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Comportamento

Nunca mais falem sobre apocalipse, para o bem de quem ainda é criança

Ângela Kempfer | 21/12/2012 06:59
Eduardo e um dos seus 3 cachorros de estimação.
Eduardo e um dos seus 3 cachorros de estimação.

Quando crescer, Luis Eduardo espera ser médico ou engenheiro. O menino de 9 anos acredita que uma das duas profissões pode fazer dele um adulto capaz de inventar órgãos para transformar homens doentes em caras com super habilidades. “Vou fazer um coração de metal, por exemplo. Daí, se precisar, é só colocar no lugar do outro, não precisa ninguém doar”, explica.

Corajoso, ele lembra que já salvou a prima duas vezes na piscina e também evitou que o melhor amigo fosse atingido por um vidro quebrado na escola. Mas até um menino assim, em busca de super poderes no futuro, tem dias de medo e daqueles grandes.

Há pouco mais de um mês viu na televisão a notícia de que o mundo poderia acabar hoje e ficou desesperado. “Foi em uma quarta-feira, um dia antes da minha mãe fazer plantão. Nunca mais deixei de ficar com medo”, conta.

A informação, que primeiro surgiu com a propaganda de uma série da TV, passou a ser repetida nos telejornais, nos programas de domingo e assustar cada vez mais, lembra Edu. “Todo mundo começou a falar.”

É só falar sobre o assunto que as mãozinhas ficam sem rumo, uma esfrega a outra com ansiedade e os olhos, de longos cílios pretos, vão ficando cheios de água.

Os amigos nunca souberam da tormenta, por preocupação de quem já sofria. “Não podia falar, porque e se eles também acreditassem? E se eles também ficassem com medo?”, explica.

Eduardo só não guardou a dor diante da mãe. Grudado desde bebê na saia da médica de 43 anos, Edu passou a ter ataques repentinos de pânico. Chorou dias inteiros durante um mês, emagreceu 3 quilos e deixou em alerta toda a família.

Em um domingo, pediu para ir à missa com o avô. “Queria rezar para ver se melhorava”. A triste coincidência foi o sermão citar justamente o Apocalipse.

No dia seguinte, o convite foi para o cinema, mas o filme escolhido também não ajudou: Frankenweenie. Um longa do mórbido Tim Burton, sobre um cachorrinho que morre e é ressuscitado pelo dono. Triste foi ver o cãozinho morrendo duas vezes, o que deixou claro que aquela não era a melhor opção para os dias de Eduardo.

A mãe passou cerca de duas semanas em função do menino. Os plantões das quintas, por exemplo, eram uma dificuldade. “Ficava com medo que o mundo acabasse e ela não estivesse comigo”, justifica o garoto.

A situação foi ficando insustentável, os pais procuraram um médico e Eduardo passou a ser tratado com homeopatia. O resultado é analisado pelo próprio menino. “Fiquei melhor, mas o medo continua, todos os dias”, diz com as palavras tremidas, agora saindo só pelo canto da boca.

Na véspera do dia 21 do 12 de 2012, a ordem era deixar Luis Eduardo bem longe da televisão. Mas, como o cara é corajoso, a entrevista foi concedida, conforme prometido.

Sobre a possibilidade do mundo não acabar, ele acha que tudo ficaria bem melhor "se as pessoas andassem mais de bicicleta".

Para Edu, a certeza de um futuro para o inventor de corações e outros órgãos super poderosos só veio hoje, ao abrir os olhos e perceber que nada de ruim aconteceu com o mundo.

O que fica é a chateação com quem começou toda essa história e que rendeu semanas de uma dor imensa no peito. “Eu pensei que se dava na TV era verdade”, reclama.

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