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Comportamento

Para quem estuda novas formas de relação, amor romântico é "busca impossível"

Grupo se encontrou no último sábado para discutir os "novos amores" que vão contra os valores românticos

Eduardo Fregatto | 27/06/2017 07:20
Encontro reuniu psicólogos e pessoas fora da área que se interessam pelo tema. (Fotos: Alcides Neto)
Encontro reuniu psicólogos e pessoas fora da área que se interessam pelo tema. (Fotos: Alcides Neto)

Em tempos de relacionamentos abertos e do polêmico poliamor, muitas pessoas ainda tentam entender o que realmente significam estas novas maneiras de se relacionar e encarar o amor. Justamente para tentar responder a essas perguntas, três psicólogas de Campo Grande, Daiane Ribeiro, Isangela Lins e Carolina Fredo, decidiram marcar um encontro, aberto aos profissionais da área e demais interessados, para discutir e desvendar os mistérios dos "novos amores".

O encontro foi sábado à tarde, e o Lado B participou da conversa, que focou num viés da psicanálise, e conversou com  uma das psicólogas, que falou sobre como a ideia do "amor romântico" vem sendo cada vez mais desmistificada entre a sociedade.

Para a psicóloga Daiane Ribeiro, muitas pessoas criam um ideal impossível de se alcançar e, por esta razão, acabam vivendo em frustração. Trata-se do famoso "amor romântico", com aquela ideia de alma gêmea, a cara metade, o outro que vem para completar a sua existência. "Na verdade, a gente não precisa ser completo para viver", define a psicóloga. "O amor romântico cria a ideia de que o outro vem para te completar, então você vê mais de você no outro do que em si mesmo. É uma busca impossível, porque como jogar uma responsabilidade dessas em outra pessoa?", indaga.

Daiane quer mostrar que a psicanálise avança com a sociedade.
Daiane quer mostrar que a psicanálise avança com a sociedade.

Dentro da psicanálise, Daiane explica que existe um conceito chamado de "amor real", que seria o relacionamento baseado em expectativas plausíveis, sem idealizações deste alguém perfeito, que traria a almejada felicidade plena. "O amor real é: 'eu te amo mas sei que você não me completa. Mas ainda assim, você me faz feliz. Não me causa plenitude, mas me traz felicidade'", exemplifica.

Para a psicóloga, essas novas categorias de relacionamentos que ganham cada vez mais visibilidade, como os trisais (relações entre três pessoas), relacionamentos abertos e livres, o poliamor (em que uma pessoa tem vários relacionamentos amorosos, simultaneamente, com consentimento de todos os envolvidos), as relações homoafetivas, entre outros, não são relações exatamente novas, mas que agora ganham maior reconhecimento. "Na Grécia antiga, os homens podiam se relacionar com outros homens, já existiam os trisais e o poliamor. Então não é algo novo, mas essas relações estão mais visíveis hoje", pontua.

Para ela, o motivo dessa visibilidade é um movimento político criados por essas pessoas, que tentam afirmar seus relacionamentos publicamente. "Ao contrário dos que muitos pensam, o poliamor não é uma orgia. São só pessoas que não se prendem, que não tentam se completar, elas criam vários laços que não se desligam, porque há um bem para elas naquilo".

"Amar é misturar-se ao outro sem temer efeitos colaterais", diz imagem.
"Amar é misturar-se ao outro sem temer efeitos colaterais", diz imagem.
Memes bem-humorados lidam com questões dos relacionamentos modernos.
Memes bem-humorados lidam com questões dos relacionamentos modernos.

A ideia do encontro, segundo Daiane, veio da necessidade de mostrar que a psicanálise está evoluindo juntamente com a sociedade. "A psicanálise é antiga, mas as pessoas não sabem que ela avançou para além do Freud", destaca Daiane. "Não interessa pra psicanálise se a é relação gay, heterossexual, aberta ou monogâmica. O analista nunca vai julgar isso. A questão é: o que você deseja? O que te movimenta? Porque o ser humano nunca vai parar de desejar. Não existe felicidade plena, nós nunca estamos satisfeitos. A questão é justamente dar um sentido a tudo isso", explica.

Os encontros devem acontecer periodicamente, com vários temas diferentes, e todas as pessoas estão convidadas a participar dos bate-papos, organizados no Parlêtre - Espaço de Psicologia e Psicanálise.

Isangela é uma das organizadoras do encontro.
Isangela é uma das organizadoras do encontro.

Futuro - Diante de tantas novas maneiras de se amar aparecendo na sociedade, o grupo de psicólogos não acredita que haverá, necessariamente, uma aceitação da sociedade. Mas pouco fará diferença na vida de quem escolheu viver de uma maneira menos convencional. "Acho que, com o passar do tempo, as pessoas não vão mais se preocupar em serem aceitas, vão viver da forma que é melhor pra elas, porque já perceberam que essa ideia do amor romântico não existe. Então a opinião da sociedade vai ser irrelevante", opina.

Para receber o debate dos novos amores, as psicólogas criaram uma decoração com vários papéis ilustrando memes bem-humorados da internet, relacionados ao tema de amor e relacionamentos. "Os memes explicam tudo", destaca Daiane. "Essas piadas da internet estão mostrando que o amor romântico não está sendo mais tão buscado. A ideia de amar hoje e largar amanhã não é mais tão temida. É o que as pessoas estão falando nas redes, é a linguagem atual. Afinal, não existe modo certo [de se relacionar], porque o amor não tem garantias e não precisa ter exigências", finaliza.

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