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Comportamento

Pedreiro bateu muita massa para provar ao filho que ele podia ser engenheiro

A vida não foi fácil para os dois, que hoje compartilham o orgulho da formação e do trabalho juntos

Thailla Torres | 23/09/2019 08:51
Luiz e Matheus, pai e filho que hoje trabalham juntos na mesma obra. (Foto: Helio de Freitas)
Luiz e Matheus, pai e filho que hoje trabalham juntos na mesma obra. (Foto: Helio de Freitas)

Nascido e criado pelos pais na periferia de Campo Grande, Matheus da Silva Gavilan, de 25 anos, sempre lembra deles contando as dificuldades de trabalhar muito e ganhar pouco para os alimentos dos filhos e as despesas básicas da casa. O pai trabalha desde à infância como pedreiro.

Luiz Pereira Gavilan, hoje com 61 anos, conta que ensinou ao filho cada detalhe do seu ofício, ostentando a alegria que é bater massa e provando que ele poderia ser o que quiser, inclusive, engenheiro.

Se essa história fosse imaginada algumas décadas atrás, certamente seu Luiz não teria tantas perspectivas do futuro. A vida era mais dura com o trabalhador que, sozinho, tinha que fazer a família sobreviver com o pouco que ganhava. Mesmo assim, ele não desistiu, sabia que, pelo menos a escola, as crianças tinham que ter.

Luiz chegou até a sétima série do Ensino Fundamental. Dos cinco filhos, todos terminaram o Ensino Médio, uma filha já formou em Direito, outra está fazendo Pedagogia, outro é um “eletricista de mão cheia”, diz o pai, tem uma que atua na Rede de Sáude e Matheus conquistou a Engenharia Civil. Nessa sequência, o pedreiro descreve seu maior patrimônio. “Tudo que eu queria dar para os meus filhos era estudo. Se eles fariam uma faculdade, eu não sabia, mas eles iriam para escola, todos”.

Matheus tem orgulho de todo esforço feito pelo pai. (Foto: Helio de Freitas)
Matheus tem orgulho de todo esforço feito pelo pai. (Foto: Helio de Freitas)

Os pais sempre se dedicaram pelos estudos e concentraram suas vidas em cima desse objetivo. Assim como Luiz começou a trabalhar cedo para ajudar a família, Matheus também o fez por questão familiar. “Eu comecei a ralar cedo com ele, na adolescência. Desde pequeno eu ia para a obra. Acho que isso me motivou mais a ser engenheiro. Ele não entendia muito bem o que era a profissão, mas me apoiou quando eu quis focar nessa área”, conta o filho.

Como ajudante, Matheus cresceu batendo massa, fazendo acabamentos e vendo como o trabalho dos pedreiros eram essenciais. “Eu tinha muito orgulho de ver que meu pai era quem construía tudo aquilo para uma pessoa morar, trabalhar e comercializar. Isso se tornou minha motivação para ser engenheiro e atuar numa obra junto com ele”.

A maior alegria veio em 2011, quando Matheus passou em um vestibular para Engenheria. Mas como a faculdade era particular, com ela surgiu a dúvida sobre como a família pagaria. Seu Luiz não mediu esforços, enfrentou todas as burocracias e ajudou o filho a conseguir um financiamento. Deu certo. “Quando eu comecei a faculdade, essa foi a nossa maior aventura. Vi meu pai largou a vida dele só para viver a nossa. Durante toda a minha faculdade, foi ele quem me ajudou com os materiais e custeou todas as necessidades para que eu me concentrasse no estudo. Isso fez toda diferença, porque Engenharia Civil não é algo fácil”.

Seu Luiz se emociona de ter conseguido dar "estudo" para os cinco filhos. (Foto: Helio de Freitas)
Seu Luiz se emociona de ter conseguido dar "estudo" para os cinco filhos. (Foto: Helio de Freitas)

Muita coisa na faculdade se tornou fácil, mas não pelos livros. “Meu pai é um pedreiro muito experiente. E algumas matérias estavam ligadas a tudo que eu tinha aprendido com ele”.

Cinco anos passaram e lá estava Luiz, junto do filho, pegando o diploma. “Isso me deu muito orgulho, aliás, emoção é pouco para o que eu senti. Eu nem falo muito que tenho filho engenheiro e outros filhos formados, para não dar falatório, mas quando vejo cada um deles trabalhando, eu me sinto orgulhoso”.

Ao final da faculdade, o pai não só comemorou com sorrisos e abraços, como reuniu a família e fez uma festa surpresa para o filho. “Ele, minha mãe e meus irmãos organizaram tudo escondido, foi uma festa linda e emocionante, só pela minha formação. Até hoje eu não sei como agradecê-los”.

Hoje, pai e filho trabalham na mesma empresa, dividem as dificuldades e os sonhos. Apesar de Luiz dizer que está com a saúde em dia, Matheus já sonha com a aposentadoria dele. “Eu e meus irmãos queremos dar o melhor para os nossos pais. Eles trabalharam muito por nós. Chegou a nossa hora de trabalhar por eles”.

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