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Comportamento

No balanço da festa, elas dizem que homens ainda não aprenderam que "não é não"

Quanto menos roupa, mais assediadas as meninas são, e estar acompanhada ajuda contra o assédio

Thaís Pimenta | 14/02/2018 06:20
Concentração do Cordão Valu no último dia de festa. (Foto: Eva Lima/ Cordão Valu)
Concentração do Cordão Valu no último dia de festa. (Foto: Eva Lima/ Cordão Valu)

Só quem é mulher sabe como é difícil lidar com o assédio contínuo e, no Carnaval, o que já é complicado fica insustentável. São seguradas no cabelo, puxadas nos braços e, em casos mais graves, tentativas de beijos forçados e passadas de mão pelas partes íntimas da mulher. Em meio a um cenário que ainda não é positivo para as meninas, ir com menos roupa na festa é um ato de resistência por parte delas e, por que não, de coragem.

No último dia de folia de 2018, perguntamos a elas se essa situação tão constrangedora já havia mudado, pelo menos um pouco. A resposta foi pior do que a gente imaginava: "os homens ainda não aprenderam que não é não", disseram todas as entrevistadas.

A estudante Beatriz Freitas, de 18 anos, decidiu ir fantasiada de girassol e, saiu pelas ruas com a parte de cima do biquíni, com dois girassois customizando o top e um short. O visual lhe rendeu vários puxões no braço. Ela, que esteve acompanhada de um ficante por alguns momentos da festa, quando estava sozinha ou com amigas, notava um comportamento diferente. "É como se a gente não fosse nada. Pra mim, a melhor resposta ao assédio é ignorar, soltar o braço a força e não dar moral", comenta.

 

A jornalista foi fantasiada de sereia e diz que só não foi assediada porque estava acompanhada. (foto: Paulo Francis)
A jornalista foi fantasiada de sereia e diz que só não foi assediada porque estava acompanhada. (foto: Paulo Francis)

A jornalista Stephanie Romcy, de 23 anos, só saiu fantasiada de sereia, como sempre quis, esse ano, isso porque estava acompanhada de seu namorado o tempo inteiro. Com um biquíni e uma saia de paetê, que lembra escamas, ela afirma que, se estivesse sozinha, jamais teria ido dessa maneira. "Porque o assédio é muito grande, por mais que você não dê moral, nem olhe pra pessoa, sempre vai ter uma puxada no braço", diz.

Pra ela, o fato de não ser assediada quando junto  a um homem quer dizer que, na verdade, quem é respeitado é ele. "Eles só respeitam outros homens. Se você estiver acompanhada eles nem vão te olhar, agora se você estiver com qualquer outra pessoa, ou, principalmente, em uma roda de amigas, é certeiro o assédio. Você pode estar até de burca que eles, com certeza, vão puxar teu cabelo".

Ela completa: "eles ainda não entenderam que não é não. É um desrespeito com a liberdade feminina, do nosso corpo. Quanto menos roupa parece que você está pedindo mais pra ser tocada".

Estudante Kaique Leiria acha que assédio depende do bom senso do homem.  (Foto: Paulo Francis)
Estudante Kaique Leiria acha que assédio depende do bom senso do homem. (Foto: Paulo Francis)

O estudante de engenharia civil Kaique Leiria, de 23 anos, concorda que muito homem não tem bom senso na hora da paquera no Carnaval. "Ainda mais quando mistura bebida álcoolica, é comum ver os caras puxando a mina e tentando beijar a força. As amigas das meninas acabam puxando ela pra evitar que isso aconteça. Infelizmente vai do bom senso e da criação do homem", diz.

Para ele, basta encostar na menina, trocar um olhar, mostrar que se interessa, pra que role alguma coisa. "Se ela falar não, acabou ali. Você vira de costas e vai embora. Mas se rolou uma interação parte pra conversa". A roupa mais sensual acaba atraindo mais atenção dos caras, na opinião de Kaique. "Ela chama atenção, diferencia bastante. Não é questão da roupa, é questão de consentimento", finaliza.

A atendente Anny Maldonado, de 22 anos, não deixou de ir do jeito que queria e, mesmo se não fosse casada e estivesse acompanhada, ela afirma que assumiria o mesmo visual, sem medo. "Quando a gente está exposta existe um assédio maior. Mas eu não permito que a atitude de terceiros, dos outros, comande o que eu quero fazer", diz ela, segura.

Anny não deixou que opinião de terceiros e que a possibilidade de assédio a proibissem de vir com  roupa que queria. (Foto: Paulo Francis)
Anny não deixou que opinião de terceiros e que a possibilidade de assédio a proibissem de vir com roupa que queria. (Foto: Paulo Francis)

Ela completa; "eu jamais deixaria de usar uma roupa que eu quero por conta de homem, ainda mais porque gosto muito dessa festa". Anny disse que veio ao Carnaval praticamente todos os dias e, em todos, alguma situação complicada aconteceu. "Mesmo com meu marido do lado ou caras falam coisas, encostam, seguram, isso é muito constrangedor".

O melhor jeito, de acordo com ela, pra conquistar uma mulher na folia é lidar com respeito. "Chega, pede licença, fala que se interessou, Chega na conversa mas não chega pegando, machucando, pegando no cabelo também não acho legal. Tenta falar com ela numa boa", finaliza.

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