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Comportamento

Palestra de mãe acolhe a dor que só quem enterra um filho conhece

Psicóloga fala sobre luto, homenagens e acolhimento durante ação de conscientização do luto parental

Por Jéssica Fernandes | 22/07/2025 06:01
Palestra de mãe acolhe a dor que só quem enterra um filho conhece
Inês realizou palestra no Cemitério Santo Antônio, na segunda-feira. (Foto: Osmar Veiga)

“Eu poderia ter trazido aqui para vocês uma palestra explicando quais são as fases do luto, mas as fases do luto pertencem a cada um de nós de uma maneira muito individual.” A frase é de Inês Mongenot, servidora pública que trouxe a própria experiência para falar sobre o luto parental, em uma palestra em alusão ao Julho Âmbar, realizada no Cemitério Santo Antônio, na segunda-feira (21).

A capela virou espaço de compartilhamento da psicóloga, que há 1 ano e 8 meses recebeu a notícia de que o filho, Gabriel Mongenot, de 25 anos, havia sido vítima de um assalto no Rio de Janeiro. Acadêmico de engenharia aeroespacial, Gabriel teve a vida interrompida de forma violenta, como lembra a mãe.

A palestra “Quando a memória abraça a ausência: luto, amor e homenagem” marcou o encerramento das ações realizadas pelo coletivo Guardiões da Memória CG e pela Prefeitura de Campo Grande no mês de conscientização sobre o luto parental, com foco na perda gestacional, neonatal e infantil.

Palestra de mãe acolhe a dor que só quem enterra um filho conhece
Julho âmbar pe voltado a conscientizção do luto parental. (Foto: Osmar Veiga)

Ao Campo Grande News, a psicóloga explica que falar sobre o tema e partilhar sentimentos também promove a cura. “É uma cura para mim e para as pessoas, de a gente poder ter esse tempo de afeto, carinho e solidariedade”, fala.

Na ocasião, Inês trouxe uma fala sobre os sentimentos que surgem quando uma pessoa vive a experiência de perder um filho, um ente querido. “A sensação de falta de preparo é muito forte. Quando bate à nossa porta, o chão se abre. Começa aquele início de emoção: o que eu faço, como faço, é verdade, é comigo, não é comigo? Ainda hoje em dia, às vezes, me pergunto: ‘Essa história é minha?’”, conta.

Ainda sobre o luto, a servidora comentou sobre o “prazo de validade” que a sociedade tenta colocar em um processo que é único para cada pessoa. “Ele não tem tempo. A sociedade às vezes quer nos dar um tempo, um ano, dois anos. O tempo não está nos nossos braços, mas o planejamento está”, pontua.

Palestra de mãe acolhe a dor que só quem enterra um filho conhece
Mulher acompanha palestra que ocorreu dentro da capela do cemitério. (Foto: Osmar Veiga)

Planejamento que envolve traçar ações em que é possível homenagear entes queridos diariamente ou em momentos específicos. A própria escolha em palestrar, segundo Inês, era uma homenagem ao filho Gabriel.

“Hoje eu me sinto aqui compartilhando com vocês um momento em que posso parabenizar a vida do meu filho. Ele viveu 25 anos, foram 25 anos de leveza e tranquilidade. Hoje estou aqui homenageando ele, isso é transformar os momentos em algo que a gente pode viver”, conta.

Para quem acompanhou a palestra, Inês explicou que as homenagens trazem força, paz, um sopro. Os sopros de vida no processo de luto, o afeto em suas diferentes formas, são importantes de serem aceitos por quem viu alguém que ama partir.

“Cada abraço que a gente recebe é um fôlego de Deus dizendo que a gente é importante, que nossos filhos foram e são extremamente importantes. [...] Às vezes é difícil para nós recebermos esse afeto, porque a gente olha para a pessoa e pensa que ela não tem dimensão da dor que sentimos. Mas ela está ali disponível para preencher um pouquinho esse vazio”, afirma.

Palestra de mãe acolhe a dor que só quem enterra um filho conhece
Participantes receberam sementes de girassol no final da palestra. (Foto: Osmar Veiga)

Durante a palestra, Inês também falou sobre o desafio de seguir em frente depois da perda. Ela contou que tenta avançar sem esquecer o que viveu, puxando o que há de melhor da própria história. “Esse primeiro passo a gente tem que dar diariamente. Eu queria partilhar com vocês que é possível. Não é simples. Tem dias que dá vontade de dar um passo para trás. Nós vamos ter que descobrir esse propósito nessa caminhada, se permitindo”, declara.

Ao final da palestra, os integrantes do coletivo distribuíram sementes de girassol aos participantes. A planta, que se volta para o sol em busca de luz, simboliza o Julho Âmbar por representar acolhimento, força e a esperança de dias melhores para quem vive o luto, lembrando que é possível seguir em frente mesmo em meio à dor.

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