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Comportamento

O tempo tirou Argemiro da profissão que amava e agora ele é o querido das senhas

Thailla Torres | 10/12/2017 07:15
Seu Argemiro é a pessoa simpática que recebe os pacientes todos os dias. (Foto: Marcos Ermínio)
Seu Argemiro é a pessoa simpática que recebe os pacientes todos os dias. (Foto: Marcos Ermínio)

Entre os colegas, o ex-socorrista Argemiro Marques Moreira, de 65 anos, já conquistou fama há anos. É uma das figuras mais queridas pelos corredores do hospital. Agora, como novo "entrega-senha" do Pronto Atendimento, não há quem passe sem perceber a simpatia e gentileza de um senhor, que mesmo distante do ofício que mais amou na vida, continua trabalhando com brilho nos olhos sem igual.

Seu Argemiro foi socorrista durante 17 anos no SOS do Hospital da Unimed Campo Grande. Ums vida dirigindo em alta velocidade pela missão de socorrer e salvar mais um. Mas neste ano, foi afastado do cargo. "A idade vai avançando e requer um pouco mais de habilidade, força física", justifica ele, agora trabalhando diretamente com quem chega para consultas.

No setor para entrega de senhas, Argemiro tem um ritmo tranquilo, apesar do plantão de 12 horas, mas sem aquela adrenalina das ruas ou histórias fatais. Na recepção ele dá o melhor de si. Cumprimenta com simpatia, oferece ajuda, pega cadeira e busca tranquilizar até aqueles que muitas vezes chegam em desespero.

Nada o afasta do trabalho. (Foto: Marcos Ermínio)
Nada o afasta do trabalho. (Foto: Marcos Ermínio)

"Tem que ter preparo. Na profissão de socorrista a gente é treinado para oferecer os primeiros socorros e garantir que essa pessoa chegue com vida até o hospital. Mas o jeito com as palavras também é importante, isso muitas vezes ajuda a acalmar o paciente", conta.

Muito simpático, ele cumpre 12 de horas de plantão sem perder o bom humor e a disposição, folga 36 e retorna à mesa de senhas, que já virou segunda casa.

Filho mais velho, Argemiro era quem cuidava dos irmãos na infância para que os pais trabalhassem na roça. Foi leiteiro, entregador de jornal, garapeiro e taxista até se tornou policial. "Naquele tempo a gente atendia de roubo de galinha até homicídio, depois que as coisas foram ganhando outros espaços. Mas a gente fazia de tudo". 

Depois de um tempo como auxiliar no setor de criminalística, Argemiro se identificou com a necrópsia. "Fiquei no setor durante 12 anos. Também era uma responsabilidade muito grande, porque eu não podia receber o parente daqueles que já tinham falecido de qualquer maneira. Era preciso falar com calma e jeitinho", ensina.

Seu Argemiro é todo atencioso com quem chega no hospital. (Foto: Marcos Ermínio)
Seu Argemiro é todo atencioso com quem chega no hospital. (Foto: Marcos Ermínio)

Mas em 2000, uma nova oportunidade bateu à porta de Argemiro, para ser socorrista. "Fiz um curso e consegui a vaga. Dali pra frente foi só correria, era trabalhar no Natal, Ano Novo e qualquer feriado. Mas a gente tinha missão".

Entre tantos desafios, o maior deles foi buscar pacientes em prédios da cidade. "Nenhum elevador de edifício é preparado para receber uma maca, em muitos casos o paciente não podia sentar, então tinha colocar na prancha e descer com ele em pé. Depois disso, dirigir em alta velocidade era o maior desafio. A gente tem que chegar rápido, mas tudo tem que ser feito com muita cautela".

Tão forte e tão feliz. É de se perguntar como Argemiro lidava com as partidas diante do olhar humano que sempre teve com os pacientes. "Com o tempo a gente acostuma, ou entende o sentido da morte, mas foram poucas vezes que eu vi gente morrendo. E toda vez que a equipe salvava uma vida, era muito gratificante, ali a gente entende a nossa missão e tem força pra fazer tudo de novo no plantão seguinte".

Mas o mesmo senhor que nos recebe com um sorriso largo, bem disposto, também descobriu um tumor na cabeça em 2004, inoperável, que aparentemente nunca o abalou. Ele prefere falar pouco da saúde, diz que está bem e não tem porque questionar a vida. "Eu descobri depois de fortes dores de cabeça. Mas o tumor é na hipófise, benigno, foi de fácil tratamento".

A descoberta nunca o fez desistir da profissão, pelo contrário, a ansiedade aumenta toda vez que está próximo de um plantão. "Trabalhar é minha vida, se eu pudesse ainda seria socorrista, mas agora é outra fase. E até quando vou trabalhar? Até o dia que Deus quiser e continuar me dando força pra caminhar até aqui".

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