Nutricionista expõe gordofobia em consulta e gera debate nas redes

Ir ao médico para checar a saúde deveria ser sinônimo de acolhimento, mas, para muitas pessoas gordas, a experiência é de julgamento. A nutricionista Thayana Regina viveu isso recentemente e decidiu transformar o incômodo em denúncia pública.

Em um post nas redes sociais, ela contou que procurou um gastroenterologista depois de um exame de rotina levantar suspeita de um pólipo na vesícula. O que encontrou foi um profissional que, segundo ela, ignorou exames em perfeito estado para reduzi-la ao peso.

“Como nutricionista, eu sei que minha saúde vai muito bem, obrigada. Mas o médico não quis saber. Ele só enxergou uma mulher gorda que precisava ser corrigida”, contou.

Thayana relata que, em vez de discutir sintomas ou histórico familiar, o médico supôs hábitos que ela não tinha. “Ele disse que uma situação específica era porque eu comia fritura. Ele nem perguntou o que eu como. Apenas supôs porque eu sou gorda”, disse.

Calejada por vivências semelhantes, ela conta que não deixou a situação passar em branco. “Falei para ele que como médico ele tinha uma barriga maior que a minha. Foi minha forma de devolver o desconforto. Não é sobre mim, é sobre a falta de qualificação dele”, resume.

Debate nas redes - O relato de Thayana nas redes sociais abriu espaço para dezenas de comentários de pessoas que enfrentaram situações parecidas.

“Uma vez fui a uma endocrinologista que nem pediu exame e me passou uma dieta em que eu deveria diminuir o consumo de fast food para apenas uma vez por semana. Ela perguntou algo sobre a minha alimentação? Não, só decidiu que eu comia fast food todos os dias e, por isso, sou gorda”, comentou uma seguidora.

Outro comentário expôs como dores antigas foram resumidas ao peso. “Tenho um problema na coluna que é causado por um problema que eu tenho no fêmur. As dores começaram há mais de 10 anos, e o ortopedista disse que o problema é que estou gorda. Acontece que engordei na pandemia, e as dores são 8 anos anteriores à pandemia”, detalhou uma internauta.

Outra trouxe à discussão a generalização recorrente. “Quando você é gorda/o, patógenos deixam de existir; doenças autoimunes deixam de existir; tudo é culpa da sua gordura. Fui à dermatologista por causa de uma hidradenite e ela disse que poderia ser por causa da obesidade. Então, respondi que ela começou quando eu estava 18 kg mais magra”, desabafou seguidora.

E entre os relatos mais chocantes, "Eu ouvi de uma 'médica', diante de uma queixa minha legítima de dificuldade para emagrecer, que no campo de concentração não tinha ninguém gordo. Fiquei tão chocada que nem tive resposta", afirmou uma internauta.

Violência estrutural - Thayana reforça que não se trata de casos isolados, mas de uma prática que se repete em consultórios e hospitais. “Essa violência é estrutural. Sobre pessoas gordas recaem processos disciplinares, não de cuidado. Se eu deixo de ir ao médico por medo de ser maltratada e depois passo mal, vão dizer que é porque eu sou gorda. É perverso”, avalia.

A nutricionista defende uma abordagem diferente em saúde, a de “saúde em todos os tamanhos”, que foca no cuidado integral e não na imposição de padrões corporais.

“Todas as pessoas se beneficiam de uma alimentação saudável, em qualquer tamanho. O problema não está no corpo gordo, mas na falta de preparo dos profissionais para enxergar além do peso”, finaliza.

Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News.