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Comportamento

Quanto uma pessoa está disposta a dever para salvar animais pelas ruas?

Para tratar e salvar bichos resgatados, muitos ativistas da causa criam débitos exorbitantes nas clínicas veterinárias

Eduardo Fregatto | 15/06/2017 07:05
Miriam e a cadela Laika, resgatada das ruas. (Foto: Alcides Neto)
Miriam e a cadela Laika, resgatada das ruas. (Foto: Alcides Neto)

É muito comum ver protetores de animais pedindo doações ou promovendo rifas e eventos para angrariar fundos e quitar dívidas. Semana passada, inclusive, o Lado B noticiou um grupo de amigos que realizou uma feijoada vegana para custear tratamentos de cães e gatinhos resgatados. Mas você já parou para pensar até onde pode chegar uma dívida contraída por conta de um animal abandonado?

Conversando com protetores e veterinários de Campo Grande, descobrimos que o débito pode se acumular em R$ 5,000, R$ 10,000 ou até em R$ 30,000. "Já tivemos dívidas nesse valor", confirma a veterinária Ana Lúcia Salviatto Andrade, da Capital.

A protetora Miriam Izumi Murakami, 39 anos, chegou a dever R$ 10 mil em apenas um mês. Desde que começou os resgates, ela já ajudou mais de 100 animais, entre cachorros e bichanos. "Eu amo os bichinhos, não consigo ficar sem fazer nada", explica. 

Atualmente, ela está com 7 animais internados em clínica e realiza rifas para conseguir custear as despesas. "Eu peço doações e vou pagando conforme o dinheiro vai entrando. Essa semana paguei R$ 3,9 mil, e ainda ficou  R$ 3,6 mil. Só vai aumentando".

Outra protetora da Capital, Ana Lúcia Montes, precisou parar com os resgastes por conta das dívidas e do cansaço fisíco e emocional. Ela tem 14 cachorros em casa e já têm gastos mensais significativos. "Tem meses que preciso de 60 quilos de ração. Eu fiz curso de enfermagem e veterinária para aprender a fazer certos procedimentos e economizar com as clínicas", conta.

Alguns dos vários recibos de clínicas guardados por Miriam. (Foto: Alcides Neto)
Alguns dos vários recibos de clínicas guardados por Miriam. (Foto: Alcides Neto)
Bruna mostra um dos seus recibos, no valor de R$ 2,676. (Foto: Acervo Pessoal)
Bruna mostra um dos seus recibos, no valor de R$ 2,676. (Foto: Acervo Pessoal)

Ana diz que é muito comum ver protetores atolados em dívidas, e já viu colegas com débitos de R$ 30 mil. E a situação só aumenta. "Os resgates estão triplicando", avisa. "As pessoas estão abandonados muitos animais. Antes eram só vira-latas, agora até animais de raça estão sendo jogados na rua porque estão doentes ou dão despesa", denuncia.

A professora e protetora Bruna Rajão, precisa de R$ 1,5 mil e criou uma vaquina on-line para pagar o tratamento da gatinha atropelada e abandonada Branquinha, que infelizmente faleceu. Ela já chegou a dever R$ 12 mil, e quitou a dívida por meio das doações, rifas e eventos. "As pessoas acham que fico sentada esperando doação, mas já fiz brechó, rifas, um almoço e um leilão de um anel de ouro que ganhei da minha amiga", relata.

Cuidado - Apesar da maioria dos protetores terem boas intenções, também existem os oportunistas. A protetora Laura Elis dá dicas para evitar cair em golpes. "Primeiro, é bom conhecer a pessoa que está pedindo as doações e saber toda a história do animal e como o dinheiro será aplicado. Também é legal pedir para doar diretamente na clínica", ensina.

A veterinária Ana Lúcia Salviatto diz que, dependendo dos clientes, a clínica tenta ser compreensiva. Mas, no final das contas, as dívidas precisam ser quitadas. "É uma questão de sobrevivência. Nós precisamos receber", avalia. "Existem alguns que sabemos que não pagam, aí não tem como atender. A situação se torna insustentável. Mas há protetores que temos confiança, sabemos que irão pagar", define.

Outra dica de Laura Elis é não tratar as ajudas como uma moeda de troca. "Tem gente que doa alguma quantia para ajudar, e depois acha que, por conta disso, nós protetores temos que estar sempre à disposição para qualquer resgate que apareça. Na verdade, ninguém trabalha com isso, a gente faz o que pode", conclui.

Quem quiser ajudar, pode clicar aqui para acessar a vaquinha da protetora Bruna.

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Ana Lúcia Montes com um dos seus 14 cachorros. (Foto: Acervo Pessoal)
Ana Lúcia Montes com um dos seus 14 cachorros. (Foto: Acervo Pessoal)
Bruna e seu gatinho resgatado, Bóris. (Foto: Acervo Pessoal)
Bruna e seu gatinho resgatado, Bóris. (Foto: Acervo Pessoal)
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