Pedro fez de tudo, mas se viu feliz consertando sapatos em cubículo
Após sair do ramo de vendas de materiais de construção, ele achou na sapataria um refúgio e sua profissão
O toldo amarelo de uma pequena sapataria na Avenida Mato Grosso denuncia que ali tem história. Com as mãos cheias de cola, Pedro Fabrício Amorim, de 49 anos, transforma sapatos surrados em quase novos e pedaços rústicos de couro em bolsas, carteiras e cintos. Mas antes de tudo isso, ele já foi estoquista, vendedor e até pintor de apartamento.
Foi na sapataria que encontrou um jeito de viver e até se acalmar dos estresses da vida. O ofício que virou terapia. “Eu trabalhava com vendas, já tinha passado por loja de material de construção, trabalhei muito tempo nisso, mas começou a me estressar. Aí pedi a Deus uma direção”, conta.
A ideia surgiu da necessidade. Há 18 anos, Pedro ficou sem ter para onde correr e resolveu pedir ajuda ao amigo de longa data que já era sapateiro e montou uma loja no local. Foi ele quem ensinou tudo o que Pedro sabe. Desde então, a parceria nunca se desfez.
Para Pedro, a sapataria é uma profissão muito boa por ser capaz de distrair e relaxar. As partes básicas do ofício foi aprendido em três meses.
“Primeiro ele me colocou lá para enganchar sapato, colava, aí fui para a parte de restauração mesmo do sapato, começar a consertar, trocar saltinho, trocar um solado, fazer uma pintura. Aí eu fui aos poucos. Às vezes, você está meio estressado no dia, faz e aquilo ali vai sendo tipo uma terapia para você. Vai trabalhando a mente. Eu sou feliz, eu gosto de fazer o que eu faço.”
Já o trabalho com o couro entrou na vida do sapateiro depois, durante a pandemia. Como ele estava sem serviço na loja, Pedro não queria ficar parado. “Comecei a ver vídeos no YouTube. E ali eu vi a parte do couro, pensei: o rapaz fabricando carteira... o couro eu já tenho lá, então não custa nada tentar.”
A tentativa virou prática, e hoje ele fabrica por encomenda cintos, bolsas, carteiras, bainhas de faca e até coldres. Mas não é um negócio corrido. Pedro cuida de cada peça com calma,“É tipo uma terapia. Às vezes o dia está pesado, mas eu começo a mexer com couro e parece que a mente vai ficando leve”, confessa.
O tempo foi passando, e hoje Pedro atende clientes, dá orçamentos, opina com sinceridade. “Se o sapato não tem conserto, eu falo. Não adianta querer enganar o cliente. Tem coisa que não compensa mexer.” Segundo ele, a clientela é, em grande parte, feminina.
Hoje 80% são mulheres. A gente faz muita troca de solado, salto, zíper de bolsa, pintura. Mas o forte mesmo é o solado”, explica. E quando chega o frio, a procura por conserto de botas triplica. “Nessa época do ano, a gente vive colando, hidratando, ajeitando bota. Tem dia que não dá nem para ver o chão lá de tanto calçado”, brinca.
O segredo de estar há tantos anos na profissão ele diz não ter, mas conta que a chave para uma troca boa com os clientes é a honestidade.
“A gente explica para o cliente se tem condição de consertar. Eu faço, tento fazer o melhor possível para agradar, fazer o que ele necessita, e o valor também, porque não é muito caro.”
Mesmo com a rotina cheia, Pedro ainda arranja tempo para pintura de apartamentos nos fins de semana. A renda do couro, da sapataria e da pintura ajuda no orçamento. Ele comenta que cada etapa foi aprendida com calma, mão na massa e fé. “O que eu tenho hoje é graças à minha profissão de sapateiro e a Deus. Foi ela que me estabilizou.”
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