a Sueli? Estudamos na mesma sala, eu sou a Graça. Celulares a postos, também era hora de fazer novos registros para quem sabe olhar daqui alguns anos de novo.

As irmãs Gilcleide e Gildicleide, uma advogada e outra arquiteta, andavam lado a lado. A arquiteta se formou no Rio de Janeiro e lá ficou. Neste domingo, veio a Campo Grande especialmente para o encontro. "Bárbaro, uma ideia maravilhosa, ela estudou comigo, ele também", apresentava Gilcleide os colegas.

"Tem muita coisa diferente, mas também muitas lembranças", completa. A viagem para a irmã, tanto de distância quanto no tempo estava valendo a pena. "Lógico! É muito boa essa sensação de rever amigos, alguns eu não via há 30 anos", pontua Gildicleide.

Fotografias antigas e nostalgia foi o que não faltou. (Foto: Luiz Cláudio Fogaça)
Fotografias antigas e nostalgia foi o que não faltou. (Foto: Luiz Cláudio Fogaça)

De mão e mão, passava entre colegas que estudaram nos anos de 1968 e 1969, um álbum de lembranças. As páginas já desgastadas pelo passar das décadas exibiam uma caligrafia perfeita de quem muito treinou na época estudantil. No cantinho de cada folha, uma foto 3x4 dos alunos. Era uma recordação escrita à Thelma Cesco Ribeiro Charro, na época da escola.

"É uma recordação, quando jovem meu pai me deu esse álbum em 1966. Tenho uma página de 67, da professora de Português Leidir Monteiro... Eu tenho o hábito de guardar como lembrança, é uma coisa que vem de família, esse carinho, amor e vai passando até os netos", explica.

Os olhos azuis e os traços da bela estudante permanecem e quando a gente pergunta à Thelam se imaginava quando mocinha um encontro assim, ela responde com surpresa que não. "Cada um tomou um rumo, mas foi muito bom. Gratificamente, te abastece o emocional e a gente vê que as pessoas constituíram famílias, estão saudáveis", diz.

Numa das folhas de caderno, o juiz Geraldo de Almeida Santiago, de 61 anos, revê o que foi escrito. Duas páginas dedicadas à colega que ele não se lembrava mais. "Estudei 9 anos aqui, mas não me lembrava desse uniforme", se olha nos antigos registros. Os olhos tentam achar aquele menino que passou tanto tempo naquelas carteiras, num lugar que foi o ponto de partida de amizades.

"Depois de 50 anos você saber que tudo começou aqui. Nossa formação como cidadão, isso é importante para a gente, para os nosso filhos. Eu não me dei conta que passou tanto tempo. A vida vai te levando por esses anos e você acaba que não tem consciência de tudo que passou, mas vê que realmente foram bons tempos".

Álbum de recordações trazia escritos de 1968. (Foto: Paula Maciulevicius)
Álbum de recordações trazia escritos de 1968. (Foto: Paula Maciulevicius)

Entre contos, causos e homenagens, o piano recebeu Lenilde Ramos. Ela não estudou lá, mas explicou aos colegas que esteve presente devido à proximidade que teve e tem com a professora Glorinha, Geraldo Espíndola e Paulinho Simões. A escolha da música não podia ser melhor, ela sabia que ao tocar as notas, também tocaria os corações dos presentes.

No breve repertório, "Velhos Amigos", de Paulo Simões, dá o tom de nostalgia, se é que a saudade já não estava completa. "Velhos amigos quando se encontram trocam notícias e recordações... Os velhos amigos quase nunca se perdem, se guardam para certas ocasiões"... E havia chegado uma delas, a ocasião do reencontro, do abraço, de ver no rosto de cada um que velhos amigos também rejuvenescem juntos, de outros verões e brindam alegrres seus vivos e mortos com novas canções. 

Todo o sentimento da data foi transportado para uma caixa, ou o que coube dele ali. O engenheiro e economista Celso Higa, também ex-aluno, foi o primeiro a exemplificar o que seria a cápsula do tempo. "Me passaram para cuidar dela, guardar de lembrança e abrir daqui 10 anos", explica. O que ele colocou foi uma fotografia montada, de si com 12 anos e de agora. "A gente deixa essa lembrança, porque aqui tivemos bons momentos". 

Professora homenageada, Glorinha de Sá Rosa. (Foto: Luiz Cláudio Fogaça)
Professora homenageada, Glorinha de Sá Rosa. (Foto: Luiz Cláudio Fogaça)

São tantos registros, tantas falas comoventes que pra gente que ouve e escreve, fica até difícil de selecionar. Ao subir ao palco, professora Glorinha não quis a cadeira, deixou a bengala de lado e falou para os alunos. Eternizada professora, é claro que quem passou por sua mão também não deixará de ser aprendiz, nunca.

"Descrever a emoção de hoje é impossível. Estamos revivendo um tempo de ouro, um passado que foi o paraíso de todos nós e os verdadeiros paraísos são os que ficam na nossa memória", pronunciou docemente.

Uma das alunas que mais transbordava emoção até pediu o microfone para falar que quase não viria, mas não resistiu. A saudade foi maior a ponto da engenheira Maria Taeko Kakazu, de 63 anos, deixar Brasília para passar o final de semana aqui.

A saudade foi maior a ponto da ex-aluna vir de Brasília para o encontro. (Foto: Paula Maciulevicius)
A saudade foi maior a ponto da ex-aluna vir de Brasília para o encontro. (Foto: Paula Maciulevicius)

"Eu tinha muita vontade de estudar no Estadual, era o colégio referência. A gente tinha que fazer o exame admissional primeiro. Aqui entrei criança e saí adolescente, passei minha vida toda neste colégio. Tive meu primeiro zero aqui, numa redação do professor Cesar Maksoud. São lembranças inesquecíveis. Isso aqui foi a minha vida e eu sempre quis que um encontro desse acontecesse. Quando eu vi a minha foto segurando o "D" do Estadual, realmente eu não resisti. Quero viver mais 50 anos como esses".

O juramento foi feito com a mão no peito e em pé. O texto, da professora Glorinha, foi repetido em alto e bom som: "prometo ser fiel e amigo de todas as horas, dos amigos e dos professores que ajudaram a formar o meu caráter, a ver o mundo com os olhos de sonho neste palácio da cultura e do saber que é o Colégio Estadual Campograndense. Eu prometo".

"Velhos amigos conhecem o perigo, mas fazem de conta que o tempo não ronda mais seus corações..." A cápsula do tempo e um próximo encontro já está previsto para daqui cinco anos.

"Velhos amigos conhecem o perigo, mas fazem de conta que o tempo não ronda mais seus corações..." (Foto: Luiz Cláudio Fogaça)
"Velhos amigos conhecem o perigo, mas fazem de conta que o tempo não ronda mais seus corações..." (Foto: Luiz Cláudio Fogaça)
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